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Casos do ano: uma vitória eleitoral que virou derrota

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António José Seguro venceu as europeias, mas António Costa achou que não foi suficiente. O PS esteve numa luta interna e remodelou-se antes de chegar a ano de legislativas. Terá virado à esquerda ou Passos Coelho tem razão quando avisa que o socialismo ficará na gaveta num futuro Governo?

Depois de três anos a liderar a oposição ao Governo, o Partido Socialista atravessou em 2014 um dos momentos mais atribulados da sua história. A luta interna ente António José Seguro e António Costa arrastou-se durante meses e dividiu as hostes até ao limite. Por fim, quando tudo parecia acalmar, José Sócrates foi preso. E só no próximo ano saberemos o real impacto, tanto da sucessão como do processo judicial, nas eleições legislativas.

  Quando António José Seguro subiu ao palco, na noite de 25 de maio, para proclamar a «grande vitória» do PS nas eleições europeias, dificilmente adivinharia o que o esperava. Os socialistas arrecadaram 31,45 por cento dos votos, tendo deixado a coligação PSD-CDS a (apenas?) três pontos percentuais de distância. Em pouco tempo, várias figuras socialistas, entre as quais Mário Soares, começaram a reclamar um resultado insuficiente e, menos de 48 horas depois dos sorrisos eleitorais de Seguro, Costa mostrava-se disponível para a liderança do PS.   Depressa as tropas começaram a reunir-se: de um lado, os «seguristas» tentavam manter a liderança, do outro, muitas figuras consideradas «socráticas», como Vieira da Silva, Santos Silva e Jorge Lacão, pressionavam para a realização de eleições diretas e de um congresso. O braço-de-ferro prolongou-se durante semanas, até António José Seguro se decidir pela via das eleições primárias, abertas a simpatizantes. No entanto, estas ficaram marcadas apenas para 28 de setembro, prolongando o duro debate interno por todo o verão. Entre muitas críticas e uma tensão acentuada, destaque para o incidente em Ermesinde, que manchou a imagem que o partido queria passar para fora, e para os problemas em Braga, onde até os mortos podiam votar.   Ainda assim, as primárias acabaram mesmo por ser um sucesso de participação: cerca de 145 mil cidadãos inscreveram-se para votar. Juntando os cerca de 90 mil militantes, 235 mil pessoas puderam escolher entre Seguro ou Costa. Contados os votos, coube ao autarca de Lisboa ser o escolhido como candidato a primeiro-ministro, numa vitória clara, com 68 contra 32 por cento. O então secretário-geral demitiu-se, deixou de ser até deputado e nunca mais se viu. A ala «segurista», no entanto, continuou ativa dentro do partido, preparando desde logo listas únicas para apresentar ao congresso.   Só que, umas horas antes de António Costa ser eleito secretário-geral, José Sócrates foi detido no aeroporto de Lisboa e o PS ficou em choque. Recorde-se que, durante a campanha interna, tinha sido Costa a assumir a herança de Sócrates, ao contrário de Seguro. De repente, aquele que parecia ser o momento da consagração do novo líder do PS e, dizem as sondagens, o futuro primeiro-ministro do país, passou a ser um teste de fidelidade. A estratégia de António Costa foi clara desde o início: sem romper com o passado, tentar evitar o assunto para não prejudicar o partido. Ainda assim, a prisão onde se encontra Sócrates tem sido local quase de peregrinação por parte dos socialistas. E, apesar da ordem do secretário-geral, já várias figuras, como Soares e Almeida Santos, criticaram abertamente o processo.

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  Apesar dos sinais de unidade dados no congresso, este ficou marcado pelo «renascer» do peso do «socratismo» nos órgãos do partido e pela saída abrupta de Francisco Assis, que defende uma maior proximidade do PS com a direita, mas ouviu uma suposta «esquerdização» dos discursos dos dirigentes. PSD e CDS, aliás, reagiram ao congresso com um discurso de aproximação dos socialistas à extrema-esquerda. Só Passos Coelho lembrou que o PS pode mudar, recuperando «a velha teoria» do socialismo ser «abundante» na oposição, mas «ficar na gaveta» no Governo.   Certo é que, no discurso final desse congresso, António Costa recusou uma aliança com PSD ou CDS-PP depois das eleições, mas manteve a porta bem aberta à esquerda, pelo menos à esquerda mais próxima, através de vários elogios ao Livre.   Este partido formado em 2014, assim como outros movimentos que podem juntar-se ao Livre nas próximas legislativas, resultaram de várias cisões com o Bloco de Esquerda. A principal figura do novo partido, Rui Tavares, tinha sido eleito eurodeputado pelas listas do BE, mas saiu em rutura com Francisco Louçã. Também Ana Drago, Daniel Oliveira e Joana Amaral Dias se afastaram dos bloquistas e criaram movimentos que entretanto se aproximaram ao Livre, criando a expectativa de uma nova frente de esquerda que poderá significar, para o PS, a diferença entre vencer as eleições e passar a ter uma maioria absoluta no Parlamento.

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