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Passos e Sócrates num debate de papéis trocados

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Líder do PS levou para o frente-a-frente o projecto de revisão constitucional para questionar Passos sobre o seu programa, presidente do PSD desafiou-o a assumir as responsabilidades de seis anos de governação

Pedro Passos Coelho não é primeiro-ministro nem José Sócrates líder da oposição. Mas no debate televisivo desta sexta-feira à noite apareceram com papéis trocados. O secretário-geral do PS tentou empurrar o presidente do PSD para explicações sobre o seu programa, o presidente do PSD acusou o secretário-geral do PS de «não assumir responsabilidades» pela sua governação. No final concordaram que o partido que ganhar deve constituir governo.

Logo no início do frente-a-frente transmitido pela RTP, José Sócrates tentou a polarização ideológica: «A escolha que temos pela frente é esta: ou pretendemos responder a esta crise preservando o nosso modelo social ou pretendemos usar esta crise para pôr em causa o modelo social europeu». «A escolha entre PS e PSD reside, fundamentalmente, aqui», sentenciou.

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Esta foi a chave de leitura da estratégia de Sócrates para o resto do debate, que recuperou o tema da revisão constitucional proposta pelo PSD: «Propôs fundamental três mudanças: que se eliminasse a proibição do despedimento sem justa causa (...), propôs que Estado deixasse de ter obrigação de ter uma rede de escolas públicas (...) e, finalmente, propôs também que o Serviço Nacional de Saúde (SNS) deixasse de ser tendencionalmente gratuito».

Passos Coelho escudou-se. «O eng. Sócrates veio para este debate para ver se discutia o projecto de revisão constitucional do PSD. Depois atacou, usando o Estado Social: «Foi o primeiro primeiro-ministro que cortou salários na Função Pública, que mais reduziu as prestações sociais, que elevou os custos de acesso à saúde, diminuiu as comparticipações nos medicamentos, acabou com milhares de abonos de família».

José Sócrates forçou a agenda inicial. «Lamento muito que não queira falar do seu projecto de revisão constitucional, mas vai ter de o discutir». E acusou as propostas do PSD de terem como objectivo «romper com um consenso social na sociedade portuguesa e na Europa em relação às funções sociais do Estado». Passos Coelho respondeu, dizendo já conhecer a «técnica» de Sócrates em «querer fazer perguntas aos outros e discutir o que os outros pensam» e em recusar discutir as suas responsabilidades.

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Foi sempre nesta tensão, de uma aparente troca de papéis, que o debate se desenvolveu, com o tema do SNS a ocupar grande parte da primeira meia hora do debate. O líder socialista valeu-se do projecto de revisão constitucional, de artigos de jornais e até da biografia do seu adversário para o acusar de querer «por em causa o SNS» e a «igualdade de acesso» aos serviços. «Defende co-pagamentos na saúde», censurou-o.

«Os co-pagamentos existem na sociedade portuguesa», respondeu Passos, sublinhando que «30 por cento da despesa nacional em saúde é feita por privados», para salientar que «o Estado não faz cobertura universal». Sócrates insistiu: «O SNS é tendencionalmente gratuito e o senhor quer acabar com isso, mas quer acabar também com o carácter geral, isto é, com a ideia que o SNS deve prestar todos os cuidados de saúde que estão disponíveis na ciência médica».

«O senhor insiste em fazer este debate discutindo as minhas ideias», atirou Passos. «Gostava de ver da sua parte, neste debate, como em todos os que fez, discutir as suas responsabilidades como primeiro-ministro».

Os restantes temas foram sempre nesta tónica. Com Sócrates a pedir explicações programáticas a Passos e Passos a pedir a assunção de responsabilidades a Sócrates. Foi este o guião para a discussão das políticas relacionadas com o mercado de trabalho, das descidas na Taxa Social Única, da crise política e da crise financeira.

Uma coisa ficou clara. Durante a campanha, cada vez que Passos Coelho disser «bancarrota», José Sócrates dirá «maledicência». Depois dela, sobre quem assumirá o papel de primeiro-ministro, asseguraram os dois que será aquele que for mais votado.

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