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Gerúndio: decreto é «absurdo puro»

Linguistas discordam da proposta de um político brasileiro

O decreto em que um governador brasileiro «demite» o gerúndio é «irónico», para além de não se poderem «demitir ideias, objectos ou conceitos», salientam duas investigadoras do Departamento de Linguística da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, citadas pela Lusa.

Enquanto linguistas, as inquiridas consideram o decreto em questão como «absurdo puro».

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Clara Nunes Correia e Teresa Brocardo salientam também que o uso do gerúndio no Brasil e em algumas regiões do Alentejo e do Algarve é de certa forma um «traço conservador» do uso da língua, pois hoje, em português contemporâneo, a norma é dizer, por exemplo, «estou a ler» e não «estou lendo».

Desafiadas a comentar o decreto do governador Federal, José Roberto Arruda, que «demite» o uso do gerúndio, as investigadoras afirmam, numa resposta por escrito, que, como falantes do português, só entendem tal decreto como «irónico».

«O valor de continuidade de um determinado acontecimento linguístico é marcado de formas muito diferentes nas línguas naturais. Em Português, o gerúndio é apenas uma das formas a que temos acesso para construir esse valor», explicam as especialistas.

«Naturalmente que o que está em causa neste suposto decreto prende-se com o uso de uma forma gramatical que é entendida como característica sociológica de um determinado grupo de falantes, sub-entendendo-se uma crítica à não produtividade conclusiva das tarefas definidas. Só que este problema não é do foro da linguística ou da gramática mas das ciências sociais que estudam e caracterizam os grupos sociais e as suas dinâmicas».

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