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"Há alguns sinais recentes que nos devem alertar" para o risco de uma pandemia com a gripe das aves

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A Organização Mundial de Saúde já levantou receios sobre a propagação alarmante de uma estirpe do vírus da gripe das aves e no próximo fim semana será divulgado um inquérito internacional que revela que os cientistas acreditam que este agente viral será a causa de uma nova pandemia. O pneumologista Filipe Froes, que coordenou o gabinete da covid da Ordem dos Médicos, explica o que é que é este vírus e admite que se deve "estar preparado para o pior"

⁠O que é concretamente a Gripe das Aves?

Existem vários tipos e estirpes do vírus influenza, o vírus responsável pela gripe. Algumas destas estirpes infetam humanos (gripe humana) e outras estirpes infetam outros animais, nomeadamente aves (gripe aviária ou das aves). Há uma relativa especificidade de espécie em resultado da existência de recetores próprios para cada espécie. Os humanos apresentam predominantemente um tipo de recetor ao nível das células do aparelho respiratório diferente do das aves, mas alguns animais, por exemplo o porco, partilham estes dois tipos de recetores.

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Os vírus provocam sempre a mesma doença? 

Os vírus da gripe aviária podem dar diferentes tipos de doença nas aves. As estirpes virais aviárias associadas a doença mais grave denominam-se Highly Pathogenic Avian Influenza Virus (HPAIV), que se traduz para Vírus da Influenza Aviária Altamente Patogénica

Como se transmite a Gripe das Aves ?

A gripe das aves transmite-se, predominantemente, do mesmo modo que a gripe dos humanos, ou seja, por via aérea. A via aérea permite uma transmissão eficaz entre animais da mesma espécie e de espécies diferentes. 

Os cientistas dizem que será a causa da próxima pandemia. É uma certeza?

Os HPAIV são uma das maiores ameaças para futuras pandemias, o que obriga a uma permanente monitorização. Estão descritos casos em humanos com HPAIV há mais de 30 anos. O mais mediático ocorreu em Hong Kong, em 1997, por um subtipo H5N1 e levou ao abate em massa de mais de 1,5 milhões de aves.

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Para ocorrer uma pandemia é necessária a conjugação de três fatores:

  • a emergência na população humana de um vírus novo para qual a generalidade da população nunca tenha tido contacto e não haja imunidade
  • transmissão eficaz entre humanos, o que o obriga à capacidade de ligação eficaz aos recetores das células humanas
  • capacidade de provocar doença potencialmente grave

E esses fatores estão já conjugados?

Neste momento os HPAIV são vírus novos para os humanos e têm potencial de provocar doença grave. Só falta a transmissão eficaz, que pode ocorrer a qualquer momento.

Há alguma ideia de quando pode ser?

Pode ocorrer em qualquer altura, pelo que temos de manter uma vigilância constante e estar sempre preparados. Como se costuma dizer, geralmente ocorre quando menos se espera.

Teme-se que possa evoluir para um vírus diferente e mais perigoso?

O princípio cautelar e que orienta a preparação é sempre o mesmo: “Preparar para o pior, esperar o melhor”. Até porque quando estamos mais preparados, tudo corre melhor.

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Há alguns sinais recentes que nos devem alertar para um aumento do risco pandémico com o diagnóstico de casos de HPAIV em mamíferos, nomeadamente em vacas.

O vírus é parecido com o que provoca a  covid ou tem características totalmente diferentes?

A única semelhança com o vírus SARS-CoV-2 é a via de transmissão. Todas as outras características, tais como os grupos populacionais mais afetados e a gravidade irão sendo descobertas ao longo da infeção. Esta é uma das justificações para estarmos preparados para tudo e, necessariamente, para o pior.

O que se pode fazer para prevenir o pior?

A pandemia que terminou no ano passado ensinou-nos a utilidade preventiva das medidas de intervenção não-farmacológicas, nomeadamente, a máscara facial, a etiqueta respiratória, a higiene das mãos e o distanciamento físico. Estas medidas permitem-nos ganhar tempo para o desenvolvimento de uma vacina.

Há vacinas? Ou algumas em investigação?

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Em relação aos HPAIV já foram desenvolvidos vários protótipos de vacinas, com alguns testes de produção e segurança já realizados. Quando se souber qual a estirpe responsável pela pandemia, só será necessário incluir os novos antigénios nos protótipos vacinais já desenvolvidos. Felizmente, no caso dos HPAIV os medicamentos contra a gripe (por exemplo, o oseltamivir e o zanamivir) têm mantido a eficácia.

O que é que ⁠Portugal está a fazer para lidar com o tema?

O nosso país está incluído nas redes europeias e mundiais de vigilância, beneficiando ainda da partilha de decisões na UE. Se há um ensinamento que podemos e devemos implementar é manter as redes de reserva estratégica e aumentar a nossa autonomia em termos de fabrico de equipamentos de proteção individual, fármacos antimicrobianos e, idealmente, vacinas.

Qual é neste momento a maior preocupação da comunidade científica?

As duas maiores preocupações são sempre as mesmas: a desvalorização e a desinformação. A desvalorização condiciona atraso na preparação e na resposta e a desinformação, frequentemente associada à ignorância, prejudica a confiança na ciência, no conhecimento e na resposta dos organismos oficiais. Nunca devemos esquecer que as pandemias são um teste à nossa capacidade de viver em comunidade.

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