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Eduardo Lourenço: «Temos Europa a mais e não a menos»

Ensaísta diz que a identidade europeia é um conceito inventado

O ensaísta Eduardo Lourenço defendeu que a Europa não tem identidade como as nações, que se trata de uma construção e que «temos Europa a mais, e não a menos».

O Prémio Pessoa 2011 falava nesta terça-feira numa conferência intitulada «A Identidade Europeia», a última de um ciclo de 11 sobre «O Futuro da Europa» organizado pelo Instituto de Defesa Nacional, em Lisboa.

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«De algum modo, pode dizer-se que a Europa não tem identidade, no sentido em que as Nações a têm. Essa identidade é um projeto histórico, inventa-se a identidade, ela não é dada - é dada a cada um de nós individualmente, mas no sentido em que a tomamos, como um laço que congrega pessoas diversas, não existe como um dado, é uma construção», sustentou o ensaísta.

«O curioso é que nós não concebemos, neste estado em que estamos, que se possa ser mais europeu do que cada Nação é por si fora da Europa. Nós temos Europa a mais, e não a menos. O que nós queríamos era qualquer coisa que fosse de todos os Estados que constituem atualmente a Europa, que a Europa fosse uma Nação, e isso chama-se uma confederação ou uma federação», referiu Eduardo Louenço.

Historicamente, «uma federação supõe sempre um Estado qualquer que federa os outros, ou em função do qual os outros se federam» e Eduardo Lourenço pensou, «depois do fim da Segunda Guerra Mundial, quando foi lançado este projeto de construção europeia, que o eixo Paris-Berlim seria esse elemento agregador em torno do qual, depois, outra Europa se viesse agregar».

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Na sua opinião, «provavelmente, se se tivesse feito só a Europa a 12 ou a 15, um núcleo forte, verdadeiramente consolidado, a sua força seria tão grande que os outros haviam de juntar-se». «Assim, não se fez nem uma coisa nem outra», comentou.

O pensador, que tem uma cátedra de História da Cultura Portuguesa com o seu nome na Universidade de Bolonha, considera que «há, neste momento, uma grande tentação nos europeus, o chamado euroceticismo».

«Já passámos por uma fase eufórica, nos primeiros tempos. Ela teve o seu auge quando o euro foi criado, embora não se tenham posto todos os devidos cuidados nessa invenção: pensou-se se o euro existe, a Europa existe, o euro faz existir a Europa - e agora, ouve-se que a faz desistir», observou.

A primeira dificuldade que surgiu, embora já fosse esperada «é que a Inglaterra não aderiu a esse projeto». «E a gente percebe: quem foi, antes dos Estados Unidos, uma potência verdadeiramente mundial? A Inglaterra. A Europa era pequena para os ingleses. E de resto, de qualquer modo, eles sempre têm um pé num sítio e outro noutro - e nós também já fomos pezinho da Inglaterra, ou ainda somos, não sei», apontou.

Para Eduardo Lourenço, «neste momento, em que a construção europeia está meia suspensa, tudo depende da Entente Franco-Alemã». «E a Alemanha não precisa da Europa para nada - é uma coisa de que as pessoas precisam de se convencer -, ela é o centro desta Europa, por várias razões, boas e más, e precisa do mundo inteiro», frisou.

«Ela tem a Polónia, tem a Rússia e, um dia, manda passear outros europeus menos complacentes e avia-se com a Rússia e acabou-se a história. Consegue fazer aquilo que o Hitler e o Estaline sozinhos não fizeram», vaticinou.

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