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INEM: quando a vida é o mais importante

REPORTAGEM: Numa corrida contra o tempo, os profissionais do INEM fazem do dia-a-dia batalhas contra a morte. Nem sempre ganham a guerra. Mas no fim do dia sabem que deram o seu melhor. O PDiário acompanhou duas equipas do INEM, para descobrir o que vem a seguir ao pedido de ajuda

Ao toque do telemóvel, a reacção é imediata. Correr para o carro, cintos de segurança postos e arrancar a velocidade vertiginosa. Com sangue frio, o enfermeiro assume a condução, passando rente a outros automóveis e fazendo curvas que fazem os pneus chiar no asfalto. O médico, no lugar do passageiro, parece alheio à velocidade a que segue e já pensa no próximo caso: uma tentativa de suicídio.

Sete minutos é o tempo que levam do hospital Curry Cabral até à Bobadela, pelo meio de um trânsito de fim de dia. Ao chegar ao local, entre bombeiros, que foram os primeiros a acorrer ao local, e a VMER (Viatura Médica de Emergência e Reanimação), não é precisa grande conversa e as controvérsias são esquecidas.

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Os gestos automáticos de quem já lidou muitas vezes com a situação fazem lembrar um bailado, em que a coordenação faz com que ninguém atrapalhe ninguém. O estado da sexagenária que ingeriu 60 antidepressivos para pôr termos à vida já não os choca. O que é necessário é iniciar a limpeza do estômago, entubar e fazer de tudo para ganhar a luta contra a morte.

O trabalho acaba no SO do hospital. Mas, não tarda, o telefone volta a tocar. E mais uma vida espera para ser salva.

Um pedido de socorro ao 112 passa por vários caminhos, mas a resposta prima pela rapidez e eficácia. Quando o telefone toca, o pedido transforma-se automaticamente numa sinfonia orquestrada: o operador, com o curso de formação do INEM (Instituto Nacional de Emergência Médica), segue os protocolos para fazer a triagem do pedido de auxílio. Conversando com calma mas o mais rápido possível, aponta todas as informações necessárias.

O pedido segue para um dos dois médicos sempre a serviço no Codu (Centro de Orientação de Doentes Urgentes), que após autorizarem o envio de ambulância ou da viatura de emergência medica, passam o caso a quem de direito para enviar a viatura certa. E a sinfonia continua.

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A tomar um café para acordar, os sentidos ficam logo alerta quando o telemóvel toca. Depois de apontadas as indicações, a sinfonia volta a ser automática. Cada um assume o seu lugar, as sirenes são ligadas e a ambulância parte a toda a velocidade pelas ruelas de Lisboa.

Depois de galgar três lances de escadas, com um educado pedido de «dá-me licença» lá entram na casa da senhora de mais de 70 anos que se queixa: «nunca senti nada disto na minha vida». Com educação e simpatia, lá vão descodificando o que a senhora sente e recolhendo dados para o diagnóstico: «Minha querida, que remédios toma?».

Depois de uns exames preliminares, como medir a tensão e averiguar o nível de glicemia, a possibilidade de um enfarte obriga a um passeio até ao hospital. Depois de levarem a doente em braços durante os três lances de escadas, e acomodada na ambulância, o caminho não é longo até ao S. José e um dos tripulantes da ambulância está ao seu lado: «Minha linda, como se sente?».

Os passos seguintes do protocolo são inscrever a doente e passá-la aos médicos da urgência do hospital. Com uma festa na mão e um desejo de «melhoras», os dois tripulantes abandonam o hospital. Com uma palmada nas costas, trocam um «correu bem, não correu?».

E até o telefone tocar novamente, o que não demora muito, a troca de ¿graçolas¿ preenche o espaço, «que é para desanuviar», confessa Rui, que quando abriu o concurso para tripulante de ambulâncias do INEM não hesitou em deixar para trás uma carreira promissora de técnico informático para abraçar a profissão que até então era apenas «um serviço de voluntariado nos tempos livres».

«À noite, quando deito a cabeça na almofada, sinto-me leve porque sei que ajudei alguém», explica. «Nós damos tudo por tudo aqui. A vida é o mais importante. Combatemos uma luta diária contra uma coisa negra que está sempre a pairar sobre nós. E no fim do dia, quer tenhamos ganho todas as batalhas quer não, dormimos descansados porque sabemos que fizemos o nosso melhor», acrescenta João, em tempos militar, mas que hoje não troca a profissão por nada.

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