Um empresário de Marco de Canaveses foi alegadamente coagido por Avelino Ferreira Torres a comprar-lhe uma quinta por 350 mil euros, sob pena de não receber 1,25 milhões de euros que a autarquia lhe devia, sustenta uma acusação do MP, citada pela Lusa.
A coacção, segundo o Ministério Público, foi feita pelo ex-presidente da câmara a António Sousa Vieira, gerente da firma Vieira, Esposa e filhos, Lda., depois deste empresário ter recusado a proposta de um intermediário de Ferreira Torres, para aquisição da quinta por 200 mil euros.
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De acordo com a acusação, os factos remontam a 2001 e a quinta em questão é a Sorte da Vinhola.
Numa primeira fase, o negócio foi proposto por 200 mil euros, a pagar em dois anos, com a promessa de que o comprador poderia aproveitar a propriedade para construir uma urbanização.
O empresário, que se encontrava em dificuldades, recusou o negócio, descreve a acusação.
Empresário terá cedido a uma ameaça de Ferreira Torres
Mais tarde, Ferreira Torres contactou directamente António Vieira, dizendo-lhe que se não comprasse a quinta, já não por 200 mil euros, mas por 350 mil, não receberia, durante muito tempo, 1,25 milhões de euros que a Câmara Municipal do Marco de Canaveses de lhe devia.
Face ao ultimato, António Vieira acabou por aceitar o negócio, acrescenta o MP.
Os pagamentos, segundo o MP, foram feitos logo em 2001, mas o negócio só foi escriturado em 11 de Março de 2003, por 99.759,50 euros, ou seja menos 250 mil euros do que o valor realmente pago.
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Pouco depois, em 22 de Novembro de 2001, a firma de António Vieira recebeu da Câmara Municipal cerca de 641 mil euros, ou seja, metade do valor que a autarquia lhe devia.
Avelino Ferreira Torres vai a julgamento a partir de 20 de Fevereiro, estando acusado de um crime de extorsão, um de corrupção, um de peculato de uso e três de abuso de poder, relativo a este e outros casos.
Funcionário acusa Ferreira Torres de pressão
Um funcionário municipal de Marco de Canaveses, associado a negócios que vão levar a tribunal o ex-presidente da autarquia, Avelino Ferreira Torres, acusou o arguido de o pressionar para negar na Justiça o que dissera à Polícia Judiciária (PJ).
De acordo com uma declaração de José Faria, registada por escrito a 26 de Setembro de 2007 - no âmbito da instrução do processo consultado pela Lusa - Ferreira Torres chegou mesmo a sugerir ao seu ex-colaborador na autarquia como é que deveria explicar a pretendida alteração de testemunho.
Na declaração à Justiça, o funcionário municipal refere que Ferreira Torres o induziu a argumentar que tinha recebido ameaças de morte à sua neta, através de chamadas anónimas, antes de falar à PJ.
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Caso José Faria seguisse esta estratégia, Ferreira Torres pagava-lhe as dívidas fiscais que contraíra, acrescentou o funcionário municipal.
O assunto, segundo o depoimento, foi abordado em duas conversas, ambas na véspera do testemunho de José Faria: primeiro num café junto ao cemitério da freguesia de Tuías, depois junto à «sede do Célio», entendida como sendo a sede do CDS em Marco de Canaveses.
Nas conversas, citadas por José Faria, o ex-presidente da Câmara de Marco de Canaveses e actual vereador em Amarante assegurou que tinha falado com um juiz-desembargador de Vila do Conde, a pessoa que - segundo afirmava - daria a decisão final do processo.
O funcionário municipal, que não é arguido no processo, assumiu que sempre tratou do que o antigo presidente da câmara lhe pedia, mas que os negócios eram sempre fechados por Ferreira Torres.
O ex-presidente da Câmara de Marco de Canaveses está acusado pelo Ministério Público de um crime de extorsão, um de corrupção, um de peculato de uso e três de abuso de poder.
A primeira sessão do julgamento está marcada para 20 de Fevereiro.
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