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Militares portugueses acarinhados pelo povo afegão

REPORTAGEM: Quase 200 portugueses protegem todos os dias uma «população vítima da guerra». Afegãos plantam papoilas para sobreviver, «mas podiam plantar arroz se lhes pagassem mais». Afeganistão produz 80 por cento da droga consumida no mundo inteiro e exporta terroristas para vários países

É o país que mais acções terroristas exporta para todo o mundo. É nas suas aldeias que se cultivam 80 por cento dos opiáceos consumidos no ocidente. É um país de miséria e de crianças descalças. Mas um país «que vale a pena», garantem os portugueses - militares e civis - que ajudam a reconstruir um Afeganistão pobre, de estradas esburacadas e terras estéreis.

Em Cabul, a capital do país, circulam diariamente 50 viaturas blindadas portuguesas. A missão da ISAF - Internacional Security Assistance Force, liderada pela NATO, integra quase 200 homens e mulheres portugueses. Portugal é um dos membros da missão internacional, mas há militares de dezenas de países.

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«Há tropas de alguns países que quando as crianças afegãs se aproximam, apontam logo as armas. Nós fazemos questão de as acarinhar», explica o tenente-coronel Dores Moreira. O PortugalDiário testemunhou esta aproximação com o povo afegão numa patrulha no centro da cidade. À passagem dos blindados, os miúdos correm em direcção aos soldados, estes retribuem os sorrisos acanhados com uma garrafa de água ou outra pequena oferta.

«A população já nos conhece. Nós fazemos questão de alertar os militares para usarem sempre a bandeira portuguesa e a boina vermelha (dos comandos) para nos identificarem», acrescenta o comandante da companhia de comandos do Exército português.

O trabalho dos militares portugueses pode ser pouco rotineiro. «Já fizemos acções de prevenção para evitar desestabilização nos actos eleitorais e também já fizemos segurança a um jogo de futebol entre elementos da ISAF e uma equipa de juniores afegãos», descreve Dores Moreira. «Fazemos patrulhas, contactamos com a população para saber se há problemas, entregamos materiais», descreve o 1.º Sargento João Pereira, o comandante da patrulha que acompanhámos durante uma manhã calma num local onde horas depois viria a dar-se um atentado. «A principal ameaça é o lançamento de rockets, foguetes não guiados», por isso são também montados postos de observação, acrescenta Dores Moreira.

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Povo que vive da papoila

O Afeganistão produz cerca de 80 por cento da droga consumida no mundo inteiro. Há campos cobertos de papoila, sobretudo no meio rural. «Nas aldeias a papoila é a única forma de sobrevivência», explica o major José Afonso. O militar explica que «as pessoas não têm noção da gravidade da situação» e que nem se apercebem dos danos que a droga causa. «Eles plantam papoila e isso dá-lhes dinheiro. Mas se lhes dessem mais dinheiro pelo arroz, passavam a plantar arroz», aponta o comandante da 2.ª companhia de comandos.

Apesar da guerra, da pobreza, do terrorismo e da droga, Carla Duarte garante que «este é um povo que vale a pena». Esta civil trabalha há mais de dois anos no Afeganistão e foi responsável pelo processo eleitoral das eleições de 18 de Setembro. «Na minha área [talibã] tinha 200 mil eleitores e 119 candidatos», explica.

O pior momento que viveu passou-se no gabinete onde trabalha. «Colocaram uma bomba dentro do meu escritório, a 10 metros de mim», recorda. Apesar do engenho ter rebentado, Carla ficou para contar a história. E nem assim se cansa do povo afegão. «São pessoas fantásticas, por quem vale a pena trabalhar», conclui com um sorriso esclarecedor.

A mesma entrega pode ler-se nos rostos dos militares portugueses. «A população também é vítima da guerra. E os afegãos estão realmente fartos da guerra», remata o 1º Sargento João Pereira.

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