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«Se soubesse, nunca teria falado»

As vítimas querem seguir em frente. «Mas este malvado processo nunca mais acaba», lamentam

Catalina Pestana não tem dúvidas: «Alguns, mais lúcidos e críticos, se soubessem pelo que iriam de passar, não teriam falado». E porquê? «Não conseguem arrumar a cabeça. Por que todos os dias, e todas as notícias - que para nós passam com alguma indiferença - mexem lá no fundo, onde dói muito a quem passou pelas experiências traumáticas», garante.

André reconhece ao PortugalDiário que, talvez, a melhor opção fosse o silêncio. «Acho que teria de falar para não me sentir tão mal. Mas olhando para os dias de hoje, e para a forma como decorre o processo, talvez não tivesse falado».

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E o qual foi o momento mais doeu? «Reviver o passado. Tocar numa ferida que eu queria que fechasse e que acabei por ter de reabrir», assume André.

E o dinheiro?

«Alguns utilizaram o dinheiro bem, outros não o utilizaram de todo e outros utilizaram-no menos bem», conta Miguel Matias que faz questão de sublinhar que «eles não estavam à espera, nem queriam o dinheiro».

E recorda o que considera um bom exemplo de dinheiro bem gasto: «Um deles recebeu cerca de 50 mil euros. Pegou em 2500 euros e foi fazer uma viagem com a namorada. Foi a única coisa que gastou».

Já Catalina Pestana lamenta outros desperdícios: «Compraram uma "moto 4", outros compraram carros e apanharam multas permanentes por excesso de velocidade. Julgaram que tinham sofrido tanto, que agora só tinham direitos, não tinham deveres». Mas a ex-provedora deixou-se encantar com uma pequena casinha, «fora de Lisboa», que um jovem comprou com a ajuda «da avó».

E André? «Tenho uma parte guardada, mas o resto gastei. Comprei coisas que em pequeno sempre quis ter». Mesmo assim, garante, que nunca quis o dinheiro. «Não paga aquilo que me fizeram, nem tão pouco traz de volta o que me roubaram».

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«Está na mão dos juízes»

Os últimos cinco anos não trouxeram só dor e mágoa. André encontra um lado bom neste processo: «Tenho uma namorada, muito compreensiva, a quem posso contar tudo, mesmo a nível do processo. Com ela consigo desabafar».

E o que esperas do julgamento? «Está na mão dos juízes, cabe a eles fazer a avaliação. A minha parte está feita. Foi falar e relatar aquilo que aconteceu. A parte de julgar cabe a eles, não a mim».

Se antes a demora do julgamento o deixava revoltado, hoje Miguel Matias assume outra visão. «A justiça tem um tempo diferente da alma das pessoas. Em tempos fiquei revoltado porque o processo não andava e estava a demorar muito tempo. Agora creio que esse tempo foi preciso para ouvir toda a gente, ver tudo, ver debaixo do tapete, para não descurar uma migalha».

Leia aqui a primeira parte da reportagem. Casa Pia: a história das vítimas

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