Empresas do sector florestal contratam todos os anos brigadistas chilenos para prevenção e combate aos fogos. Utilizam um método muito diferente do usado pelos portugueses, e os resultados são visíveis. Guillermo Guzman, chefe da brigada helitransportada sedeada em Valongo, explicou ao PortugalDiário as técnicas chilenas.
Qual é o método que utilizam no combate aos fogos?
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Utilizamos ferramentas combinadas com água. Trabalhamos com uma viatura que transporta toda equipa (entre oito a dez pessoas), todas as ferramentas - enxadas, ancinhos, pás, motoserras - e ainda leva 2500 litro de água.
E como se processa o combate às chamas?
Quando chegamos a um fogo fazemos uma análise mediante as condições do fogo (intensidade, direcção do vento, humidade do ar) e os recursos que temos, e depois definimos a estratégia. Vemos qual é a superfície que está ameaçada no momento. Por exemplo, se temos dois hectares a arder, e temos 200 que ainda não estão afectados, não importa que os dois hectares ardam, o que importa é que não ardam os outros 200.
E como fazem para confinar o fogo a esse espaço?
Trabalhamos em cima do fogo. Fazemos valas, retiramos a matéria combustível - folhas, vegetação - para que o fogo, chegando até ali, não possa passar para o lado que ainda está verde. Sem combustível, o fogo não arde, por isso, fica confinado àquele perímetro. A superfície é menor, logo é mais fácil dominar o fogo. Então, usamos a água, para apagar as chamas.
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E dão o trabalho por terminado?
Não. Depois ainda é preciso garantir que não há reacendimentos. Quando se deita água, ficam sempre resíduos quentes que facilmente, com o vento e a temperatura, voltam a arder. Por isso, é preciso usar novamente as ferramentas. Retirar o que ainda é combustível, tapar com terra as cinzas quentes, para impedir que volte a arder. E depois fica sempre alguém a vigiar para poder intervir de imediato se o fogo recomeçar.
Então não têm muitos reacendimentos?
A taxa de reacendimentos nos fogos que combatemos com este método é muito baixa. Aliás, ainda não houve nenhum reacendimento, este ano, na área que defendemos.
É a primeira vez que está a trabalhar em Portugal?
Não. É o quarto ano consecutivo. Todos os anos há um processo de selecção, com testes médicos e físicos que permitem escolher os elementos que passam os três meses de Verão a trabalhar em Portugal.
Já combateram muito fogos este ano?
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Cerca de 85 ou 90 fogos em 70 dias. Este ano está a ser mais complicado. Com a seca, a mínima faísca despoleta um fogo.
Ao trabalhar aos lado dos bombeiros portugueses, já repararam que ele não actuam da mesma forma. . .
Cá em Portugal, os bombeiros só trabalham com água, que em fogos florestais é muitas vezes escassa. E há locais onde não conseguem chegar porque não há caminhos, e nós temos as ferramentas, conseguimos chegar a locais inacessíveis aos veículos. Também temos o apoio do helicóptero.
Acha que os portugueses beneficiavam se utilizassem o vosso método?
Tudo o que possa ajudar a diminuir o flagelo dos incêndios é benéfico. Por isso, os bombeiros portugueses só teriam a ganhar em experimentar e compreender o nosso método. Já é utilizado no Chile desde a década de 70, e todos os bombeiros e brigadistas do país, estejam ao serviço do estado ou de privados, recebem esta formação.
Cá dá-se mais importância ao apoio aéreo?
Os meios aéreos ajudam, mas não apagam todos os fogos. É preciso uma pessoa no chão a fazer o resto do trabalho. O helicóptero, o avião passa e apaga as chamas, mas fica sempre qualquer coisa, e quando a água evapora, volta a arder. E se formos embora, o fogo vai voltar, e temos que gastar mais meios para apagar o mesmo fogo. É muito simples: o helicóptero deita água, e nós vamos atrás a fazer o rescaldo.
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