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Setenta portugueses vítimas de burla

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Emigrantes compraram apartamentos em Gaia que estão hipotecados

Mais de 70 emigrantes portugueses em França foram vítimas de burla ao comprarem apartamentos em Portugal, há mais de dez anos, descobrindo agora que os imóveis estão hipotecados e com dívidas de milhares de euros, refere a Lusa.

O caso remonta a 1994, altura em que os mais de 70 emigrantes foram aliciados com a compra de apartamentos no edifício «Eça de Queirós», em Vila Nova de Gaia.

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Em Julho passado, esses portugueses descobriram que quando adquiriram os apartamentos, os imóveis estavam hipotecados, apesar de nas escrituras estar registado que a transmissão da propriedade estava a ser feita livre de ónus e encargos.

Agora, o banco que tem as hipotecas está a cobrar-lhes a dívida.

Carlos Branco, residente em França há 37 anos, foi um dos portugueses que achou que o edifício «Eça de Queirós» era um bom investimento.

«Comprei dois apartamentos, que paguei a pronto, num total de cerca de 125 mil euros. A escritura foi feita em 1994».

De acordo com o emigrante, «alguém meteu o dinheiro ao bolso porque, com o desconhecimento dos compradores, os apartamentos estavam e ainda estão hipotecados».

«O banco está agora a exigir-me o pagamento de 14 mil euros por um e 28 mil euros pelo outro», contou. «Foi um roubo que nos fizeram», acusou o lesado.

Pelo meio, a grande maioria dos compradores decidiu arrendar os apartamentos e entregou a uma empresa pertencente ao mesmo grupo da construtora a gestão dos arrendamentos, o que também se veio a revelar um mau investimento.

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«Depressa deixaram de me enviar o dinheiro das rendas. Houve cinco mil euros que nunca me pagaram, além de que também não pagavam o IRS, nem as contribuições autárquicas», relatou Carlos Branco.

«Foi uma burla bem organizada»

Situação semelhante aconteceu a Manuel Marcelino, que adquiriu na mesma altura um apartamento no mesmo edifício.

«Fomos iludidos. Agora o banco quer que eu pague uma dívida que não contraí. Também nunca recebi o dinheiro das rendas. Só mo deram durante uns dois ou três meses. Quando lhes perguntava pela renda diziam que o dinheiro era para pagar despesas, mas vim a descobrir que nunca pagaram condomínio, IRS ou contribuição autárquica. Em 2003 tive de pagar 3,5 mil euros para retirar essas dívidas», contou Manuel Marcelino.

O emigrante há 40 anos em França chegou a processar a empresa, que nunca lhe pagou a indemnização ordenada pelo tribunal.

Em ambos os casos, contudo, há a destacar algumas curiosidades: As empresas envolvidas (DRL-Propriedades e ObrasDomus - já falida - que geria os arrendamentos) eram do mesmo grupo; foi a mesma funcionária que fez todas as escrituras dos mais de 70 emigrantes lesados; a maioria deles não esteve presente no acto da escritura, tendo sido representado por um funcionário da DRL, a quem deram uma procuração.

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«Foi uma burla bem organizada para extorquir dinheiro aos emigrantes», afirmou Manuel Marcelino.

Pedro Antunes, presidente da Associação para a Defesa dos Migrantes (ADEM), que está a ajudar os portugueses afectados por este caso, explicou que a empresa DRL "contraiu dois empréstimos junto do então Banco Português do Atlântico e a garantia que foi dada foi a hipoteca do que futuramente viesse a ser construído».

«Isso é comum na construção, só que, na altura da venda, deveria ter sido entregue no notário um documento a comprovar que a hipoteca estava paga, o que é obrigatório. Neste caso, o notário ignorou a existência da hipoteca e procedeu ao acto de compra e venda», acrescentou.

Pedro Antunes sublinha ainda que a funcionária notarial que fez esses contratos e as escrituras foi «mais tarde reformada compulsivamente por causa de um processo disciplinar e foi contratada para trabalhar na DRL».

Apesar das tentativas, não foi possível obter esclarecimentos da empresa DRL-propriedades.

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