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«Já era tempo de Portugal perder o complexo de inferioridade»

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A historiadora espanhola María Pilar Queralt del Hierro garante que Espanha não vê Portugal como território a colonizar e acredita que as relações entre os dois países se vão estreitar

María Pilar Queralt del Hierro é historiadora, escritora e é espanhola. A nacionalidade e a língua não a impedem de ser «absolutamente fascinada», como ela própria diz, pela História de Portugal e pela figura da Rainha D.Inês. Foi nomeada membro honorário da Fundação Inês de Castro, em Coimbra, o que a enche de orgulho.

A propósito do mais recente livro a ser lançado em Portugal, «As Mulheres de D. Manuel», em entrevista ao tvi24.pt, María Pilar Queralt del Hierro critica Portugal e Espanha por sempre terem cultivado um certo afastamento. A historiadora diz que Portugal tem de perder o sentimento de inferioridade e ter paciência, porque esta crise económica, como muitas outras que a História já trouxe, também há-de passar.

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O que é que a fascina tanto na História de Portugal?

Comecei por interessar-me por Inês de Castro. Descobri uma História muito parecida com a espanhola e que somos absolutamente paralelos. Intrigou-me como era possível que dois países vizinhos não tivessem mais conhecimento mútuo.

O seu livro «Inês de Castro» valeu-lhe uma nomeação para a Fundação com o mesmo nome. Como é que encara essa distinção?

Fiquei muito contente. Sinto-me muito vinculada à Fundação e à Quinta das Lágrimas, que é um lugar místico.

A Maria Pilar é Historiadora. E os historiadores estudam o passado para compreender o presente e, de certa forma, antever o futuro. Pergunto-lhe: qual será o futuro das relações entre Portugal e Espanha?

Sendo vizinhos, é muito provável que as relações se tornem mais estreitas. Na verdade, já o somos. Há uns anos, havia mais divergências.

Em Portugal, existe um pouco a visão de que os espanhóis nos estão a colonizar...

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Esse é o problema.

Essa visão existe em Espanha?

Não. Há um respeito enorme pela idiossincrasia portuguesa. Nunca se viu Portugal, pelo menos nos tempos recentes, como um território a colonizar.

Acha que algum dia os portugueses vão ultrapassar esse sentimento de inferioridade?

Já seria hora de o perder porque, na verdade, Portugal é um grande país. Por vezes, falta-lhe auto-confiança, mas é uma grande nação, que dominou o mundo.

Que lições pode Portugal tirar da sua História para ajudar a ultrapassar a crise económica?

Da História, podemos tirar sobretudo uma lição: tudo passa. Não foi a primeira nem será a última crise. Há que ter esperança no futuro e pensar que se outras crises já passaram, esta também há-de passar.

Um dos seus livros mais recentes, que ainda nem foi editado em Portugal, «Mujeres de Vida Apasionada», trata temas muito actuais. Um deles é a violência de género...

É um tema muito actual, porque agora se vê como um crime. Felizmente, agora cataloga-se de delito o que antigamente era um costume: a mulher estava absolutamente submissa ao homem. Não era uma violência física, mas uma violência psicológica. Finalmente as mulheres disseram «basta».

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Porque decidiu escrever um livro sobre as mulheres de D. Manuel?

Foi uma casualidade. Estava à procura de outra coisa num arquivo em Madrid e encontrei uma carta de um embaixador espanhol da corte de D. Manuel, na qual ele descrevia uma festa com tal esplendor, com tal luxo que me fascinou. Então comecei a indagar e descobri as três esposas que tinha tido. E reparei que em torno destas mulheres se desenvolveram todas as teias políticas da altura.

D. Manuel era um homem que tratava bem as mulheres ou era um homem de paixões fáceis?

Tratava bem as mulheres. Ele foi um caso raro ou mesmo único no seu tempo e, se calhar, até na História de Portugal: não se lhe conhecem amantes ou filhos bastardos. Amou perdidamente as suas esposas e nessa estabilidade emocional encontrava a força para ser o homem ambicioso que foi.

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