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Alentejo: um quinto dos idosos sem dinheiro para comida

Envelhecimento da população está a acontecer sem os cuidados adequados como um dos problemas mais graves do país, revela o Observatório de Saúde

Um quinto dos idosos no Alentejo afirma não ter dinheiro para se alimentar, revelaram esta quarta-feira responsáveis do Observatório de Saúde, apontando o envelhecimento da população sem os cuidados adequados como um dos problemas mais graves do país.

A denúncia foi feita durante uma audição na Comissão Parlamentar de Saúde, requerida pelo BE e pelo PS, para «esclarecimentos sobre o Relatório da Primavera 2014».

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Os coordenadores do Observatório Português dos Sistemas de Saúde (OPSS) Ana Escoval e Manuel Lopes apontaram a população idosa e a saúde mental como dois dos assuntos mais «graves» e a necessitar de respostas urgentes.

Sobe os idosos, Manuel Lopes revelou aos deputados da comissão que «alguns grupos de investigação estão a estudar os idosos e dizem que o que está a acontecer no Alentejo é que 20% destas pessoas afirmam que não têm dinheiro para se alimentar adequadamente».

Outro aspeto sublinhado é que para a população com mais de 75 anos a questão da difícil autonomia e necessidade de ajuda é «muito grave».

«Há pessoas enclausuradas em casa há muitos anos, em prédios antigos sem elevador, e sem cuidadores. Isto é um problema muito grave. Preferimos alimentar a indústria do betão do que dar a possibilidade de as pessoas se manterem em casa», afirmou o responsável, citando duas recentes teses de doutoramento sobre esta realidade nos bairros históricos e Lisboa e do Porto.

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O coordenador do OPSS salientou ainda que nos casos em que os idosos têm cuidadores, estes são frequentemente pessoas de idade idêntica, com dificuldades idênticas e em exaustão.

Relativamente ao problema da saúde mental, os responsáveis mostraram-se particularmente preocupados com a falta de recursos humanos para cuidar destes doentes e com o tempo de espera entre o aparecimento dos sintomas e o início dos tratamentos.

O tempo que medeia o início dos sintomas, a primeira consulta e o começo dos tratamentos «está acima de todas as médias europeias» e está a aumentar, disse, considerando este um dado de «enorme importância que precisa de ser considerado».

Ana Escoval apontou ainda o facto de os hospitais serem financiados em função do número de camas, ficando sem meios para fazer o acompanhamento domiciliário, os tratamentos na comunidade.

Para ilustrar a falta de recursos humanos nesta área e a incapacidade de contratar alguém, a mesma responsável contou que num hospital do Norte foi dada ordem para encerrar o serviço de psiquiatria no mês de agosto.

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O serviço só não fechou, porque os profissionais se organizaram e voluntariaram para conseguir manter a unidade em funcionamento, não acatando a ordem superior de encerramento, contou.

Para a responsável este é um dos casos que se passam nas unidades do Serviço Nacional de Saúde e que são sintomáticos do estado de exaustão em que se encontram os profissionais e para o qual as ordens dos médicos e dos enfermeiros têm vindo a alertar.

Manuel Lopes salientou que os serviços de saúde mental e de psiquiatria que o país tem são «muito maus», frisando que «em toda a região sul não há resposta nenhuma para a área da saúde mental«.

Nesta audição, os deputados limitaram-se a tecer considerações sobre o conteúdo do documento, com os partidos da esquerda a sublinhar as conclusões do relatório e os deputados da direita a acusarem o observatório de ser movido por interesses político-partidários.

Teresa Caeiro, do CDS, disse mesmo que o relatório é um «canhenho de subjetividade», a pretender fazer literatura em vez de apresentar propostas.

Em resposta, Manuel Lopes afirmou que a «acusação de subjetividade a pessoas que se preocupam com investigação é das coisas mais ofensivas que se pode dizer».

Ana Escoval quis deixar claro que «isto não é para fazer panfleto político, é para chamar a atenção das pessoas, fazendo-o com base na evidência científica existente».

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