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Sem-abrigo sonha com um «camisolão» (vídeo)

Quem vive na rua, não se intimida com o frio. Os dramas de vida pesam mais. Mas esperam que lhes ofereçam cobertores

As temperaturas negativas que se aproximam da capital portuguesa não intimidam os sem-abrigo que, já habituados ao frio da noite, fazem da cidade as portas das suas casas.

Carlos Rocha, 71 anos, mora na rua desde 1992 e desde então que faz das roupas e dos cobertores oferecidos por Organizações Não Governamentais os companheiros de uma luta contra o frio, que perde muitas vezes. Demasiadas.

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Hoje mora na rua António Pedro, perto do jardim Constantino, local onde todas as noites vai buscar a comida que lhe aquece o estômago, mas «noutra vida» até já foi pintor nas horas livres.

«Vim morar para a rua porque calhou. Morreu a minha mulher e a partir daí foi assim», disse o idoso, após beber o copo de sopa oferecido pela «Dona Natividade», uma voluntária que há 18 anos se juntou ao Exército da Salvação, e que três dias por semana distribui comida e «palavras amigas» aos sem-abrigo da capital.

Marcado pelas dificuldades que a vida nas ruas traz, Carlos Rocha já não se recorda quando conheceu a mão amiga da voluntária, que se orgulha da sopa «verdadeira e consistente» que oferece aos sem-abrigo.

«É com grande amor que nós fazemos este trabalho. Normalmente distribuímos sopa, pão, iogurtes e fruta, quando temos», disse à agência Lusa Natividade que, a cada ronda oferece 250 copos de sopa aos sem-abrigo.

Com a vaga de frio às portas da cidade, a câmara municipal de Lisboa já activou o plano de contingência para apoiar estas pessoas, prevendo o reforço da distribuição de comida e bebida quentes, agasalhos e mais 30 camas para pernoitar.

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«Vou agarrar-me ao cartão»

Com o olhar carregado pelas dificuldades que atravessou nos últimos 16 anos, Carlos Rocha, já habituado a dias de frio de outros invernos, espera receber roupa quente que o ajude a passar as próximas noites.

«Tenho que arranjar um camisolão», disse o sem-abrigo, acrescentando que, com a chegada da vaga de frio, o que há a fazer passa por agarrar-se «ao cartão» que lhe faz de cama num passeio bem perto da Almirante Reis.

«É muito difícil sair das ruas«

Mas nem sempre as pessoas que recorrem ao auxílio dos voluntários das ONG se encontram a viver nas ruas. É o caso de Fernando, que, embora já tenha feito das ruas a sua residência «durante tanto tempo», hoje, graças ao subsídio de reinserção social, consegue alugar um quarto.

«É muito fácil entrar na vida das ruas mas é muito difícil sair. Já não tenho muitos sonhos, agora só quero ir devagarinho», disse o antigo sem-abrigo.

Na noite de terça-feira os quatro voluntários do centro de acolhimento do sem abrigo de Xabregas distribuíram 250 sopas no jardim Constantino, nos Anjos, no Regueirão dos Anjos, na Praça do Comércio e em Santa Apolónia.

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Este auxílio é sempre bem recebido por aqueles que mais precisam, quer seja através de comida, de roupas ou simplesmente de uma palavra amiga.

«Chelas» já perdeu a conta há quantos anos dorme nas ruas, mas é com orgulho que mostra o colchão onde pernoita com «amigos» nos Anjos. Humanista por convicção, Chelas vê na Dona Natividade uma amiga, mais não seja pelos conselhos que recebe, mais uma vez, para aproveitar a vaga de frio que se aproxima e regressar a casa, para junto da família.

Próxima paragem: Regueirão dos Anjos. De acordo com a voluntária do Exército de Salvação este é o local onde os toxicodependentes sem-abrigo se concentram.

Uma rua escura mostra os traços de uma vida alternativa: seringas convivem com colchões e camas de cartão que, às 21:30 já estavam compostas pelos seus «inquilinos» habituais.

«Hoje em dia já vemos muitos sem-abrigo jovens. Raparigas de 13 e 14 anos, algumas delas grávidas, costumam vir pedir-nos comida e agasalhos», referiu uma das voluntárias, enquanto olhava para algumas das cinco pessoas que dormiam naquela rua.

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