Uma «força de interposição» para a Guiné-Bissau não deve integrar militares de Portugal, Angola e países vizinhos e provocará «um conflito militar complicado» se avançar «contra as forças armadas guineense», alerta o analista Fernando Jorge Cardoso.
A criação de uma «força de interposição» consta da resolução aprovada pela Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), em Conselho de Ministros extraordinário realizado no sábado, em Lisboa, tendo a organização lusófona pedido ao Conselho de Segurança das Nações Unidas para aprovar o mandato internacional necessário a desencadear esse processo.
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Realçando que a CPLP não tem mandato para ações militares, o analista considera que a resolução adotada foi, «sem dúvida, mais vincada» do que as anteriores.
Sobre a composição da «força de interposição», Fernando Jorge Cardoso diz que se exige «cuidado» com as «sensibilidades regionais».
«Deverá integrar uma parte substancial de forças da CEDEAO [Comunidade Económica dos Países da África Ocidental]», mas ser, preferencialmente, dirigida por militares de «fora de África», defende o especialista em assuntos africanos do Instituto de Estudos Estratégicos e Internacionais.
«Angola e Portugal deverão ser os últimos países a colocarem militares seus no terreno», desaconselhando-se ainda a inclusão de soldados dos países vizinhos.
O último golpe de Estado na Guiné-Bissau, ocorrido na quinta-feira e levado a cabo por um autointitulado comando militar, «não é diferente» dos anteriores e está relacionado com «o problema de sempre»: o processo de desmobilização e reintegração das forças armadas guineenses.
O problema continua a ser a «incapacidade de o poder civil poder exercer a governação sem ser sob a tutela dos militares», resume o especialista. É «um problema detetado há muito tempo» e que já foi objeto de «um conjunto de intervenções externas».
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