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Uma brasileira quase portuguesa

«Vocês cá têm novelas brasileiras, música brasileira e cultura brasileira, nós, no Brasil, temos o Roberto Leal e pouco mais»

Carla Lima tem 27 anos e vem de São Gonçalo, do outro lado da ponte no Rio de Janeiro, mas nunca conheceu o Cristo Redentor. Terminou os estudos, tentou entrar para a universidade mas não passou nos exames. Aproveitou o convite de uma prima, que já vivia em Portugal há 13 anos, para embarcar na aventura. «As oportunidades não se perdem», explicou esta brasileira adaptada a terras lusitanas.

Recebeu o convite em Março, quando a prima foi de férias ao Brasil, e em Maio já estava em Famalicão. Veio trabalhar para uma fábrica de gangas e ao fim de seis meses conseguiu legalizar-se. Agora, a trabalhar numa empresa de carnes, faz um balanço positivo de sete anos a viver em Portugal.

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A primeira dificuldade que encontrou foi o «idioma», porque apesar de o português ser língua comum, os sotaques, as pronúncias e o vocabulário são diferentes. «Muitas vezes ligava a televisão e não percebia nada», conta. «Eu morava no centro de Famalicão e tinha medo de ir à feira porque, se me perdesse não sabia o que fazer, não sabia a quem perguntar já que não percebia nada», recorda Carla.

«Vocês têm novelas brasileiras, música brasileira e cultura brasileira, nós, no Brasil, temos o Roberto Leal e pouco mais», ironizou. O clima também foi uma grande barreira para a carioca que, no primeiro ano, andou seis meses constipada. «Venho de um país de 40 graus, curava uma gripe e a seguir já tinha outra, ainda demorou algum tempo para me habituar».

Prima fez-se passar por tia para impedir que Carla fosse deportada

A vinda para Portugal não foi fácil. Logo à chegada ao aeroporto sentiu na pele a discriminação, de que as mulheres brasileiras são vítimas. «Eu vim sozinha e a minha prima estava cá à minha espera. Menina nova, vinha do Brasil sozinha, não tinha em dinheiro o valor recomendado e por isso fui logo bombardeada com perguntas». «Tive que mentir. Disse que a minha prima era minha tia, tínhamos o mesmo sobrenome, e que vinha passar férias».

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Carla foi acompanhada pelas autoridades até à saída do aeroporto, onde teve que comprovar a presença da «tia». O agente obrigou-a a assinar um documento, em como se responsabilizava por Carla e garantia que a «sobrinha» regressaria ao Brasil, depois do tempo regulamentar. E foi assim, que a «tia» de Carla fez com que não fosse deportada.

De há sete anos para cá o tratamento aos imigrantes mudou muito

«Quando cheguei à confecção as pessoas pisaram-me um pouco, mas eu também tinha medo dos portugueses, não tinha defesas. Apesar de ter feito amigos estava sempre com o pé atrás», explicou.

Depois de algum tempo em Portugal, Carla chegou à conclusão de que os brasileiros imigrados são um pouco egoístas, «os brasileiros cá não são tão unidos como no Brasil. Não é que não nos ajudem mas pensam sempre, "se eu sofri você também tem que sofrer", e acabam por nos fazer sentir sozinhos».

Já estava há algum tempo em Portugal quando começou a fazer BTT e com as bicicletas veio o convívio. «Muitas vezes vou a convívios de BTT, maioritariamente frequentados por homens, e eles sempre me respeitaram. Acho que o povo português sabe respeitar».

Depois de estar a trabalhar, optou por estudar e começou um curso profissional na escola DIDAX, «vim do Brasil com o objectivo de dar continuidade aos meus estudos». Carla tem um sonho, o sonho de poder um dia frequentar o curso de engenharia para poder, mais tarde, trabalhar numa refinaria.

É uma carioca que não gosta de praia e, por isso, afirma muitas vezes ser uma «falsa brasileira». Prefere o monte, o campo e está apaixonada pelo Gerês. Conhece muito de Portugal através dos convívios de bicicleta e não se importava de ir viver para Lisboa porque, apesar de não conhecer o Cristo Redentor, conhece o Cristo Rei. Quanto à hipótese de voltar para o Brasil para já, pelo menos, Carla não pensa nisso, até porque estás prestes a pedir a cidadania portuguesa.

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