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Greve Geral: grito de revolta de efeito duvidoso

Investigadores sociais têm dúvidas sobre a sua eficácia

Grito de revolta, simbólica ou de efeito duvidoso são diferentes modos como vários cientistas sociais ouvidos pela Lusa encaram a greve geral convocada para quinta-feira pela CGTP, a maior central sindical portuguesa.

O professor catedrático de filosofia Viriato Soromenho Marques mostra-se pessimista quanto aos efeitos da iniciativa, pelo «desgaste» que provocará nos meios sindicais que a subscrevem para obter uma «eficácia muito duvidosa».

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Uma greve geral é uma iniciativa «demasiado séria para ser usada com muita frequência. Veja-se o caso da Grécia: muitas greves e efeitos nulos», considera, aludindo ao facto de esta ser a segunda paralisação geral convocada no espaço de cinco meses em Portugal.

O politólogo e sociólogo André Freire afirma que não se pode negligenciar os efeitos da jornada, mas acha que são «sobretudo simbólicos», já que não há objetivos específicos a atingir com a iniciativa da que será a oitava greve geral realizada no país desde a restauração da democracia em 25 de abril de 1974.

Admitindo que possa haver um «efeito psicológico sobre o outro lado» ¿ o Governo -, a paralisação, diz, evidencia «o problema do sindicalismo português, que não define objetivos nem meios para o conseguir».

O diretor do Departamento de Sociologia da Universidade de Évora, Carlos Alberto da Silva, fala numa «greve muito vaga» que, «mais do que um grito de revolta, será uma chamada de atenção».

Soromenho Marques, docente na Universidade de Lisboa, adverte mesmo que a greve pode tornar-se num «fator de maior austeridade e vir a ser o que uma greve geral não deve ser», levando os aderentes a ver reduzidos os seus já escassos rendimentos do trabalho.

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Tanto mais porque não reuniu o apoio da outra central sindical, a UGT, como aconteceu a 24 de novembro passado, revelando uma «separação de águas que diminui a eficácia» da iniciativa, sustenta o filósofo.

André Freire acrescenta ainda à perda de um dia de salário o risco dos aderentes perderem o posto de trabalho como retaliação das entidades patronais, dada a precariedade que impera cada vez mais no mercado de trabalho.

E depois, se o objetivo são «recuos» na política do Governo, «não basta uma greve geral de um dia», e aí regressa de novo o «problema de fraqueza do sindicalismo português», que «não define objetivos» concretos e luta por eles até se realizarem.

Greves «cirúrgicas», como na transportadora aérea TAP ou nos médicos, acabam por ser mais eficazes, considera o professor do Centro de Investigação e Estudos de Sociologia do ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa.

O seu colega da Universidade de Évora entende a atitude da CGTP como uma «resposta à avaliação da troika» cujo conteúdo é: «Não coloquem mais pressão sobre os trabalhadores».

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Mas Carlos Silva questiona também o momento da paralisação, considerando que os sindicatos deveriam aguardar para ver o resultado de algumas medidas sociais implementadas e perceber «se estão a surtir efeito».

Viriato Soromenho Marques vai mais longe e acha que uma ação deste género, desenvolvida num único país, não atinge o centro decisor que está na Europa, mais concretamente na capital alemã.

Os sindicatos deviam estar a apostar em ações conjuntas com outros países e «enfrentar a crise onde estão as suas raízes, que é na europa».

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