Já fez LIKE no TVI Notícias?

Antibióticos: relatório aponta «catástrofe» global à vista

Aumento alarmante para infeções bacterianas resistentes a tratamentos.

Uma «ameaça de proporções catastróficas» para a população. É assim, com uma fórmula deliberadamente chocante, que um relatório da Direcção-Geral de Saúde britânica, divulgado nesta segunda-feira, alerta para o aumento dos casos de infeções causadas por bactérias resistentes a antibióticos.

O relatório assinado pela diretora-geral (Chief Medical Officer), Sally Davies, assume a necessidade de uma atuação concertada a nível mundial. E define como prioridade máxima a diminuição na prescrição de antibióticos, bem como o desenvolvimento de novos medicamentos. Se isso não acontecer, alerta Davies, o cenário de infeções hospitalares generalizadas pode fazer com que os sistemas de saúde enfrentem valores de mortalidade hospitalar semelhantes aos verificados no século XIX.

PUB

«A resistência aos agentes antimicrobianos é uma ameaça catastrófica. Se não agirmos agora, dentro de 20 anos qualquer internamento hospitalar pode resultar numa infeção sem tratamento», admitiu a responsável pela saúde pública no Reino Unido. «Organizações mundiais, como a Organização Mundial de Saúde e o G-8 devem levar este assunto muito a sério», reforçou Davies.

Segundo o relatório, são já cerca de 5 mil pacientes a morrer anualmente no Reino Unido devido a infeções bacterianas que são resistentes aos antibióticos. O número tem aumentado substancialmente devido a mutações em bactérias como a E-Coli e a Klebsiella, que as tornam resistentes aos tratamentos convencionais.

Além da prescrição abusiva de antibióticos, outro problema detetado pelo relatório prende-se com a falta de novos fármacos, capazes de anular as mutações bacterianas, que ao fim de algum tempo as tornam resistentes aos antibióticos. Por falta de investimento na investigação por parte das companhias farmacêuticas, não há, desde 1987, registo de uma nova classe de substâncias que renove o espectro de antibióticos disponíveis, aponta o documento. «Nas últimas duas décadas houve um vazio em redor da descoberta de novos antibióticos, o que quer dizer que as doenças estão a evoluir mais depressa do que os tratamentos», confirmou Davies.

Esta posição das autoridades sanitárias do Reino Unido segue-se a outras manifestações de alarme vindas dos Estados Unidos, pondo ênfase no facto de o abuso de antibióticos não só contribuir para as mutações nas bactérias mas também tornar o sistema imunitário mais vulnerável a novas doenças. Além da prescrição abusiva de antibióticos para combater doenças que não o necessitam, também a entrada das substâncias na cadeia alimentar - usados por criadores de animais para evitar doenças, acabam por ser ingeridos pelos humanos ¿ contribui para este problema.

Segundo um estudo do Centro Europeu para Prevenção e Controlo das Doenças, em 2010 Portugal era o 7º país, entre os 27 da União Europeia, com consumo mais elevado de antibióticos por habitante, numa lista liderada pela Grécia e por Chipre. Na cauda da tabela, estavam as repúblicas bálticas, Estónia, Letónia e Lituânia, e ainda a Holanda, com médias de consumo equivalentes a metade da portuguesa.

PUB

Últimas