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Mães desempregadas: o desafio que é pôr comida na mesa (Parte I)

Conheça as histórias de Ana Paula, Adriana e Susana e de mais 41 mil mulheres em Portugal

Susana, Ana Paula e Adriana são mães e desempregadas. Três casos que são o retrato de milhares de mulheres em Portugal. Estas são as histórias das mães «coragem» do século XXI. Estas são mães «heroínas», longe de guerras, mas que travam uma luta diária: pôr comida na mesa para os filhos.

Mãe solteira com «uma menina de oito e um menino de 13», Ana Paula Guedes, de 47 anos, quase perdeu a conta ao tempo que está desempregada. «Há muito tempo, tinha o meu garoto oito ou nove anos». Este foi o corolário de uma situação que já vinha sendo precária porque «quando ficou grávida da pequenina perdeu o posto de trabalho» de empregada de limpeza. Contas feitas, Ana Paula está desempregada há cerca de quatro anos. As contas lá em casa são outras. Recebe 200 euros do Estado, a que soma «80 dos abonos» e «47 euros das limpezas» a trabalhar meia hora por dia num centro comercial de Bragança, Já as despesas são muitas, desde alimentação, água, luz, gás e os «11 euros de renda» da habitação social. «Estico, estico, até não dar mais». E muitas vezes não dá: «Às vezes, faltam aquelas pequeninas coisas, como o pacote do leite ou o iogurte», conta Ana Paula Guedes, mas os filhos não passam fome. «Tiro muitas vezes de mim para dar a eles».

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Palavras que parecem tiradas da boca de Adriana Silva, 40 anos, a morar na Serra das Minas, em Sintra. «A gente vai fazendo muito mais por eles do que por nós». De quem Adriana nunca se esquece é das filhas, de 13 e 15 anos, que deixou na Baía com os avós. Nunca mais esteve com elas, «vai fazer seis anos», quando saiu do Brasil com um sonho», de «conseguir uma vida melhor». Mas, a vida «complicou-se». Uma gravidez não planeada trouxe-lhe o Pedro, agora com quatro anos, mas deitou o sonho por terra. Ganhou outra vida, sem «esquecer a vida que ficou para trás».

Desempregada há mais de dois anos, com os mesmos «200 euros» de rendimento social de inserção que Ana Paula, Adriana contribui com «180 euros» para a renda da casa da «comadre», uma portuguesa que a acolheu. Este mês vai conseguir receber 45 euros de abono [do Pedro] ao fim de dois anos. O pai do filho em «nada» contribui. Por isso, depois, depois faz milagres, «brigadeiros, bolos e salgados» e alguns trabalhos esporádicos em empresas de catering que lhe vão dando para «mandar dinheiro» para o Brasil. «Tenho que ajudar os três». E mais não há: «Ninguém dá trabalho a uma mulher de 40 anos».

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As histórias de Ana Paula e Adriana não vêm descritas nos quadros do Instituto Nacional de Estatística. Lá são só números. E há milhares de números com histórias como estas. Mulheres, mães e desempregadas. Segundo os dados do Censos 2011, há 416 343 mulheres a viverem sozinhas com os filhos. Destas, 41 mil estão desempregadas.

Parte II: A história de Susana, mãe licenciada no desemprego

Uma realidade que as instituições de solidariedade social conhecem bem. A Cáritas de Bragança apoia 133 famílias de mães divorciadas ou solteiras, em que a maioria está «desempregada» ou com trabalhos «muito precários». «Todos os meses temos novos casos» de famílias que não conseguem pagar as contas, diz Joaquina Ramos. Estas mulheres pedem ajuda para pagar «luz, água, gás, medicamentos». É por isso que Joaquina Ramos não tem dúvidas em chamar-lhes «heroínas», umas «lutadoras que passam por muito sofrimento e muita angústia».

O filho de Adriana Silva frequenta o jardim de infância do Centro Comunitário e Paroquial do Alto do Forte, e faz lá grande parte das refeições. Pode faltar dinheiro às mães, mas a coordenadora, Lídia Leal, não tem dúvidas em afirmar estas crianças «não têm carências afetivas». São «crianças bastante cuidadas», de mães que se «preocupam e acompanham os filhos». Mulheres que «são uma força da natureza. São mães coragem».

Voz embargada, Adriana deixa o seu desejo para este Dia da Mãe: gostava de «comer a comidinha da minha mãe. Fechar os olhos e acordar no Brasil».

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