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Eutanásia: "Não desejo a morte. Desejo é o respeito”

Francisco Crespo, médico a favor da eutanásia, e Manuel Pedro Magalhães, médico contra a morte medicamente assistida, estiveram no Jornal das 8 a debater o tema que vai estar em discussão no Parlamento esta semana

Manuel Pedro Magalhães e Francisco Crespo, ambos médicos, têm visões opostas sobre a eutanásia. Francisco Crespo é a favor da despenalização da morte medicamente assistida. Manuel Pedro Magalhães é contra a eutanásia, que vai a discussão no Parlamento, esta semana, e levantou vários problemas conceptuais que podem dificultar a criação de uma lei capaz de legislar o procedimento e de definir quais as doenças que serão abrangidas.

Francisco Crespo confessou que inicialmente era contra a despenalização da eutanásia, opinião que se foi alterando com os anos por entender que este é um procedimento que dá direito de escolha aos doentes que se encontram em grande sofrimento.

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Tenho de dar ao doente, em grande sofrimento, o direito de opção”, referiu o especialista a favor da despenalização da morte medicamente assistida.

Ainda assim, o médico garantiu que têm de existir condições para que o doente, em sofrimento extremo, possa optar por uma morte medicamente assistida: tem de “ser uma decisão consciente e exclusivamente do doente, ter o parecer de um psiquiatra ou psicólogo, do médico assistente e de um jurista”.

Não desejo a morte. Desejo é o respeito em casos de grande sofrimento”, garantiu Francisco Crespo.

Francisco Crespo evocou ainda o exemplo de Zeca Afonso, que sofria de esclerose lateral amiotrófica (doença degenerativa e terminal) e que estava lúcido, como um caso que reunia todass as condições para uma morte medicamente assistida.

O espcecialista teoriza que o músico poderia não querer viver nas condições em que se encontrava para explicar um caso em que a eutanásia poderia ter sido aplicada, caso fosse legal e o cantor assim o desejasse.

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O Zeca Afonso estava lúcido e poderia optar por não querer viver como estava", referiu Francisco Crespo.

Ainda assim, os argumentos não convencem Manuel Pedro Magalhães, que reiterou “que não faz parte do tratamento médico provocar a eutanásia”. O especialista explica áreas que são muito importantes na discussão da eutanásia. Como a do doente, onde é necessário definir quem estará abrangido pelo procedimento e em que será preciso distinguir doentes terminais de crónicos. 

Com a desculpa de se terminar com o sofrimento podemos cair no egoísmo”, apontou Manuel Pedro Magalhães.

Manuel Pedro Magalhães referiu ainda que é necessário pensar-se que o procedimento terá de ser feito por alguém. O especialista garantiu que o pessoal de saúde, médicos e enfermeiros, não estão preparados para lidar com um paciente que entre no gabinete para morrer.

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Os médicos têm de respeitar absolutamente aquela que é a vontade do doente. (…) Mas estamos a falar de uma classe que nunca foi preparada para isso (eutanásia)”, realçou o médico contra a eutanásia.

Manuel Pedro Magalhães lembrou ainda que vários dos países que despenalizaram a morte medicamente assistida têm enfrentado uma vasta quantidade de problemas. Em parte, devido à dificuldade de criar uma lei para a eutanásia que não apresente lacunas, desigualdades nem conflitos éticos.

Manuel Pedro Magalhães explicou porque motivo não vê o sofrimento como um critério justificável por si só para legalizar a eutanásia.

O sofrimento pode ser combatido e pode desaparecer”, garantiu Manuel Pedro Magalhães.

As propostas, sobre a despenalização da morte medicamente assistida, que vão ser discutidas esta semana no Parlamento, assentam, exclusivamente, sobre pessoas com doenças terminais.

Ainda assim, Manuel Pedro Magalhães confessou ter medo de que estas propostas sejam o “abrir de uma caixa de Pandora” que vai derivar para doentes crónicos e posteriormente para o suicídio medicamente assistido, desresponsabilizando médicos e enfermeiros pelas mortes dos pacientes que decidam morrer.

Vejo com preocupação o limite para este tipo de situação. Começamos e quando abrimos a porta não sabemos onde vamos terminar”, concluiu o especialista contra eutanásia.

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