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Saramago «Um narrador da condição humana»

Diz Tolentino de Mendonça e acrescenta: «Saramago olhava para a história humana como a história do desentendimento dos homens com Deus»

O poeta José Tolentino de Mendonça considerou hoje José Saramago um «extraordinário criador da língua portuguesa e um narrador da condição humana» e um escritor de que todos os leitores sentirão falta.

Em declarações à agência Lusa, Tolentino de Mendonça considerou que a abordagem que Saramago fazia ao cristianismo era «uma abordagem legítima de muitos pontos de vista, embora muitas vezes ficasse a meio das suas próprias perguntas».

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«Porque Saramago olhava para a história humana como a história do desentendimento dos homens com Deus, mas a história humana também pode ser vista como a história do entendimento dos homens com Deus», sublinhou.

José Saramago morreu hoje na sua casa na ilha de Lanzarote, aos 87 anos.

«Leio José Saramago por causa da Bíblia porque, apesar de algumas declarações do autor em relação ao texto bíblico, ele era de todos os autores portugueses contemporâneos aquele que mais a lia, mais a citava, mais perseguia a sua musicalidade e reescrevia os seus temas», afirmou o poeta.

E nesse sentido, «para mim enquanto especialista nos textos bíblicos, tudo o que Saramago escrevia era de leitura obrigatória», acrescentou o também responsável pelo Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura.

Questionado sobre qual o livro que preferia da bibliografia do Nobel português da Literatura, Tolentino de Mendonça disse ser uma escolha difícil, mas sublinhou que «como simples leitor, a escolher um romance de Saramago que considera uma obra-prima, seria O ano da morte de Ricardo Reis».

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Também o Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura expressou hoje o pesar pela morte de Saramago, considerando-o «o expoente da nossa cultura».

«José Saramago ampliou o inestimável património que a literatura representa, capaz de espelhar profundamente a condição humana nas suas buscas, incertezas e vislumbres», lê-se num comunicado da Pastoral.

O documento refere ainda que o escritor mostrou muito interesse pelo cristianismo e pelo texto bíblico como objecto da sua recriação literária.

«Há uma exigência e beleza nessa aproximação que gostaríamos de sublinhar. O único lamento é que ela nem sempre fosse levada mais longe, e de forma mais desprendida de balizamentos ideológicos», acrescenta.

«Mas a vivacidade do debate que a sua importante obra instaura em nada diminui o dever da cordialidade de um encontro cultural que, acreditamos, só pode ser gerado na abertura e na diferença», conclui o comunicado.

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