O ex-Presidente da República Mário Soares disse este sábado que a melhor homenagem a José Saramago é «a que o povo português está a prestar-lhe» e recusou-se a responder a perguntas sobre a ausência de Cavaco Silva das cerimónias fúnebres.
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«Essas perguntas devem dirigi-las ao Presidente da República», replicou Mário Soares, quando foi interpelado pelos jornalistas presentes nos Paços do Concelho de Lisboa, onde o corpo de José Saramago se encontra em câmara ardente desde o início da tarde de hoje.
Saramago está a receber «a homenagem que lhe é devida», na opinião de Soares, referindo-se à presença de milhares de pessoas e às iniciativas do Governo.
O ex-Presidente afirmou que José Saramago tinha «uma grande cabeça, grande lucidez e inteligência». «Sempre o apreciei», prosseguiu, «excepto durante o PREC (Processo Revolucionário em Curso, 1974/75) em que tivemos de cortar relações».
Mário Soares explicou: «Mas sarei essas feridas, quando era primeiro-ministro. Depois de ter lido o «Memorial do Convento» e «O Ano da Morte de Ricardo Reis», escrevi-lhe uma carta a dizer que, apesar de não termos relações, me sentia na obrigação de dizer-lhe que o apreciava enquanto escritor.»
A esta carta, José Saramago respondeu com uma outra que Soares resume deste modo: «Eu ainda gosto menos de si do que você de mim, mas também acho que é altura de reatarmos relações». Reconciliados, Saramago recebeu Soares na casa de Lanzarote. «Sou muito amigo da esposa, uma pessoa extraordinária que contribuiu muito para a carreira dele».
Mário Soares voltou a referir que Saramago tem todo o direito de ir para o Panteão Nacional, mas acrescentou que se o escritor disse que queria ser cremado «tem de se respeitar a vontade dele».
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