O diretor do serviço de pediatria do Hospital Garcia de Orta, em Almada, no distrito de Setúbal, critica a administração por contratar pediatras em regime de prestação de serviços, para colmatar a falta de especialistas na urgência.
"Vir alguém chefiar uma equipa de um hospital que não conhece é uma solução que não é aceitável, que eu nunca propus e não quero validar”, disse Anselmo Costa, que se encontra demissionário desde outubro de 2018, em declarações à agência Lusa.
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Segundo o médico, neste sábado estiveram ao serviço dois especialistas, um dos quais foi interno no Garcia de Orta e uma médica do Hospital Dona Estefânia, que “não conhece os serviços, os hábitos e a forma de funcionar”.
No final de março, a Ordem dos Médicos alertou para o risco de a urgência pediátrica encerrar em alguns dias de abril devido à falta de especialistas, tendo o Sindicato dos Enfermeiros Portugueses ter precisado o último sábado, dia 13, por ser um dos dias em que a escala não estava assegurada.
No entanto, na semana passada, a administração do hospital garantiu que a urgência tem mantido a qualidade, apesar de funcionar com o serviço mínimo de três médicos (dois especialistas e um interno) e que, além do lançamento de concursos para a integração de seis a oito pediatras, iria implementar uma medida provisória para impedir o fecho da urgência, com a contratação de profissionais em regime de prestação de serviços.
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No entanto, o diretor do serviço de pediatria considerou que “não é aceitável” um médico chefiar um hospital que não conhece.
Uma coisa é entrar alguém novo para uma equipa de cinco ou seis e outra é entrar alguém novo para uma equipa de três e uma chefia leva ainda mais tempo. Ninguém de bom senso espera que um pediatra chegue ao serviço e de repente vá chefiar uma equipa daqui a uma semana”.
Anselmo Costa, apesar de ainda estar a exercer funções, encontra-se demissionário do cargo de diretor do serviço por não concordar com as medidas tomadas pela administração em relação à falta de médicos e pelas constantes “promessas” de contratação que não chegam.
Estou demissionário desde outubro do ano passado, exatamente porque estava um bocadinho cansado de promessas, que não deram em nada e mantenho-me em funções porque não sou substituído e porque também achei que ia tentar lutar até ao fim”.
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Segundo Anselmo Costa, a urgência pediátrica do Garcia de Orta tem no total cinco pediatras (passando a quatro no próximo mês, devido à demissão de um deles), e a equipa padrão é constituída por um especialista e dois internos, o que se torna “penoso”, porque os médicos ao serem poucos, acabam a fazer mais urgência do que o normal.
Além disso, de acordo com o pediatra, as escalas não estão a ser divulgadas com a antecedência devida, cerca de um mês, avançando que “nesta quarta ou quinta-feira ainda não está assegurada”.
A Ordem dos Médicos revelou hoje à TSF que pediu à administração do hospital o envio das escalas das equipas da urgência pediátrica para abril, afirmando que continua a existir o risco de encerramento durante a noite ou ao fim de semana.
Em declarações à agência Lusa, o presidente do Conselho Regional do Sul da Ordem dos Médicos, Alexandre Valentim Lourenço, também explicou que a qualidade da urgência pode estar em causa devido à contratação de médicos em prestação de serviços.
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Não podemos ter um especialista que acabou a especialidade a ter o trabalho de um chefe de equipa. Os chefes de equipa conhecem o serviço, os doentes e resolvem os problemas maiores. Estamos a contratar quem estiver disponível no dia-a-dia e isso não garante nenhuma qualidade, não respeita a carreira médica, nem respeita os processos normais de funcionamento de equipa”.
Além disso, na visão de Alexandre Valentim Lourenço, através deste método, o conselho de administração não está a dar condições para que os especialistas queiram fixar-se neste hospital, estando a “tapar buracos” e a “destruir um dos melhores serviços de pediatria que havia”.
A Lusa tentou contactar o Hospital Garcia de Orta, mas até ao momento não foi possível obter declarações.
Governo admite recorrer a pediatras do privado para assegurar urgência no Garcia de OrtaO serviço de urgências pediátricas no hospital Garcia de Orta poderá ser assegurado com médicos do setor privado até que haja uma solução definitiva, adiantou hoje o Governo, que admite rever o número de urgências pediátricas abertas em Lisboa.
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Poderemos ir buscar médicos pontualmente aos hospitais privados para assegurar o serviço onde há carências no serviço público, até que, naturalmente, haja possibilidade de colmatar essas falhas de forma mais firme e segura, nomeadamente através dos concursos, que também vão abrir, e, naturalmente, o Garcia de Orta terá as vagas necessárias para resolver os seus problemas”, disse hoje aos jornalistas o secretário de Estado Adjunto e da Saúde, Francisco Ramos.
O secretário de Estado falava à entrada para a sessão de encerramento da conferência “SNS: O futuro começa hoje!”, que hoje decorreu na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.
Francisco Ramos afirmou que a falta de médicos pediatras nas urgências do hospital Garcia de Orta, em Almada, “é uma situação que não é possível resolver de um momento para o outro” e que têm que ser feitos esforços “para que haja soluções a curto prazo”, com a ajuda de outros hospitais públicos e com “a colaboração de entidades privadas”, que, para além de hospitais privados, pode passar também pelo setor social, como as misericórdias.
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São essas entidades que estão a ser convocadas, mas o que gostava de assegurar aos portugueses é que tudo será feito para que os serviços continuem a ser prestados e com a qualidade que é devida a todos”, disse.
Questionado sobre o cenário de rever a organização das urgências pediátricas em funcionamento na área metropolitana de Lisboa, o secretário de Estado admitiu que possa haver uma revisão.
Acho que vale a pena questionar se, nomeadamente na cidade de Lisboa, faz sentido ter tantas portas abertas, sobretudo com o rótulo de urgência polivalente, mas esse é um trabalho que, naturalmente, terá que ser feito”, afirmou.
O Hospital Garcia de Orta informou na segunda-feira que a urgência do serviço de pediatria encerraria durante a noite e madrugada, até às 08:30 da manhã de hoje, por “insuficiência de médicos pediatras para cumprir a escala noturna”.
Este cenário já tinha acontecido na noite de sábado e na madrugada de domingo.
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A falta de pediatras neste hospital já se arrasta há mais de um ano, quando saíram 13 profissionais do serviço, sendo que o lançamento de concursos também não foi suficiente para colmatar a carência porque “ninguém concorreu”, segundo o Sindicato dos Médicos da Zona Sul.
Numa carta enviada ao bastonário dos Médicos no início deste mês, a que a Lusa teve acesso, os pediatras deste hospital pediram a intervenção urgente da Ordem na situação do serviço de urgência pediátrica por considerarem que não há condições mínimas de segurança para os doentes em vários momentos.
Em declarações à Lusa, o bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães considerou que o encerramento da urgência pediátrica do Garcia de Orta na noite de sábado representou uma “falência do Ministério da Saúde e do Estado”, que está há meses sem resolver a situação.
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