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Comandos: procuradora Cândida Vilar alvo de inquérito disciplinar

Trata-se da magistrada que redigiu documento que permitiu deter militares, no inquérito-crime sobre a morte de dois recrutas. PGR determina abertura de inquérito na sequência da participação do arguido Mário Maia, que alega que procuradora praticou crime de prevaricação pelos considerandos que faz no mandado de detenção de sete militares

A Procuradora-Geral da República (PGR) determinou a abertura de um processo disciplinar à magistrada Cândida Vilar, que dirige a investigação relativa à morte de dois recrutas do curso de Comandos, apurou a TVI. A participação é do arguido Mário Maia. A abertura do processo disciplinar prende-se com o incidente de recusa da magistrada suscitado por Alexandre Lafayette, advogado de dois militares arguidos no inquérito-crime sobre a morte dos recrutas Hugo Abreu e Dylan da Silva.

Fontes conhecedoras do processo, disseram à TVI que, no incidente de recusa, a pedir o afastamento de Cândida Vilar, o advogado contesta a ilegalidade das detenções dos sete militares que foram detidos e as considerações feitas sobre os arguidos num despacho proferido pela magistrada, imputando-lhe a prática de denegação de justiça e prevaricação.

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À agência Lusa, uma fonte do Ministério Público afirmou que a Procuradora-Geral da República, Joana Marques Vidal, determinou agora a abertura de processo disciplinar, uma decisão que causou "surpresa", tanto mais que "todas as chefias da magistrada sabiam do teor do despacho e nunca fizeram qualquer reparo".

Na opinião da mesma fonte, a decisão da PGR surpreende também por ocorrer quando estava para breve a conclusão da investigação à morte dos recrutas.

A queixa para afastar Cândida Vilar foi dirigida à diretora do Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP), Lucília Gago, que rejeitou o pedido de recusa, tendo a iniciativa processual de Alexandre Lafayette sido também comunicada à Procuradora-Geral Distrital de Lisboa (PGDL), Maria José Morgado, e à Procuradoria-Geral da República, relatou a fonte.

Fontes conhecedoras do processo disseram à TVI que a PGR também recebeu participação disciplinar contra Lucília Gago precisamente porque não aceitou afastar Cândida Vilar do processo dos comandos, na sequência do incidente de recusa pedido por Mário Maia. 

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A TVI sabe que foram também feitas queixas crime contra as duas procuradoras: Cândida Vilar e Lucília Gago. A queixa por prevaricação contra Cândida Vilar está pendente no Tribunal da Relação de Lisboa. A queixa contra Lucília Gago deverá decorrer no Supremo Tribunal de Justiça por se tratar de uma procuradora-geral adjunta.  

Fontes conhecedoras do processo disseram ainda à TVI que as participações não implicam o afastamento de Cândida Vilar do processo dos Comandos e que a a acusação deve ser conhecida este mês de Junho.

O inquérito à morte dos recrutas, em setembro de 2016, durante o curso de Comandos, tinha terminado esta semana a inquirição das testemunhas, faltando apenas um parecer de um assessor militar para que fosse proferido o despacho final (acusação ou arquivamento).

O inquérito do MP investiga a morte dos dois recrutas e também factos relacionados com outros instruendos que receberam assistência hospitalar, durante o treino do 127º Curso de Comandos, na região de Alcochete, distrito de Setúbal, a 4 de setembro.

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De acordo com o MP, num despacho de novembro, a natureza dos crimes e a atuação dos suspeitos revelam "personalidades deformadas, (...) com vista a criar um ambiente de intimidação e de terror, bem como sofrimento físico e psicológico nos ofendidos, sujeitando-os a tratamento não compatível com a natureza humana".

Os envolvidos, adianta o despacho, tinham conhecimento que com as elevadas temperaturas que se faziam sentir e a privação de água, os instruendos não estavam em condições físicas e psíquicas de prosseguir a instrução.

No entender do MP, "a atuação reiterada dos suspeitos" revela um "manifesto desprezo pelas consequências gravosas que provocam nas vítimas, tratando os instruendos como pessoas descartáveis".

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