A justiça espanhola está a investigar o português Rui Pires Salvador por alegadamente ter burlado centenas de milhares de pessoas num esquema piramidal que ascende a mais de mil milhões de euros, disse à Lusa um representante dos lesados.
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"Temos dados provisionais que nos indicam que existem entre 1,8 e 3 milhões de pessoas afetadas em todo o Mundo. Só em Espanha serão cerca de 250 mil pessoas", disse à agência Lusa Antonio José García Cabrera, responsável jurídico do escritório Lemat Advogados, que representa até ao momento 500 pessoas.
Estas pessoas alegam que puseram dinheiro na empresa de Rui Pires Salvador, a LibertaGia, para poderem aceder a um serviço remunerado a 350% por ano. Segundo a empresa, apenas tinham de aceder a determinadas páginas e ver anúncios na Internet.
"A empresa atribuía determinadas tarefas às pessoas: aceder a determinadas páginas para que as marcas melhorassem o seu posicionamento nos motores de busca [Google, Bing, Yahoo] e a sua imagem na Internet, através do grande aumento do número de visitas. Em troca desse acesso recebiam uma contrapartida", explicou o advogado García Cabrera.
O português Rui Pires Salvador dizia aos "investidores" que o dinheiro que iriam receber por esse serviço provinha dos anunciantes.
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Mas a LibertaGia, alegam os queixosos, nunca pagou qualquer verba à maioria destes "investidores".
"Quando começaram a não receber, a empresa LibertaGia começou a compensá-los com a possibilidade de trazerem novos associados. Ou seja, a empresa dizia que as pessoas receberiam o que tinham em dívida cobrando aos novos associados que trouxessem. Era uma estrutura piramidal", salientou o advogado.
"E depois há cerca de 1.079 milhões de euros em dívida da empresa às pessoas. Este valor não é o do investimento que as pessoas fizeram, mas sim o trabalho, a remuneração que deveriam ter recebido e não foi paga", explicou García Cabrera.
Este caso foi avançado no fim de semama pelo jornal El País, que dá conta que a empresa de Rui Pires Salvador está sediada no paraíso fiscal das Bahamas.
O advogado contou à Lusa que a plataforma de 500 lesados é composta, na sua maioria, por espanhóis, mas que também agrega pessoas de países como Rússia, Colômbia, Estados Unidos, Peru, Chipre, Alemanha, Itália, Argentina, Bolívia, Angola, Nicarágua, China, Lituânia, Canadá, México, Ucrânia e Panamá.
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"Pelo menos até aos últimos dias não havia portugueses", completou.
"Provavelmente - dado o número de afetados de várias províncias de Espanha - a competência terá de passar para a Audiência Nacional. Não tenho dúvidas que terá de terminar ali", disse García Cabrera, referindo-se à instância espanhola para crimes complexos, terrorismo e grandes crimes económicos. A Audiência Nacional tem jurisdição sobre todo o território espanhol.
Quanto à LibertaGia e a Rui Pires Salvador estão em silêncio.
"A empresa está desaparecida. Não responde às chamadas telefónicas e não está ninguém nos escritórios em Lisboa. É impossível contactar com eles", lamentou García Cabrera.
A agência Lusa está a tentar contatar com a empresa e com o português referido pelo advogado García Cabrera e pelo jornal El País, bem como com a Polícia Judiciária e o Ministério Público em Portugal para saber se houve algum pedido de colaboração da justiça espanhola ou alguma queixa de lesados portugueses.
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