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O Governo defendeu esta quarta-feira o alargamento da capacidade de intervenção das "secretas" por se encontrarem "desarmadas" face a fenómenos de terrorismo e criminalidade organizada, mas PCP e Bloco de Esquerda consideram estar perante uma "inconstitucionalidade grosseira".
Marques Guedes falava em plenário, na Assembleia da República, na abertura do debate na generalidade sobre a proposta do Governo de alteração à lei quadro do Sistrema de Informações da República Portuguesa (SIRP), matéria em que "saudou o sentido de responsabilidade do PS".
Na sua intervenção, o ministro da Presidência procurou explicar os pontos classificados como mais polémicos constantes no diploma do executivo, caso da possibilidade de os serviços de informações poderem aceder a meta dados, ou seja, registos detalhados de comunicações telefónicas ou dados de localização de um determinado cidadão sob suspeita.
"Propõe-se o acesso a meios operacionais em linha com os restantes serviços de informações europeus. Não podemos continuar a ter os serviços de informações desarmados face a ameaças graves como o terrorismo e a criminalidade organizada. Tomar estas medidas é defender a democracia e a liberdade", advogou o membro do Governo.
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"Não se acede ao conteúdo das comunicações telefónicas", salientou, numa referência indireta à polémica em torno da constitucionalidade da proposta do Governo.
No entanto, logo a seguir, o deputado do Bloco de Esquerda Luís Fazenda contrapôs que "não compete aos serviços de informações, mas antes aos serviços de segurança, o combate ao terrorismo".
"Não há qualquer conformidade constitucional", defendeu Luís Fazenda, citando então o recente parecer crítico da Comissão Nacional de Proteção de Dados, que classificou o diploma do Governo como atentatório dos direitos, liberdades e garantias dos cidadãos.
"Pretende-se abrir a possibilidade de acesso a dados de tráfego de comunicações, a dados de localização e a informações bancárias. Se este diploma entrasse em vigor, num país com um sistema de fiscalização débil em termos de controlo democrático, os cidadãos teriam a sua vida vigiada", advertiu o deputado do Bloco de Esquerda.
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PS admite testar constitucionalidade"O senhor ministro da Presidência pode dizer que não concorda com a Constituição da República, tal como outros dirigentes do PSD, mas o senhor ministro tem de cumprir a Constituição", declarou António Filipe.
"Uma alteração legislativa que permita aos serviços de informação aceder a dados de tráfego e de localização relativos às comunicações configura-se como uma ingerência nas comunicações? Para os que respondem afirmativamente à pergunta (…) não restam dúvidas de que a solução proposta é inviável por inconstitucional. E, pela parte do PS, admitimos perfeitamente que o teste da constitucionalidade possa ocorrer"
"É esta a solução constante da proposta de lei em apreço e é esta solução que, sem prejuízo do seu aperfeiçoamento na especialidade, o PS se mostrou disponível para admitir", vincou.
Para o PS, está em causa o proceder de uma "interpretação atualista da noção jurídico-constitucional do conceito de ingerência nas comunicações, sem prejuízo de tratar com todo o rigor as condições de acesso a dados pessoais sensíveis que, a esta luz, em nome do interesse público, a Constituição não proíbe".
Lacão criticou todavia a "ambivalência de orientações" de PSD e CDS-PP no tema das "secretas": "Enquanto o PS se empenha num entendimento consistente e alargado", a maioria apresenta uma proposta "relativa ao tratamento dos registos de interesses que despreza a elevada sensibilidade exigível à proteção daqueles que têm uma função institucional a desempenhar no sistema".
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