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“Às vezes tenho a sensação que sou algum monstro.”
Hoje, com 33 anos, Carlos teve seis inquéritos a correr na justiça portuguesa, por suspeita de abuso sexual de crianças. Nunca foi preso.
O último crime terá acontecido em dezembro de 2010, no Seixal. A vítima tinha 12 anos. Este é o único caso que já chegou a julgamento e foi também o que motivou o pedido de ajuda.
Isso mesmo conta numa entrevista exclusiva à TVI.
“Pedi só agora, porque acho que basta. Com este último caso que se passou foi complicado. Fez-me pensar que eu não era deste mundo”
No entanto, Carlos não se vê como pedófilo apesar de assumir os crimes. O peso da palavra é grande.
“Não sou aquele predador que anda obcecado pelas crianças”
“É neste momento considerado uma doença de acordo com os códigos internacionais e nacionais das doenças mentais. Eles têm atração sexual predominantemente por crianças e não por adultos”
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Carlos será chamado à judiciária de Lisboa em julho de 2012, um ano e oito meses depois da queixa. Surpreende os inspetores e confessa ter abusado de 12 crianças em dez anos. Quase todos os crimes terão acontecido em campos de férias.
Com esta confissão, esperava ficar detido.
“Ao princípio pensei que me fossem prender. Na altura, disseram-me que tinha direito ao Termo de Identidade e Residência. Que não me iam prender, desde que eu estivesse dentro das normas que eram permitidas e não fugisse às responsabilidades”
Mas o Ministério Público não altera a medida de coação. Três meses depois o processo de Oeiras acaba arquivado. Na altura dos factos, aliciar um menor para um encontro não era crime.
A confissão, porém, resultou em quatro novas investigações: Fronteira, Constância, Nazaré e Torres Novas.
Foram seis processos a correr na justiça ao mesmo tempo. Todos relacionados com abuso sexual de crianças. Em nenhum deles, apesar da confissão e do pedido de ajuda, a medida de coação foi alterada. Mas podia ter sido e, essa, era função do Ministério Público.
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“Se por ventura a pessoa confessa, manifesta ter uma tendência claramente compulsiva para a prática de abusos sexuais, parece-me que estão reunidos requisitos para que seja equacionada a hipótese de ser aplicada ao arguido uma medida de coação privativa de liberdade. A medida de coação é promovida pelo Ministério Público e aplicada por um juiz de instrução criminal”, clarifica Miguel Matias, advogado que representou as vítimas no processo da Casa Pia.
“Pedi se não havia uma forma de me ajudarem a nível psicológico, acompanharem. Tenho consciência que é errado e queria, um dia, ser uma pessoa normal”, conta.
“Infelizmente para eles, é recidiva. Há uma tendência para que volte de novo a praticar”, conclui.
“O arguido reconhece ainda dificuldades no controlo dos seus impulsos sexuais e considera essencial ser apoiado e tratado, neste âmbito”
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“Estamos perante um sujeito com risco considerável de poder vir a abusar de crianças. Na eventualidade de ser condenado e face à sua motivação (…) consideramos fundamental que seja acompanhado em serviço especializado (…) e ainda proibido de exercer atividades relacionadas com crianças e jovens.”
A verdade é que Carlos continua apenas com Termo de identidade e residência. Não está impedido e continua a lidar quase diariamente com menores.
“Não me impediram. Só me aconselharam para não haver mais problemas. Já cheguei a estar com crianças em projetos aqui em Setúbal e nunca mais… “
Carlos terá abusado pela primeira vez de um menor aos 18 anos de idade e é na infância que encontra uma explicação para os crimes que cometeu. Ele próprio foi alvo de abusos sexuais.
“Desde os seis aos 12 anos. Primeiro por uma rapariga de 18 anos, que era minha vizinha. Depois tive também dois rapazes que aconteceu a mesma coisa”
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Carlos teme o futuro, mas diz saber o que lhe vai acontecer.
“Neste momento sei que não me vou livrar da pena de ir para a prisão. Não sei é quanto tempo pode ser. Não estou preparado, mas tenho de me mentalizar. É uma forma de pagar pelos meus crimes, porque vou estar a rejeitar?”
Por agora e até lá, continua em liberdade.
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