O Governo entregou por um milhão de euros a uma empresa privada a «tradução» da linguagem do sistema informático da Justiça, apesar de ter uma proposta interna no mesmo sentido desde o início do ano, alegando que não tinha pessoas com formação específica, noticia a Lusa.
Segundo fontes ligadas ao processo, a proposta interna resultou de uma «evolução natural» do sistema informático da Justiça (Citius) e incluía já a tradução para linguagem «DotNet», trabalho entregue à Critical Software por 950 mil euros (mais IVA).
PUB
Contactado pela agência Lusa, o Ministério da Justiça rejeita que houvesse possibilidades para fazer o mesmo trabalho com a «prata da casa», realçando que se isso fosse possível «tal via teria sido considerada e adoptada».
Segundo o Ministério, a principal razão para entregar a «tradução» do sistema à Critical Software prende-se com a «inexistência de peritos do Ministério da Justiça com formação específica na nova linguagem».
As diversas fontes ligadas ao processo contactadas pela Lusa garantiram que havia pessoas com capacidade para fazer a conversão da linguagem do sistema, acrescentando que, mesmo que se quisesse fazer o trabalho com outras pessoas que não as que desenharam, desenvolveram e mantiveram até hoje o Citius, haveria sempre os recursos do Instituto de Tecnologias de Informação da Justiça.
A equipa que criou e dirigiu a evolução do actual sistema informático da Justiça tem estado «a apoiar» a Critical Software na tarefa que lhe foi adjudicada.
A Critical Software já tinha feito em 2009 uma auditoria ao sistema informático da Justiça, motivo pelo qual o CDS-PP já tinha questionado no Parlamento a entrega à mesma empresa desta «migração» do Citius.
PUB
Contactado pela Lusa, o deputado do CDS-PP Filipe Lobo D`Avila, que questionou a entrega do trabalho de «migração» à Critical, afirmou: «Isto confirma os receios que tínhamo».
Para o deputado, a entrega de um trabalho externo para o qual havia uma proposta interna levanta a dúvida de que «já não será apenas para a migração, como o Governo referiu, mas para o desenvolvimento».
«Todos estes contratos deveriam ser do conhecimento público e está longe de se conhecer todo o seu conteúdo», acrescentou.
A propósito da justificação do Ministério de que internamente não haveria ninguém com formação específica para fazer esta tradução para outra linguagem (DotNet), Lobo D`Avila diz que ela representa «um desrespeito pelos anos de dedicação da equipa de desenvolvimento».
Os resultados da auditoria ao projecto Citius adjudicada em 2009 à Critical Software nunca foram tornados públicos.
PUB