Bernardino Bicho, um dos dois pescadores portugueses sobreviventes do naufrágio do arrastão «Mar Nosso», em Espanha, partilhou os momentos trágicos do acidente ao qual escapou ileso, afirmando que se o socorro tivesse demorado um pouco mais «ninguém se salvava».
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O pescador, natural da Póvoa de Varzim, regressou quinta-feira à sua cidade natal, e já em casa, com a família, descreveu de forma arrepiante os momento da tragédia, que resultaram na morte de cinco pescadores portugueses.
«Não sei explicar nem dá para perceber o que aconteceu. O barco virou e só tivemos tempo de saltar para a água», contou Bernardino Bicho, de 48 anos, pescador desde os 14.
«Na altura atirámo-nos todos à água e depois vimos que faltavam três homens. Percebemos que ficaram no barco, ou levaram pancadas, não sei explicar o que lhes aconteceu», continuou.
«Sei que me atirei à água e quando olhei à volta vi os outros e tivemos sorte porque se soltou uma tábua do barco. Parece que foi Deus que a mandou para ali», sublinhou.
Depois do naufrágio, o sobrevivente lembrou que estiveram «quase três horas na água». Ao todo eram sete, dois deles, portugueses, acabaram por não resistir.
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«Estiveram ali quase até às últimas, mas perderam a vida cerca de meia hora antes de vir o barco que nos socorreu. Tentámos que eles aguentassem, mas não havia forças, mais um bocado e ninguém se salvava», confessou.
Bernardino Bicho contou que já no hospital a preocupação foi telefonar à mulher: «Falei logo com ela, passadas algumas horas, só chorava.»
O sobrevivente do naufrágio que vitimou três portugueses, estando ainda dois desaparecidos, contou ainda: «Andava naquele barco há 12 anos, éramos uma família. A campanha acabava ontem, no dia do acidente, e vínhamos passar a Páscoa a casa, como normalmente.»
Quanto ao futuro, o sobrevivente revelou que não sabe se voltará ao mar. «Por enquanto quero descansar. Não vou esquecer tão cedo. São coisas que não dão para esquecer?»
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