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No ano passado mais de mil portugueses descobriram que tinham sida

Ainda assim, Portugal mantém a tendência decrescente no número anual de novos diagnósticos

Portugal mantém a tendência decrescente no número anual de novos diagnósticos de infeção por VIH e sida, registando, em 2016, 1030 novos casos de infeção, anunciou o Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA).

O Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA) publicou hoje o Relatório Infeção VIH e SIDA – Situação em Portugal em 2016, elaborado pela Unidade de Referência e Vigilância Epidemiológica do seu Departamento de Doenças Infecciosas, em colaboração com o Programa Nacional da Infeção VIH, sida e Tuberculose da Direção-Geral da Saúde.

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O relatório reúne informação epidemiológica que caracteriza a situação em Portugal a 31 de dezembro de 2016, obtida a partir das notificações de casos de infeção por VIH e sida que o INSA recebe, colige e analisa desde 1985.

“Os dados da vigilância epidemiológica referente à infeção por VIH e sida apresentados neste relatório revelam que Portugal mantém a tendência decrescente no número anual de novos diagnósticos de infeção por VIH e sida, observada desde o ano 2000, embora as taxas apuradas para os anos mais recentes continuem a ser das mais elevadas na União Europeia”, refere o relatório.

O documento salienta que se encontram registados cumulativamente, até 30 de junho de 2017, 56.001 casos de infeção por VIH, dos quais 21.614 são casos de sida, em que o diagnóstico aconteceu até final do ano passado.

“Segundo a informação epidemiológica obtida a partir das notificações de casos de infeção, em 2016 foram diagnosticados 1030 novos casos de infeção por VIH em Portugal”, acrescenta.

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Helena Cortes Martins, responsável pela vigilância da infeção por VIH e sida no Departamento de Doenças Infecciosas do INSA, destaca o “predomínio de casos do sexo masculino, com idades inferiores às observadas nos casos em mulheres”.

“A taxa mais elevada de novos diagnósticos (26,1 por 100 mil habitantes) é observada no grupo etário 25-29 anos, apesar do maior número de novos casos se ter verificado no grupo 30-39 anos”, explicou.

A especialista destacou ainda que os novos casos referentes a homens que têm sexo com homens “foram, nos dois últimos anos, a maioria dos casos do sexo masculino, bem como dos novos diagnósticos em pessoas com menos de 30 anos”.

Helena Cortes Martins, autora do relatório, salienta também percentagem de diagnósticos tardios, particularmente em casos de transmissão heterossexual.

“Em mais de metade dos novos casos (55%) de 2016 o diagnóstico foi tardio, proporção que foi mais elevada (64%) nos casos em que a transmissão ocorreu por contacto heterossexual”, explica.

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A especialista disse ainda que estão em curso importantes iniciativas a nível nacional no âmbito da prevenção da infeção por VIH, do acesso atempado ao diagnóstico da infeção e da melhoria da informação epidemiológica nacional

“A informação epidemiológica de qualidade e atempada é essencial para a monitorização dos objetivos 90-90-90 e, nesse sentido, está a decorrer um processo de recolha de informação em falta e de melhoria das aplicações informáticas de suporte, que se espera vir a ter impacto significativo na rapidez da obtenção da informação epidemiológica nacional, na completude dos dados e, naturalmente, na qualidade dos mesmos”, concluiu.

Cerca de oito em cada 10 portugueses com VIH terão mais de 50 anos daqui a duas décadas, uma situação que acompanha a evolução da doença no mundo e que contraria a tendência inicial, refere um estudo hoje publicado.

A proporção de doentes com VIH “com 50 e mais anos de idade aumentará dramaticamente ao longo dos próximos anos, de 39% em 2015, para cerca de 80% em 2037”, avançou António Vaz Carneiro, coordenador e um dos autores do estudo “O Impacto do Envelhecimento nas Pessoas com VIH – Perspetivas Presentes e Desafios Futuros”.

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O estudo foi apresentado pelo Centro de Estudos de Medicina Baseada na Evidência da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa e o Centro de Estudos Avançados da Faculdade de Ciências Económicas e Empresariais da Universidade Católica Portuguesa, no âmbito das comemorações do Dia Mundial de Luta Contra a Sida, que hoje se assinala.

Uma das consequências diretas deste aumento da idade dos doentes com VIH é, segundo o coordenador, o aumento das doenças próprias da idade, com uma taxa de incidência muito superior à da população geral.

“Ao contrário do que acontecia nos primeiros anos da pandemia, a população mais jovem registará, dentro de 20 anos, uma prevalência reduzida, com o grupo de indivíduos até 29 anos a representar apenas 2% do número total e o dos da faixa etária entre os 30 e os 49 anos de idade, 18%”, afirmou.

Segundo o coordenador, “em todo o mundo, mais de 4,2 mil milhões de pessoas infetadas pelo VIH têm mais de 50 anos de idade, e 26% do total terá mais de 70 anos”.

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Para os autores do estudo, o sistema de Saúde não está preparado para fazer face aos desafios que se apresentam face ao envelhecimento da população com VIH e defendem ser “necessário que se opere uma transformação no sistema”.

O estudo defende ainda a necessidade de organizar os serviços de saúde a prestar aos doentes com VIH “atenção e especialização em múltiplos domínios do sistema de saúde e seus responsáveis”

“O local natural para tratar de doenças crónicas, riscos de saúde, e aumento de incidência de doença são os Cuidados de Saúde Primários e não os hospitais como hoje acontece relativamente às pessoas com infeção por VIH/Sida”, refere Vaz Carneiro.

“A somar a tudo isto, verificar-se-á, nestes doentes, uma menor qualidade de vida e o isolamento social por estigma, o que condiciona o seu apoio regular. Sem suportes sociais funcionais a partir dos quais se possam obter cuidados e assistência, esta população buscará apoios mais formais num período de reduzidos recursos económicos”, acrescentou.

“Estes doentes serão relegados em idades precoces para serviços de cuidados de saúde domiciliários onerosos, assim como para cuidados continuados comunitários”, concluiu.

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