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«Já alguma vez viu um bruxo teso?»

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Vilar de Perdizes, onde não há multibanco, mas vende-se de tudo

Entre dezenas de «profissionais» do oculto que por estes dias marcam presença no congresso de Vilar de Perdizes uma voz destaca-se com a inusitada pergunta: «Isto é o palco da verdade da mentira em que as pessoas têm de ter atenção», insiste o autointitulado mestre Alves, que cobra 50 euros pelos seus préstimos de médio, vidente e exorcista.

É assim que se apresenta numa das barracas que circundam a antiga escola primária da aldeia raiana conhecida há 25 anos por ser palco do misticismo.

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«Dei cabo de mim a falar disso, dediquei-me tanto ao misticismos, que fiquei mistificado» é desta forma que o homem responsável por tudo isto resume a sua dedicação de 25 anos a este tema.

Apesar da polémica que rodeia a iniciativa, o congresso tem conseguido reunir gente de todos os quadrantes e credos, desde «catedráticos, médicos, psicólogos, padres e bispos», como faz questão de lembrar.

Mesmo marcado pela doença, o padre Fontes não deixa de marcar presença no congresso de Medicina Popular de Vilar de Perdizes, onde até domingo há um pouco de tudo para ver e comprar.

Ervas para os males do corpo e da alma, licores afrodisíacos, fotografias da aura, massagens, palestras e rituais. «As pessoas têm de trazer dinheiro porque na aldeia não há um Multibanco», alertou Mariza Garcia que cresceu com o congresso e que lamenta que, em 25 anos, a aldeia não tenha tirado mais beneficio.

13 quilómetros até ao multibanco mais próximo

«As pessoas se precisarem de levantar dinheiro têm de fazer 13 quilómetros até Montalegre», disse. A distância parece curta, mas a estradas não ajudam, embora os acessos aos maiores centros vizinhos, como Chaves e a sede de concelho Montalegre tenham melhorado.

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Mariza reconhece que foi isolamento que desenvolveu a sabedoria popular que impulsionou o que é hoje o congresso.

«Os chás eram a cura rápida para os males e os bruxedos para afastar as coisas que as pessoas desconheciam». Sem acesso a outras soluções, a população encontrava nas ervas do campo e no que a rodeava as alternativas.

Os pais de Mariza aproveitaram estes saberes e desde o primeiro congresso que vendem chás e mezinhas para todos os males. Segundo contou, começaram como uma barraca e agora já têm três.

Famoso licor patenteado

São os autores do famoso «Licor Levanta o Pau», uma bebida que até patentearam, mas que hoje em dia «já toda a gente vende» e embora «pirateado», nem a ASAE intimida os imitadores.

Um quarto de século depois, «ainda continua a haver analfabetismo e egoísmo da medicina tradicional» relativamente a esta temática, na opinião do padre Fontes, mas o rol de aspectos positivos satisfaz o fundador.

«A medicina popular como pretexto para juntar pessoas, a descoberta de Trás-os-Montes, o aparecimento do conceito de turismo rural, com 100 quartos ocupados logo no primeiro congresso».

O congresso serve também para mostrar a região com visitas guiadas, inclusive à vizinha Galiza, no outro lado da raia, aos milhares de visitantes que por ali passam neste dias.

Mesmo durante o ano, há já quem se desloque a Vilar de Perdizes para conhecer o padre Fontes ou à procura dos chás. A doença e a idade trazem novas preocupações ao padre Fontes, que teme agora não ter sucessores, embora não faltem seguidores. «Mas estão muito agarrados a mim».

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