PUB
Os «atos de barbaridade» do Estado Islâmico estão a afugentar os voluntários da Assistência Médica Internacional. O presidente da AMI deixa essa advertência, alertando que há menos pessoas a integrar missões humanitárias internacionais por causa disso. Fernando Nobre defende «novas estratégias» para ultrapassar o problema, uma vez que entrar agora em países como a Síria é ser «suicidário» e «puramente louco».
«Só há uma maneira de intervir para que as agências humanitárias possam fazer o seu trabalho de forma eficaz, coerente e com equidade junto das populações: é que seja imposto um ciclo de segurança», o que pressupõe a «adoção de novas estratégias» para permitir que as mesmas operem em zonas de conflito.
«Hoje, para uma agência humanitária como a AMI entrar pela Síria adentro para tentar atuar em território sob controlo do (grupo) Estado Islâmico é ser puramente suicidário, já não é ser temerário»
«A questão da segurança dos agentes humanitários está no primeiro nível das prioridades para todas as instituições».
PUB
há «mais desespero do que nunca» entre os refugiados«Hoje, o que tolhe completamente a nossa intervenção não são as epidemias e a questão dos desastres ligados às alterações climáticas que vai acontecendo cada vez mais frequentemente e com maior violência. O que está a coartar a nossa intervenção são exatamente os conflitos ditos atípicos com entidades completamente fora do controlo”, situações que, de resto, “só podem ser ultrapassadas com o controlo destes grupos».
De acordo com o presidente da AMI, «os movimentos humanitários estão totalmente impedidos de intervir porque, ao interceder em países como o Quénia, Somália, no Mali, onde os próprios grupos humanitários são alvos preferenciais, já não é ser temerário, é ser puramente louco».
«Essas instituições são vistas como parte integrante de um mundo que esses movimentos de pura barbaridade e sem o mínimo respeito pela vida humana, não aceitam», por isso, «é suicidário tentar atuar lá, porque vão ser imediatamente mortos a tiro ou degolados»
PUB
Questionado pela Lusa se a atuação de grupos armados de cariz religioso, e não só, como o Estado Islâmico, no Médio, Oriente, bem como o Boko Haram e al-Shebab, em África, está a retrair os voluntários para as agências humanitárias, Fernando Nobre respondeu: «Absolutamente, sim».
«Está a retrair, porque somos temerários. Ninguém avança para uma intervenção se sabe que tem 100% de hipóteses de ser degolado, só sendo mesmo louco. Eles (grupos armados) veem-nos como parte de uma sociedade que as odeiam, as hostilizam e que as querem destruir. E nós somos apenas uma parte desta sociedade que eles não toleram»
«Eu sou daqueles que na minha vida humanitária já entrou clandestinamente para desenvolver missões humanitárias – no Chade, em 1981, em Beirute (1982), no fim da guerra do Irão-Iraque (1981), mas nós não éramos procurados para sermos assassinados. Hoje, somos alvo preferenciais para sermos capturados e executados, e ai há que ter a máxima prudência, evidentemente», concluiu Fernando Nobre.
PUB