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Estado Islâmico afugenta voluntários: «É ser puramente louco»

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Atuação dos grupos radicais está a condicionar a participação de pessoas em missões humanitárias internacionais, segundo o presidente da AMI, Fernando Nobre

Fernando Nobre falava à Lusa a propósito do anúncio quarta-feira da Organização Mundial da Saúde (OMS) da criação de um novo organismo que irá integrar equipas médicas devidamente qualificadas em todo o mundo, prontas para intervir em caso de emergências graves, tais como epidemias, terremotos e tsunamis. No caso da Síria, ainda esta semana a Organização das Nações Unidas advertiu que que ali vivem em campos controlados pelos radicais, e que precisam de ajuda humanitária urgentemente. Daí que Fernando Nobre defenda que «é preciso que nestas situações a comunidade internacional, sob mandato das Nações Unidas, tenha coragem, vontade, determinação e ousadia para pôr termo a estas situações, para que não aconteça o mesmo que se passou há 20 anos no Ruanda», onde houve um genocídio, em 1994, alertou. De acordo com o assistente humanitário, atualmente há zonas em que as intervenções diretas das agências são «complementadas vedadas», por isso, a sua intervenção deve ser feita clandestinamente, por intermédio de instituições locais, como, de resto, já aconteceu no passado.

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Os «atos de barbaridade» do Estado Islâmico estão a afugentar os voluntários da Assistência Médica Internacional. O presidente da AMI deixa essa advertência, alertando que há menos pessoas a integrar missões humanitárias internacionais por causa disso. Fernando Nobre defende «novas estratégias» para ultrapassar o problema, uma vez que entrar agora em países como a Síria é ser «suicidário» e «puramente louco».

«Só há uma maneira de intervir para que as agências humanitárias possam fazer o seu trabalho de forma eficaz, coerente e com equidade junto das populações: é que seja imposto um ciclo de segurança», o que pressupõe a «adoção de novas estratégias» para permitir que as mesmas operem em zonas de conflito.

«Hoje, para uma agência humanitária como a AMI entrar pela Síria adentro para tentar atuar em território sob controlo do (grupo) Estado Islâmico é ser puramente suicidário, já não é ser temerário»

«A questão da segurança dos agentes humanitários está no primeiro nível das prioridades para todas as instituições».

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«Hoje, o que tolhe completamente a nossa intervenção não são as epidemias e a questão dos desastres ligados às alterações climáticas que vai acontecendo cada vez mais frequentemente e com maior violência. O que está a coartar a nossa intervenção são exatamente os conflitos ditos atípicos com entidades completamente fora do controlo”, situações que, de resto, “só podem ser ultrapassadas com o controlo destes grupos».

há «mais desespero do que nunca» entre os refugiados

De acordo com o presidente da AMI, «os movimentos humanitários estão totalmente impedidos de intervir porque, ao interceder em países como o Quénia, Somália, no Mali, onde os próprios grupos humanitários são alvos preferenciais, já não é ser temerário, é ser puramente louco».

«Essas instituições são vistas como parte integrante de um mundo que esses movimentos de pura barbaridade e sem o mínimo respeito pela vida humana, não aceitam», por isso, «é suicidário tentar atuar lá, porque vão ser imediatamente mortos a tiro ou degolados»

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Questionado pela Lusa se a atuação de grupos armados de cariz religioso, e não só, como o Estado Islâmico, no Médio, Oriente, bem como o Boko Haram e al-Shebab, em África, está a retrair os voluntários para as agências humanitárias, Fernando Nobre respondeu: «Absolutamente, sim».

«Está a retrair, porque somos temerários. Ninguém avança para uma intervenção se sabe que tem 100% de hipóteses de ser degolado, só sendo mesmo louco. Eles (grupos armados) veem-nos como parte de uma sociedade que as odeiam, as hostilizam e que as querem destruir. E nós somos apenas uma parte desta sociedade que eles não toleram»

«Eu sou daqueles que na minha vida humanitária já entrou clandestinamente para desenvolver missões humanitárias – no Chade, em 1981, em Beirute (1982), no fim da guerra do Irão-Iraque (1981), mas nós não éramos procurados para sermos assassinados. Hoje, somos alvo preferenciais para sermos capturados e executados, e ai há que ter a máxima prudência, evidentemente», concluiu Fernando Nobre.

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