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Sócrates lança sinais de fumo

Se há leis que não são fáceis de cumprir, esta é uma delas. É por isso que o primeiro-ministro deve ser punido, pagando uma coima como qualquer português

Os três cigarros que o primeiro-ministro fumou no voo Lisboa- Caracas são mais do que um fait-divers ou apontamento de viagem. José Sócrates fumou-os às escondidas, atrás de uma cortina, na cumplicidade de outros fumadores, alguns dos quais, à rasca como ele, supõe-se, por um cigarro autorizado.

Quem é fumador sabe como é a sensação: longas horas sem nada para fazer dentro de um avião, os rebuçados já se acabaram, o filme é uma seca, e... apetece um cigarro. Nesse aspecto, Sócrates é um mortal pecador, como todos os que o acompanharam e, por ser este um pecado proibido por lei - uma lei que ele fez e assinou por baixo - deve ser multado. Ele já admitiu que errou e que vai deixar de fumar, qual menino envergonhado, mas isso não o deve livrar das consequências que, caso se tratasse de outra pessoa, o Zé, o cidadão anónimo, estaria sujeito. A opinião pública ia gostar de ver uma multa aqui, ia querer saber de quanto foi a coima, se ele anda a fumar às escondidas, se passou a fumar apenas cigarrilhas depois do jantar, se plantou flores nos cinzeiros do gabinete - essas coisas.

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Eu, que sou fumadora, vejo neste episódio aquela imagem do personagem Diácono dos Remédios a apontar o dedo indicador cima e a baixo e a dizer: «Não havia necessidade!». Com governantes destes, os humoristas deste país, - são cada vez mais, já repararam? -, não precisam de se esforçar muito para gozar com os políticos. Até porque não era esta a imagem que nos tinha habituado Sócrates, especialmente quando chamamos à memória aquelas reportagens saudáveis e enérgicas do jogging matinal com que nos brinda a cada visita oficial ao estrangeiro, ou até fora de Lisboa, ou mesmo nas deslocações fora da Lapa.

Este não-fait-divers custará caro a Sócrates porque os portugueses ficaram impedidos de fumar na maioria dos locais públicos por causa desta lei e têm feito um esforço para a cumprir. Têm sofrido com isso, gasto dinheiro em pastilhas de nicotina e em tratamentos milagrosos, outros deixaram simplesmente de comprar cigarros, tanto que a quebra de vendas no sector foi assinalável.

Quando, nos primeiros minutos de 2008, altura em que entrou em vigor, o responsável máximo da ASAE, António Nunes, foi fotografado a puxar por uma cigarrilha pecaminosa, envolto numa nuvem de fumo, a opinião pública reagiu muito mal, mas nem por isso passou a ignorar a lei. A polémica foi tão grande e vários constitucionalistas perderam o seu tempo e o nosso a fazer análises e a traçar cenários sobre a sobreposição ou não com a Lei do Jogo. Nessa altura, supomos que o primeiro-ministro estaria ocupado a fazer outras leis enquanto ia fumando o seu cigarro. Bom, na residência oficial também deve ser proibido fumar, penso.

No caso deste avião, com sinais de proibição ao fumo por todo o lado, não há dúvida da ilegalidade e só não se percebe porque razão apenas um único jornalista achou que isso era notícia. Enfim, com o maior partido da oposição em processo de eleição de um novo líder, são estes os sinais de fumo que o primeiro-ministro lança no ar.

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