Um recém-nascido foi morto pelo cão da família. Este é um guia fundamental para quem tem filhos e cães: os cuidados a ter - TVI

Um recém-nascido foi morto pelo cão da família. Este é um guia fundamental para quem tem filhos e cães: os cuidados a ter

Os nossos animais de estimação fazem parte do problema climático. Estas dicas podem ajudá-lo a minimizar as suas pegadas de carbono (CNN)

"Os pitbulls, por exemplo, eram considerados no século passado as amas dos bebés. São cães fantásticos. O único problema que têm é a sua capacidade física: têm umas mandíbulas tremendas e são muito resistentes e por vezes utilizam isso para outros fins." Em comparação, "os cães de pequeno porte às vezes até são mais agressivos porque querem evidenciar-se, querem ter mais visibilidade"

Um bebé de apenas um mês morreu esta terça-feira depois de ter sido atacado por um dos cães da família. Não é um caso único e importa, por isso, saber quais são os cuidados que as famílias devem ter quando o seu animal convive no mesmo espaço que o seu bebé. 

Para Luísa Barroso, presidente da União Zoófila (UZ), é importante desde logo estabelecer regras - não só para o animal como também no próprio seio familiar. "É muito comum as pessoas quererem começar uma vida familiar e, por alguma razão, optam por ter um animal de estimação. Então começam a tratar o animal como se fosse uma pessoa, vai para a caminha [com o casal], vai com a família para todo o lado, etc., exatamente como se de um filho se tratasse..."

A partir do momento em que o casal engravida, o animal, que até então tinha todas as atenções voltadas para si, é relegado para segundo plano. "Quando a dona engravida, começa a ficar exausta e já não tem tanta disponibilidade psíquica e física para o cão. Portanto, o animal é posto de parte, já não o deixam dormir na cama, etc.", exemplifica.

Além disso, acrescenta Luísa Barroso, as famílias têm tendência a não deixar que o cão se aproxime da criança, repreendendo o animal quando este quer cheirar o novo membro da família. Ora, este comportamento também não é o mais correto, diz a responsável da UZ, que dá um exemplo pessoal para ilustrar o que deve ser feito:

"Quando a minha neta nasceu, a primeira coisa que fiz foi deixar que os cães a cheirassem, lamberam-lhe as pernas - claro que não deixei que lambessem o rosto", exemplifica. Aliás, acrescenta, este comportamento pode ser incentivado ainda durante a gravidez, deixando, por exemplo, que o animal cheire o berço ou as roupas da criança e explicar, com calma, que vem aí um novo membro da família.  

Ainda assim, a responsável aconselha a "manter a criança a uma certa distância do animal" nos primeiros tempos. Esta é uma relação que deve ser construída "aos poucos e poucos", pelo que é preciso ter "bom senso" e não deixar de vigiar a criança. Com o tempo, o bebé vai ter naturalmente curiosidade em tocar o cão, algo que deve ser incentivado pela família, diz a presidente da UZ, que salienta que incentivar é diferente de "forçar" a criança a estabelecer esse contacto.

Mas não é apenas o animal que deve ser ensinado a lidar com a criança: esta também tem de ser chamada à atenção se estiver a tratar mal o animal, salienta Luísa Barroso, apontando que, por vezes, a família tem tendência a achar uma certa piada quando a criança puxa as orelhas ou a cauda aos animais, por exemplo. Nessas situações, a presidente da UZ aconselha a explicar às crianças que esse comportamento é errado e que devemos tratar bem os animais.

"Nós é que somos os [seres] racionais. Isto tem tudo que ver com a educação", reforça.

Precisamente por ser uma questão de educação, a raça do animal é indiferente, afirma Luísa Barroso. Geralmente nestes casos que envolvem ataques de animais associa-se sempre a raças consideradas mais agressivas, como é o caso do pitbull ou rotweiller. Contudo, para a responsável da UZ, esta questão é muito relativa: "Um caniche pode ser tão agressivo como um pastor alemão. Tem tudo que ver com educação."

"Os pitbulls, por exemplo, eram considerados no século passado as amas dos bebés. São cães fantásticos. O único problema que têm é a sua capacidade física: têm umas mandíbulas tremendas e são muito resistentes e por vezes utilizam isso para outros fins." Em comparação, "os cães de pequeno porte às vezes até são mais agressivos porque querem evidenciar-se, querem ter mais visibilidade".

Neste caso de Alenquer, o cão que atacou a criança trata-se de um pastor belga Malinois, que não é considerada uma raça perigosa. O ataque ocorreu enquanto a mãe do bebé se ausentou de casa por uns segundos para despejar o lixo, tendo deixado a porta aberta. O cão conseguiu entrar em casa e, quando a mãe voltou, já não foi a tempo de salvar o bebé.

Viver com o "trauma" e a "culpabilização"

"Um trauma é a palavra certa para descrever [o sentimento destes pais]", diz Catarina Graça, psicóloga e psicoterapeuta da Clínica da Mente. A psicóloga afirma que o que estes pais estão a agora a viver "é a principal preocupação das famílias que têm animais de estimação e bebés na mesma casa".

Por serem considerados parte integrante da família, acaba por haver uma "confiança quase cega" da família para com os cães, como refere a psicóloga clínica Catarina Mesquita, da Academia Transformar. Mas, para as duas psicólogas contactadas pela CNN Portugal, é importante sublinhar que os nossos animais são seres irracionais e, por isso, imprevisíveis. 

"Há pessoas que têm uma ligação muito especial com os seus cães, alguns até dizem 'a este cão só lhe falta falar'. Mas, por mais que o cão seja domesticado, não deixa de ser um animal não racional. Sabemos que os cães reagem a estímulos, e, neste caso, pode ter havido algum estímulo - que não o bebé - que tenha descontrolado o cão ao ponto de reagir desta forma", explica Catarina Graça.

A psicóloga Catarina Mendes diz não ter dúvidas de que os pais desta criança estão a ser absorvidos agora por "um sentimento de culpa" que os coloca numa situação muito frágil ao nível psicológico. "Os pais sentem-se responsáveis pela segurança, pelo bem-estar dos filhos e, quando os pais não os conseguem proteger, acabam por sentir esta culpabilidade", acrescenta a psicóloga.

As duas psicólogas sublinham que estes pais precisam de "muito apoio psicolígico - familiar, profissional e social". "Temos uma mãe num pós-parto recente, uma vida roubada precocemente e uma situação que tornou aquela que seria das fases mais felizes desta família numa das mais dolorosas que alguma vez terá de enfrentar", descreve Catarina Mesquita.

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