"Agora que o Brasil voltou não vamos mais deixá-lo sair". António Costa e Lula da Silva querem aprofundar parcerias empresariais - TVI

"Agora que o Brasil voltou não vamos mais deixá-lo sair". António Costa e Lula da Silva querem aprofundar parcerias empresariais

  • CNN Portugal
  • MJC
  • 24 abr 2023, 12:04

Lula da Silva e António Costa participaram esta manhã no Fórum Empresarial Portugal-Brasil, em Matosinhos. Sem poupar nas críticas a Bolsonaro, o presidente do Brasil garantiu que o país está preparado para voltar a ser "protagonista internacional"

"O Brasil voltou", afirma Lula da Silva, confirmando que, depois da presidência de Jair Bolsonaro, o país está disposto a retomar as relações políticas e económicas com os outros países e que Portugal será um parceiro estratégico.

Não deixa por isso de ser significativo que este Fórum Empresarial Portugal-Brasil, no qual participam mais de uma centena de empresários portugueses e brasileiros, aconteça no Centro de Engenharia e de Desenvolvimento de Produto e Serviço (CEiiA), em Matosinhos, o local onde foi desenvolvido o projeto do avião KC-390 - que começou precisamente quando Lula cumpria o anterior mandato como presidente do Brasil. Depois da conferência de imprensa, Lula e Costa regressaram depois a Lisboa na primeira aeronave já entregue pela Embraer à Força Aérea portuguesa.

"Hoje a nossa associação estratética na industria aeronáutica é uma realidade e motivo de orgulho. A ela se seguirão muitas outras." O CEiiA "representa muito a cooperação empresarial que queremos implementar", disse o presidente do Brasil, referindo as tecnologias, as energias renováveis, a mobilidade urbana e a saúde como áreas estratégicas.

O primeiro-ministro António Costa concordou que este "é só um exemplo do muito que podemos fazer". E se o Brasil já é um dos grandes investidores em Portugal, Costa referiu que Portugal é apenas o 18º investidor no Brasil, dizendo que, “francamente”, temos ”de subir na nossa posição”. Nesse sentido, segundo o governante, é “fundamental aumentar o investimento”. “Vale a pena trabalhar para aumentar as nossas relações comerciais”, sublinhou, referindo que ao longo deste terceiro dia da visita oficial de Lula da Silva a Portugal serão assinados vários acordos que promovem as parcerias empresariais e económicas para “relançar e fortalecer” as relações entre os dois países.

"O Brasil pode sempre contar com Portugal como verdadeiro ponta de lança para trabalharmos para a conclusão tão rápido quanto possível do acordo entre a União Europeia e o Mercosul", garantiu o primeiro-ministro.

Segundo António Costa, há agora condições para que os dois países possam “trabalhar em conjunto” em várias áreas, referindo a Web Summit, que este ano também acontece no Rio de Janeiro, questões de trabalho e ensino, autorizações de residência e também no que respeita à transição climática, sublinhando que EDP e Galp vão investir 5,7 mil milhões de euros em projetos energéticos no Brasil. "Agora que o Brasil voltou não vamos mais deixá-lo sair", afirmou Costa.

No fórum, foi assinado um memorando entre a Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP) e a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (APEX) com o objetivo de fortalecer as relações económicas e empresariais das duas entidades. Aumentar e diversificar o comércio bilateral são alguns dos objetivos deste memorando, bem como o apoio às pequenas e médias empresas (PME) e 'startup' com elevado potencial de crescimento e base tecnológica.

Foi também assinado um protocolo entre o IAPMEI - Agência para a Competitividade e Inovação e a Federação das Câmaras Portuguesas de Comércio no Brasil.

"O Brasil está preparado para voltar a ser um país importante", diz Lula da Silva. "Não queremos relação hegemónica com ninguém, queremos ter parcerias." O Brasil quer voltar a ser protagonista internacional e conta com Portugal e com as empresas portuguesas para estabelecer parcerias e, poder, assim, exportar os produtos realizado em conjunto a partir de Portugal. 

Lula da Silva deixa, por isso, um desafio a António Costa, para os próximos anos de mandatos de ambos: "Podemos estabelecer uma meta: o que queremos que aconteça entre Brasil e Portugal? Podemos determinar o que queremos que aconteça". 

As críticas de Lula a Jair Bolsonaro

O discurso do presidente brasileiro foi atravessado por uma forte crítica ao seu antecessor, Jair Bolsonaro. "O nosso país esteve afastado do mundo durante quase seis anos", disse Lula da Silva. Mas, agora, o Brasil "voltou a ter um governo que dialoga com o mundo todo" e, ao mesmo tempo, voltou a investir na educação e nas infraestruturas, garante. "O nosso país ficou parado, não andou, não fez aquilo que qualquer governo tem de fazer, que é estabelecer relações e convencer os outros países a investirem no Brasil", disse. Para captar capital externo, um pais tem de ter um presidenteque ofereça "estabilidade política, social e jurídica" e tem de ter credibilidade. E Lula da Silva garante que neste momento as condições estão reunidas. "O Brasil está a voltar à civilidade, estamos a fazer democracia da forma mais plural que pode acontecer."

"A prioridade do meu governo é retomar o desenvolvimento e a inclusão social no país de forma sustentavel", garantiu Lula, referindo a importância de realizar a transição energica e combater os crimes ambientais. 

"A solução do Brasil é voltar a colocar o pobre no orçamento", diz, referindo-se à necessidade de aumentar o poder de compra dos mais pobres, tornando-os consumidores, de forma a estimular a economia, gerar mais empregos e aumentar os salários. "Todo o mundo participando na economia. Já fizemos isto uma vez e vamos voltar a fazer outra vez."

Quarto dia da visita ainda vai ter Prémio Camões

De Matosinhos, o presidente do Brasil segue para Vila Franca de Xira, no distrito de Lisboa, para visitar a EMbraer-OGMA, no Parque Aeronáutico de Alverca.

Daí, parte para Sintra, no distrito de Lisboa, onde será recebido pelo Presidente da República Português, Marcelo Rebelo de Sousa, para participar na cerimónia de entrega do Prémio Camões a Chico Buarque de Holanda, quatro anos depois do artista brasileiro ter sido distinguido.

A cerimónia, que está marcada para as 16:00, no Palácio Nacional de Queluz, no concelho de Sintra, está integrada na visita oficial a Portugal de Lula da Silva, que começou na sexta-feira e decorre até terça-feira, e será presidida pelos chefes de Estado do Brasil e de Portugal.

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