Depois de uma hora fechado num blindado, Guterres teve luz verde para ir ter com Zelensky para ir ver se há luz verde contra a fome - TVI

Depois de uma hora fechado num blindado, Guterres teve luz verde para ir ter com Zelensky para ir ver se há luz verde contra a fome

  • CNN Portugal
  • CF
  • 8 mar 2023, 16:15

Nações Unidas e Ucrânia tentam ver as maneiras de se manter um acordo com a Rússia que é fundamental para evitar a fome em determinadas zonas do globo. Zelensky teme chantagens do Kremlin a este propósito

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António Guterres foi a Kiev resolver assuntos de guerra com Volodymyr Zelensky, sobretudo um assunto que envolve o mundo inteiro: a exportação de cereais através do Mar Negro, ou seja, evitar que a fome afete até os locais mais longínquos do conflito. Em julho do ano passado foi assinado um acordo entre Ucrânia, Rússia, Turquia e Nações Unidas e é preciso renová-lo.

Em conferência de imprensa após o encontro entre o português e o ucraniano, foi confirmado que este acordo "crítico" vai ser renovado a 18 de março - mas só se nenhum dos assinantes se opuser. António Guterres reforçou que a exportação de alimentos e fertilizantes de origem ucraniana e russa é fundamental para assegurar a segurança alimentar em todo o mundo, em particular nos países africanos e do Sul global.

O presidente da Ucrânia lamentou a "chantagem" feita por parte da Rússia, que exige o levantamento de restrições aplicadas pelo Ocidente aos produtos russos, e lembra que a extinção deste acordo resultaria num cenário de "fome global" que afetaria "milhões de pessoas". 

António Guterres esperou cerca de uma hora dentro do carro antes de receber "luz verde"

António Guterres ficou hospedado no Hyatt Recency, um hotel de cinco estrelas no centro de Kiev, e estaria previsto que abandonasse o local por volta das 10:30, hora local (8:30 em Portugal continental). No entanto, o encontro com Zelensky no palácio presidencial acabou por se atrasar: Guterres permaneceu em frente ao hotel por cerca de uma hora, dentro de uma viatura blindada, à espera de "luz verde" para avançar. 

A enviada especial da CNN Portugal à Ucrânia, Carla Rodrigues, esteve presente no local e relata que, em determinado momento desta espera prolongada, o português abandonou a viatura para sair do carro, tirar o casaco e "desentorpecer as pernas" por alguns minutos.

Os motivos do atraso são desconhecidos, mas a repórter da CNN Portugal realça tratar-se de um episódio invulgar - sobretudo por "razões de segurança", tratando-se de uma figura de relevância global em visita a um país em guerra.

O que é o acordo de cereais e porque é tão importante?

O acordo para a exportação de cereais na Ucrânia, também chamado "Acordo do Mar Negro", pretende facilitar a saída de cereais ucranianos e outros produtos alimentícios para os mercados internacionais através do Mar Negro. 

A extensão do acordo é uma das principais iniciativas da ONU no âmbito da guerra, pela sua importância para a segurança alimentar de muitos países. Além da diminuição dos preços dos alimentos, a iniciativa pretende também aliviar cenários de crise alimentar em países vulneráveis, como os do Sul Global. 

O acordo para desbloquear os portos de Kiev foi celebrado no dia 22 de julho de 2022 em Istambul por representantes de Turquia, Nações Unidas, Ucrânia e Rússia, e mais tarde prolongado por 120 dias, em novembro. Se não for renovada, a iniciativa vai expirar a 18 de março. 

É, portanto, fundamental que todas as partes concordem em prolongá-la - o que não tem acontecido. O Ministério dos Negócios Estrangeiros russo afirmou que o acordo opera de forma desigual e acusou o Ocidente de não cumprir as iniciativas relacionadas com a Rússia, como o levantamento de restrições à exportação de produtos agrícolas e fertilizantes de origem russa. 

Segundo o Ministério, cerca de 262.000 toneladas de fertilizantes que a Rússia planeou doar aos países mais pobres estão bloqueadas nos portos da Letónia, Lituânia, Estónia e Países Baixos, tendo sido possível expedir apenas um lote de 20.000 toneladas para o Malawi.

Segurança da central de Zaporizhzhia e crianças raptadas também na agenda

No seu discurso ao lado do presidente ucraniano, António Guterres também frisou a importância de garantir a segurança da central nuclear de Zaporizhzhia, controlada quase desde o início da invasão pelas forças russas.

"Creio que uma possível mediação para procurar a desmilitarização total da área, assegurando ao mesmo tempo que a central possa regressar às operações normais, também seria importante. As Nações Unidas estão prontas a oferecer os seus bons ofícios", disse o líder das Nações Unidas.

A alegada execução de um prisioneiro de guerra ucraniano foi uma "trágica lembrança de que as leis da guerra devem ser estritamente respeitadas", disse Guterres, que garantiu que a ONU vai "continuar a apoiar soluções para problemas humanitários sempre que possível em todas as frentes", dando o exemplo da "expansão" da troca de prisioneiros entre Ucrânia e Rússia.

O presidente ucraniano também vincou a necessidade de "recuperar" todos os soldados ucranianos neste momento em cativeiro. "Temos de recuperar todos os nossos cidadãos - todos eles devem ser libertados", exigiu.

Outro tema levado para a reunião foi o das crianças raptadas pela Rússia nos territórios ocupados, que o governo ucraniano estima que sejam milhares. "Falámos do rapto em grande escala das nossas crianças ucranianas pela Rússia e de como salvá-las deste genocídio, de como devolvê-las às suas famílias. Agradeço ao secretário-geral por apoiar a nossa posição sobre questões particularmente sensíveis", disse o chefe de Estado ucraniano.

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