Vai perder poder de compra? Venha jogar à Roda da Sua Sorte para saber 5 respostas - só 1 é boa - TVI

Vai perder poder de compra? Venha jogar à Roda da Sua Sorte para saber 5 respostas - só 1 é boa

Pensionistas, beneficiários de apoios sociais, funcionários públicos, salários privados… o que está e vai acontecer aos rendimentos? Respostas na rubrica “As Pessoas Não São Números”.

“Ninguém perde qualquer poder de compra”, prometeu o primeiro-ministro. António Costa referia-se ao conjunto de medidas em curso para 2023, mas ao dizê-lo ignorou os efeitos da inflação que já são sentidos este ano de 2022. No total dos dois anos de inflação elevada, os portugueses estão e vão ou não perder poder de compra?

É este o mote da edição desta terça-feira da rubrica “As Pessoas Não São Números”, que simula um jogo da “sorte” para vários grupos da população. E em que se compara a inflação de 2022 e 2023 com a evolução dos rendimentos nos mesmos anos.

Preços 11,7% mais caros em dois anos

Comecemos pelo cálculo da inflação – e usemos as estimativas do próprio governo.

Segundo as últimas previsões, que constam na proposta de Orçamento do Estado para 2023, a inflação fechará este ano nos 7,4% e desacelera em 2023 para 4%.

A inflação nos dois anos, 2022 e 2023, será assim de 11,7%. Quem tiver aumentos de rendimentos superiores a 11,7% ganhará poder de compra, quem os tiver inferiores perderá poder de compra.

[Note-se que a inflação em dois anos não é a mera soma aritmética das duas inflações anuais, uma vez que a inflação do segundo ano incide também sobre a inflação do primeiro ano. A conta em causa é a seguinte: (( (1+0,074) x (1 + 0,04)) -1 ) x 100=11,696].

Pensões perdem mais de 3%

Não é fácil analisar a evolução das pensões, porque ela é desigual: há aumentos em percentagem e há aumentos em valor.

Façamos a conta para duas pensões, uma de 300 euros e outra de 600 euros. Ambos os pensionistas receberam um primeiro aumento extraordinário de €10 (que se mantém para os anos seguintes) e ambos receberam agora mais meia pensão (que não se mantém para os anos seguintes); e ambos terão um aumento de 4,5% em 2023.

Na prática, o pensionista de 300 euros recebeu 4200 euros no total em 2021, recebe 4490 euros no total em 2022 e receberá 4535 euros no total em 2023. Ou seja, é aumentado de 2021 para 2023 em 7,98%, contra uma inflação acumulada de 11,7% no mesmo período. Ou seja, perdeu 3,71% do poder de compra.

Já o pensionista de 600 euros recebeu 8400 euros no total em 2021, recebe 8840 euros no total em 2022 e receberá 8924 euros no total em 2023. Ou seja, é aumentado de 2021 para 2023 em 6,24%, contra uma inflação acumulada de 11,7% no mesmo período. Ou seja, perdeu 5,45% do poder de compra.

Repare-se que estas contas não contemplam o ano de 2024, o tal em que os pensionistas são prejudicados pelo facto de o governo não ter aplicado a fórmula legal de aumento das pensões. Bastam os anos de 2022 e 2023: na combinação dos dois anos, os pensionistas perdem poder de compra.

Apoios sociais perdem 2,62%

Cerca de 1,6 milhões de pessoas recebem apoios sociais em Portugal, incluindo subsídio de desemprego, subsídio social de desemprego, subsídios de doença, Rendimento Social de Inserção (RSI), Complemento Solidário para Idosos (CSI) ou prestação social para a inclusão. Estes apoios são aumentados em função do IAS – Indexante dos Apoios Sociais.

Em 2022, o IAS aumentou de 438,81 para 443,2 euros, ou seja, 1%; em 2023, o aumento será de 8%. No total, portanto, o aumento das prestações sociais em dois anos é de 9,08%. Face a uma inflação combinada de 11,7%, verifica-se uma perda de poder de compra de 2,62%.

Função pública com perdas de quase 4%

O governo diz muitas vezes que, quando se olha para a função pública, não se deve medir apenas os aumentos salariais mas todo o efeito da massa salarial, incluindo portanto promoções e progressões nas carreiras. Aceitemos esse critério nestas contas: ou seja, que os salários na função pública aumentaram este ano não 0,9% mas 2,5% (que é o aumento da massa salarial no Estado até agosto); e que, como prevê o Governo no Orçamento do Estado, o aumento total no próximo ano será de 5,1%.

Mesmo aceitando estas contas do governo, os funcionários públicos perdem poder de compra: 2,5% este ano e 5,1% no próximo totalizam 7,73% de aumento em dois anos. Face a uma inflação de 11,7% nestes dois anos, então os funcionários públicos perdem 3,97% de poder de compra.

Salários da iniciativa privada perdem mais de 2%

Segundo os dados mensais da Segurança Social, os salários dos trabalhadores por conta de outrem estão a subir este ano cerca de 4%. Ora, o governo desafiou os parceiros sociais a procederem a aumentos médios no próximo ano de 5,1%.

Aceitando estes pressupostos, mesmo assim os salários da iniciativa privada perderão poder de compra. Quanto? 2,42%.

Salário mínimo nacional: os únicos ganhadores

Quem ganha o salário mínimo chegará a 2023 com um “aumento” acumulado de 14,3% em dois anos: passou de 665 euros em 2021 para 705 euros este ano (mais 6%) e passará para 760 euros em 2023 (mais 7,8%). De todos estes grupos populacionais, este é o único a ganhar poder de compra: 2,59% em dois anos.

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