Faltam dez minutos para serem conhecidas as projeções das politicamente míticas - místicas? - 20h00: as cadeiras estão praticamente vazias na sede de Pedro Duarte, fica na Avenida dos Aliados que é onde está Rosa Marinha de Oliveira Fernandes, 68 anos, Rosa Marinha de Oliveira Fernandes gosta de ser chamada pelos seus nomes todos, assim seja.
Rosa Marinha de Oliveira Fernandes mexe e remexe numa bandeira que tem nas mãos, parece ansiosa e confiante ou vice-versa, Rosa Marinha de Oliveira Fernandes é do "PPD-PSD desde sempre" e ela também gosta que chamem pelo partido dela com os nomes todos, PPD-PSD, Rosa Marinha de Oliveira Fernandes chama pelo partido como Santana Lopes o faz, correção: como Pedro Santana Lopes o faz. "Fui sempre do partido do meu Sá Carneiro e continuarei a ser, estou aqui porque acredito no Pedro. Tem qualidade. Mesmo no Governo mostrou o que vale.” Sorri. “Já o Dr. Pizarro desiludiu-me. Trabalhei com ele no São João e era arrogante. E agora vem prometer cinco mil casas? Onde é que vai arranjar terreno? Já teve o pelouro da habitação e não fez nada.” Já não sorri tanto.
Veio sozinha, mora nas Antas mas atenção: "Gosto de lá viver mas não gosto de ouvir os festejos do Futebol Clube do Porto”. Sorri outra vez, sorri baixinho. Rosa Marinha de Oliveira Fernandes é do Benfica, perdão: do Sport Lisboa e Benfica. “Mas o meu desporto preferido é outro: o da política.”
Acredita “muito, mas muito mesmo” em Pedro Duarte, recebeu uma promessa dele: “Eu tenho 68 anos, trabalho com crianças. Tenho de descansar a minha cabeça e o ruído na rua ao longo de toda a noite não me deixa. Acredito que o Pedro vai dar a volta a isso. Ai vai vai, já falei com ele na campanha e vai. Prometeu-me que sim. E eu não o largo. Ele ganha e eu não o largo.”
20h00. Rosa Marinha de Oliveira Fernandes grita "podem filmar-me!", é filmada, diz "ganhámos!", ganharam, "se amanhã estiver doente não me importo!”, amanhã é hoje e Rosa Marinha de Oliveira Fernandes festejou desta maneira:
A última vitória social-democrata na cidade foi em 2009, Rosa Marinha de Oliveira Fernandes teve de lidar nesse mesmo ano com os festejos de que não gosta, o Futebol Clube do Porto foi campeão em 2009 com quatro pontos de avanço sobre o Sporting Clube de Portugal e 11 sobre o Sport Lisboa e Benfica, o Nacional da Madeira foi quarto nesse ano em que Rui Rio venceu no Porto com maioria absoluta, que é um tipo festa de que Rosa Marinha de Oliveira Fernandes gosta mais, a festa do seu PPD-PSD em 2025 é festa à mesma mas sem maioria, foi festa à justa: Pedro Duarte teve mais 2.008 votos do que Manuel Pizarro, foram 42.906 para o candidato de PPD-PSD-CDS-IL, tantas siglas quanto os nomes de Rosa Marinha de Oliveira Fernandes, e 40.898 do candidato socialista. 2.008 votos em 83.804.
Mas basta um voto a mais para haver festa, que é o que Fernando Simões está a fazer - festa. Tem 70 anos, vive na Areosa, deixou a mulher e a filha em casa, a filha é enfermeira no Hospital Pedro Hispano, mãe e filha não "ligam tanto à política mas têm o mesmo gosto" de Fernando Simões, que é o gosto pelo PSD.
“Sou militante há muitos anos, apoio o Pedro Duarte porque é do meu partido, claro, mas também porque é uma boa pessoa, alguém que conheço há muito tempo. Alguém que dá valor às ideias, que dá valor às pessoas que colaboram, e isso vê-se pouco hoje em dia.” Para Fernando Simões, o novo presidente da Câmara do Porto “é um homem de proximidade, que ouve os problemas do Porto e que quer resolvê-los. Ele fala sobre segurança, sobre habitação, sobre as zonas verdes, quer um Porto mais bonito, mais respirável, isso é o que importa." Resumindo: “O Porto precisava disto”. E Fernando Simões precisava de estar ali, na sede dos Aliados, precisava de estar por “dever cívico e moral” - porque “mesmo reformado" quer sentir-se "útil". "A política é isso: participar. E esta noite é a prova de que valeu a pena esperar 12 anos.” Doze anos desde a última vitória social-democrata na cidade, a de Rui Rio.
No exterior da sede há festa, grupos de amigos partilham cerveja e abraços - Miguel Barbosa, 17 anos, é um deles, justifica-se: “Vim porque acredito na coligação, acredito na liberdade e quero que os jovens possam sair à noite sem medo”. Diz que a criminalidade é um dos principais problemas da cidade e que, por outro lado, "Pedro Duarte é o único que tem um projeto sério para uma cidade cosmopolita". "Quer melhorar o que foi deixado por Rui Moreira, que fez um bom trabalho mas deixou heranças pesadas. Pedro Duarte é o único que fala sobre os jovens sem nos tratar como um slogan."
Miguel Barbosa tem mais considerações: “O Pedro Duarte não promete o impossível. As cinco mil casas? Inviável. Não há terrenos nem fundos. Foi uma promessa demagógica do Pizarro. O Pedro Duarte é diferente. Quer segurança, quer transportes públicos a funcionar e gratuitos para jovens. Quer um Porto vivo e seguro”. E a seguir Miguel Barbosa aumenta o tom da voz, usa mais volume para vincar os decibéis desta indignação que diz ter: “Nos últimos anos aumentou muito a sensação de insegurança, sobretudo à noite, na Baixa. Os dados podem dizer o contrário, mas quem anda na rua sente. E Pedro Duarte percebeu isso. Falou connosco. Ouviu-nos.”
00h35, contagem praticamente fechada, Manuel Pizarro já tinha reconhecido a derrota e Pedro Duarte faz o discurso de vitória: "O Porto hoje elegeu também um novo líder para o Norte de Portugal. O Porto vai levantar-se contra o centralismo exacerbado no nosso país. Não vamos estar contra ninguém, muito menos contra Lisboa. Nós vamos fazê-lo por Portugal. Pelo interesse do nosso país. Nós precisamos de um novo equilíbrio. E o Porto vai estar na linha de frente a lutar por um país mais equilibrado e mais coeso, onde todos têm as mesmas oportunidades independentemente do local onde vivem". A plateia aprova com aplausos e uma hora depois vem Montenegro para aprovar também, é uma imagem que vale 2.008 votos de diferença: