Esta é a verdadeira razão para ter o telemóvel em modo de voo quando viaja de avião - TVI

Esta é a verdadeira razão para ter o telemóvel em modo de voo quando viaja de avião

  • CNN
  • Doug Drury
  • 18 abr 2023, 19:57
Usar o modo de voo dentro dos aviões. Getty Images

As atuais redes sem fios 5G têm causado preocupação a muita gente dentro da indústria aeronáutica. Mas a questão aqui e causa pode ser outra. E mais social.

Doug Drury é professor, líder de Aviação, na Universidade Central Queensland, nos EUA. Os pontos de vista expressos neste comentário são unicamente os do autor.

 

Conhecemos a rotina de cor: “Por favor, assegure-se de que os assentos estão na posição vertical, que as mesas de tabuleiro estão arrumadas, que as cortinas das janelas estão para cima, que os computadores portáteis estão guardados nos compartimentos e que os dispositivos eletrónicos estão em modo de voo”.

Bom, os quatro primeiros são razoáveis, certo? As cortinas das janelas precisam de estar para cima para que possamos ver se há uma emergência, por exemplo um incêndio. As bandejas têm de ser arrumadas e os assentos na vertical para que possamos sair rapidamente da fila. Os computadores portáteis podem tornar-se projéteis durante uma emergência, uma vez que as bolsas das costas dos assentos não são suficientemente fortes para os conter.

E os telemóveis precisam de ser colocados em modo de voo para que não possam causar uma emergência para o avião, certo? Bem, depende de a quem se pergunta.

A tecnologia tem avançado muito

Os sistemas de navegação e comunicação aéreos dependem de serviços de rádio, que desde os anos 20 do século passado têm sido coordenados de modo a minimizar interferências.

A tecnologia digital atualmente em uso é muito mais avançada do que algumas das tecnologias analógicas mais antigas, que utilizávamos mesmo há 60 anos. A investigação demonstrou que os dispositivos eletrónicos pessoais podem emitir um sinal dentro da mesma banda de frequência que os sistemas de comunicação e navegação da aeronave, criando aquilo que é conhecido como interferência eletromagnética.

Mas em 1992, a Boeing e Autoridade Federal de Aviação dos EUA investigaram, num estudo independente, as interferências da utilização de dispositivos eletrónicos nas aeronaves e não descobriram problemas com computadores ou outros dispositivos eletrónicos pessoais durante as fases não críticas do voo. (As descolagens e aterragens são consideradas as fases críticas).

A Comissão Federal de Comunicações dos EUA também começou a criar larguras de banda de frequência reservadas para diferentes utilizações - tais como telemóveis e navegação e comunicações aeronáuticas - para que não interfiram umas com as outras. Governos de todo o mundo desenvolveram as mesmas estratégias e políticas para evitar problemas de interferência com a aviação. Na União Europeia, os dispositivos eletrónicos estão autorizados a permanecer ligados desde 2014.

2,2 mil milhões de passageiros

Então porque é que, com estas normas globais em vigor, a indústria da aviação continuou a proibir a utilização de telemóveis? Um dos problemas reside em algo que não se pode esperar – interferência terrestre.

As redes sem fios estão ligadas por uma série de torres; as redes podem ficar sobrecarregadas se os passageiros que sobrevoam estas redes terrestres estiverem todos a utilizar os seus telefones. O número de passageiros que voaram em 2021 foi superior a 2,2 mil milhões, e isso é metade do que eram os números de passageiros de 2019. As companhias sem fios podem ter razão neste aspeto.

É claro que, quando se trata de redes móveis, a maior alteração nos últimos anos é a mudança para um novo padrão. As atuais redes sem fios 5G - desejáveis pela possibilidade de transferência de dados com maior velocidade - têm causado preocupação a muita gente dentro da indústria aeronáutica.

A largura de banda de radiofrequência é limitada, mas ainda estamos a tentar acrescentar-lhe mais dispositivos novos. A indústria da aviação salienta que o espectro de largura de banda da rede sem fios 5G está notavelmente próximo do espectro reservado de largura de banda da aviação, o que pode causar interferências com sistemas de navegação próximos de aeroportos que ajudam a aterrar os aviões.

Os operadores aeroportuários na Austrália e nos EUA manifestaram preocupações de segurança aérea ligadas à implantação da rede 5G. No entanto, esta parece ter-se desenrolado sem tais problemas na União Europeia. Seja como for, é prudente limitar a utilização de telemóveis nos aviões enquanto os problemas em torno de 5G são resolvidos.

Em última análise, não podemos esquecer a “fúria aérea”

A maioria das companhias aéreas fornece agora aos clientes serviços Wi-Fi, que ou são pagos à medida que se vai usando ou são gratuitos. Com as novas tecnologias Wi-Fi, os passageiros poderão teoricamente utilizar os seus telemóveis para fazer videochamadas com amigos ou clientes durante o voo.

Num voo recente, falei com uma hospedeira de cabine e pedi a sua opinião sobre a utilização do telefone durante os voos. Seria um inconveniente para a tripulação de cabine esperar que os passageiros terminassem a sua chamada para lhes perguntar se gostariam de alguma bebida ou de algo para comer, explicou ela. Num avião com mais de 200 passageiros, o serviço a bordo levaria mais tempo a concluir se todos estivessem a fazer chamadas telefónicas.

Para mim, o problema da utilização de telefones a bordo é portanto mais a experiência social de ter mais de 200 pessoas num avião, e todas potencialmente a falar ao mesmo tempo. Numa altura em que o comportamento perturbador dos passageiros, incluindo a “fúria aérea”, é cada vez mais frequente, o uso do telefone em voo pode ser outro gatilho que altera toda a experiência de voo.

Os comportamentos perturbadores assumem várias formas, desde o não cumprimento dos requisitos de segurança, tais como a não utilização do cinto de segurança, alterações verbais com companheiros de viagem e tripulação de cabine, até alterações físicas com passageiros e tripulações de cabine – o que é tipicamente identificado como “fúria aérea”.

Em conclusão - a utilização de telefones em voo não prejudica atualmente a capacidade de operação da aeronave. Mas as tripulações de cabina podem preferir não se atrasar na prestação de serviços a bordo a todos os passageiros – porque é muita gente para servir.

Ainda assim, a tecnologia 5G está a invadir a largura de banda de rádio dos sistemas de navegação aérea; precisaremos de mais investigação para responder à pergunta relativa à interferência 5G com a navegação aérea durante a aterragem. Lembre-se: quando estamos a discutir as duas fases mais críticas do voo, as descolagens são opcionais - mas as aterragens são obrigatórias.

 

 

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