Cada novo ano é um desafio à superação. Esta poderia ser uma das frases que guia a carreira de Anderson Miguel da Silva – o Nenê – que aquece motores para o capítulo 21 da carreira profissional.
Como um livro aberto, o avançado recebeu o Maisfutebol, na Vila das Aves, para recordar a transferência para Portugal, para o Nacional do professor Manuel Machado.
No verão de 2008 aterrou no arquipélago da Madeira, proveniente do Cruzeiro. Seguiu-se um ano inesquecível, com 20 golos na Liga, superando Óscar Cardozo e Liedson. Foi decisivo, portanto, para o quarto lugar no campeonato, a sete pontos do pódio.
Numa carreira construída entre Portugal e Itália – onde completou nove épocas, entre Cagliari, Hellas Verona, Spezia e Bari – Nenê guarda palavras de apreço para o «mister» Manuel Machado e valoriza as receções calorosas na Choupana.
Para almejar o sucesso, Nenê prioriza a família, peça-chave para se sentir tranquilo no relvado.
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Maisfutebol – Qual a origem desta alcunha?
Nenê – Foi a minha avó que a criou. Uma pessoa que não foi alfabetizada, naquela altura no Brasil era muito difícil. Foi trabalhar muito nova, pelo que tinha dificuldade em escrever e pronunciar o meu nome – Anderson Miguel Silva. Como tenho dois irmãos mais velhos, foi mais fácil me chamar de «Nenê».
MF – As primeiras memórias no futebol são com a família e os amigos?
N.N – Sempre que podia jogava com os amigos na rua, ou com os meus irmãos. Ganhámos alguns campeonatos e são memórias que levo para a eternidade.
MF – Antes do Vilafranquense, representou o Leixões e o Moreirense. Prefere a vida no Norte de Portugal, apesar de já ter vivido na Madeira?
N.N – Sim. Penso muito na minha família. A Madeira é um lugar muito bom para se viver, estive lá apenas um ano. Hoje tenho outra filha e morar no Norte permite-nos viajar mais. Ao morar no Norte, ao lado da minha família, estou mais tranquilo para trabalhar. É chave do sucesso.
MF – Mora há alguns anos em Guimarães. Porquê esta cidade?
N.N – Quando regresso a Portugal, depois de oito anos em Itália, reforço o Moreirense, em 2018. Como conhecia a cidade de Guimarães, entendemos que seria o ideal, em prol do nosso bem-estar. Seja em Guimarães, Vizela ou Braga, são eles que escolhem o lugar onde moramos. Tenho de os deixar bem para jogar com a mente tranquila.
MF – Não passou os genes do futebol, mas o seu filho estuda uma área que integra o contexto desportivo.
N.N – O Gustavo está em Itália e estuda fisioterapia. No futuro, se continuar no futebol, e ele quiser integrar o «staff», com certeza será convidado.
MF – Muitos jogadores optam por outros destinos, como a Arábia Saudita e os EUA. Há um ano teve uma proposta do futebol saudita. E este verão?
N.N – Não tive propostas [risos]. Muitos jogadores, ao escolherem esses projetos, pretendem conhecer novos contextos. Mas, eu estou também concentrado no pós-carreira. Quando parar, não sei se terei a oportunidade de continuar neste projeto. Mas, penso muito na minha família, pelo que não tenho planos para deixar Portugal.
MF – Recuando ao verão de 2009, após a época pelo Nacional, quanto valeria aquela transferência para Itália, por quatro milhões de euros, se acontecesse em 2024?
N.N – Hoje há jovens a serem vendidos por 30 ou 40 milhões de euros. Naquela época era ainda jovem [25 anos], valeria mais do quatro milhões.
MF – Está claro que guarda boas memórias da Madeira e do Nacional. O que sente ao voltar à Choupana?
N.N – É uma grande emoção, porque só tenho a agradecer ao Nacional. Fui contratado quando estava no Cruzeiro. Depois de uma lesão, as portas fecharam-se. Mas, o Nacional abriu as portas da Europa. Quero também agradecer ao mister Manuel Machado, a pessoa que acreditou em mim.
Sentir o carinho daqueles adeptos, mesmo jogando por uma equipa adversária e «rival» na luta pela subida, foi uma grande emoção. Só guardo boas memórias daquela época e levarei o Nacional sempre no coração, porque me deram a oportunidade de fazer carreira na Europa.
MF – Que sonhos ainda guarda, enquanto jogador?
N.N – Um objetivo que ficou por alcançar foi jogar pela seleção do Brasil. Após a época pelo Nacional, pensei que poderia surgir essa oportunidade. Infelizmente não aconteceu, mas era uma seleção com muitos craques. Faz parte. É um sonho que guardo. Não alcancei como jogador, mas, quem sabe, enquanto treinador.
MF – Quem é o Nenê fora do campo?
N.N – Uma pessoa tranquila, que gosta de estar com a família, de acompanhar a rotina dos filhos, passear quando possível e, por vezes, «largar» o mundo do futebol. A nossa família merece atenção total. Devemos apoiar ao máximo porque é difícil, para eles, viver esta nossa realidade.
MF – Algum estilo musical?
N.N – Gosto de músicas evangélicas, músicas de Deus, que nos transmitem calma. Deus é fiel. Essas músicas ajudam-me a chegar mais longe.