O preço do bacalhau deverá aumentar em cerca de 20% em 2025 devido à redução das quotas de pesca no mar do Norte, alertou o administrador da Lugrade - Bacalhau de Coimbra SA, Joselito Lucas.
"Este ano, já estamos a atingir valores recordes no preço do bacalhau, mas a expectativa é a de que continue a subir dada a redução de quota prevista para 2025", disse o administrador à agência Lusa.
Segundo o empresário, a quantidade de bacalhau pescado a nível global em 2025 "vai ser metade ou pouco mais de metade" daquilo que foi em 2021.
Se o aumento de preço acompanhar a redução de quota, Joselito Lucas estima um aumento de preço na casa dos 20%, embora tudo dependa da reação do consumidor e da forma como vai fazer mexer a lei da oferta e da procura.
"O bacalhau já está muito caro e com mais 20% de aumento pode provocar uma redução drástica de consumo, que obviamente preocupa todo o setor", salientou.
O forte da Lugrade continua a ser o bacalhau seco, mas as vendas de bacalhau demolhado ultracongelado têm subido significativamente e a tendência futura será para "ultrapassar o seco", já que atualmente a diferença nas vendas "não é assim tão grande".
Em 2026, com a reconstrução da unidade da Torre de Vilela, destruída por um incêndio em 2023, cujas obras arrancam no primeiro trimestre de 2025, as vendas de bacalhau demolhado ultracongelado devem continuar a subir, admitiu Joselito Lucas.
"Com o aumento da capacidade de produção prevista e o controlo de todo o processo de produção, acreditamos vir a ter um crescimento no bacalhau demolhado ultracongelado", sustentou o administrador, adiantando que a reconstrução da fábrica de Torre de Vilela vai ser aproveitada para quase duplicar a área útil da unidade, de 6.000 para mais de 10 mil metros quadrados.
Com a proximidade do Natal, época em que o fiel amigo não costuma faltar à mesa dos portugueses, a Lugrade relançou este ano o bacalhau vintage, pescado na Islândia, com 20 meses de secura, uma referência criada há oito anos, mas que o ano passado não se comercializou por falta de 'stock'.
Em compensação, a empresa lançou em 2023 o bacalhau Magnus, pescado na Noruega, com um peso cada vez mais difícil de se encontrar, à volta dos seis quilos, em média, "que veio proporcionar na mesa um grande lombo de partilha com toda a família".
Na edição deste ano, a empresa lançou para o mercado 2.100 unidades de Vintage e 1.000 bacalhaus Magnus, que foram entregues aos canais de distribuição.
"Acabamos por ter produtos distintos para diferentes tipos de apreciadores, mas em quantidades muito limitadas", sublinhou o administrador Joselito Lucas.
Anualmente, a Lugrade necessita de mais de 10 mil toneladas de bacalhau à saída de água, o que representa entre quatro mil a quatro mil e quinhentas toneladas de produto acabado, "porque o bacalhau desde que sai da água até estar processado tem uma perda muito grande, de quase 80% no caso do seco".
A empresa sediada em Coimbra importa bacalhau de vários países, com principal destaque para a Noruega e Islândia, seguindo-se, com menor expressão, a Gronelândia e as Ilhas Faroé.
"Aquilo que pretendemos é continuar a produzir bem, acrescentar valor, manter a integridade da marca e colocar na mesa dos portugueses um bom produto, esse é o nosso objetivo", enfatizou Joselito Lucas.
Portugal comprou menos bacalhau à Noruega este ano mas preço subiu
As exportações de bacalhau da Noruega para Portugal desceram, este ano, nas várias categorias, mas o preço aumentou, destacando-se o bacalhau fresco, com um acréscimo de 44%, segundo dados do Conselho Norueguês das Pescas (NSC) enviados à Lusa.
“[…] Existe, de facto, um aumento do preço de exportação para Portugal a partir da Noruega e vemos que há uma clara relação entre volume e preço: há uma pequena descida no volume de exportação e um aumento no preço”, afirmou, em resposta à Lusa, o NSC.
Entre janeiro e outubro, foram exportadas 14.960 toneladas de bacalhau salgado seco inteiro, um decréscimo de 7% face ao ano passado, mas o preço aumentou 8%.
Por sua vez, as exportações de bacalhau salgado verde inteiro recuaram 13% para 14.708 toneladas e o preço subiu 16%.
No caso do bacalhau congelado, as exportações atingiram 506 toneladas, 82% abaixo dos dados de 2023, enquanto o preço cresceu 24%.
Até outubro, a Noruega exportou 71 toneladas de bacalhau fresco, uma quebra de 92% e o preço aumentou 44%.
Nos primeiros nove meses do ano, de acordo com os dados avançados pelo NSC, o preço médio do bacalhau para o consumidor manteve-se “num nível normal em comparação com o ano passado”.
Já entre janeiro e agosto, o preço médio foi inferior ao de 2023, com exceção de setembro.
Contudo, no retalho os preços estão agora a aumentar, sobretudo nos tamanhos maiores e nos produtos especiais para o Natal.
“[…] Ao longo deste ano, no retalho, assistimos à procura de tamanhos mais pequenos (crescido e corrente), e o ‘mix de produtos’ mudou muito para estes tamanhos mais pequenos. Os níveis de preços do bacalhau crescido e do corrente têm estado baixos durante todo o ano e não temos assistido a muitas promoções nos tamanhos maiores. É claro que isto afeta os níveis médios de preços em todas as categorias de bacalhau”, explicou.
O NSC disse ainda que, à partida, o preço médio do ano será mais elevado do que no ano passado, tendo em conta que o Natal é a época alta para a compra de tamanhos maiores, com preços mais elevados.
Já o consumo, em Portugal, tem vindo a aumentar em todas as categorias de bacalhau salgado seco tradicional, mas no bacalhau congelado a tendência não foi tão linear.
Este ano, foram compradas 748 toneladas de bacalhau corrente (mais 10%), 4.317 toneladas de bacalhau crescido (57%), 1.894 toneladas de bacalhau graúdo (25%) e 554 toneladas de bacalhau especial (7%).
No que diz respeito ao bacalhau congelado, verifica-se que foram compradas 2.298 toneladas em postas (41%), 1.328 toneladas de lombos (24%), 885 toneladas de bacalhau congelado desfiado (16%) e 722 toneladas de caldeirada (13%).
Em Portugal, o consumo ‘per capita’ de todos os produtos de bacalhau ronda os 15 quilogramas (kg).
O NSC, empresa pública que pertence ao Ministério do Comércio, Indústrias e Pescas da Noruega, acredita que este nível venha a reduzir-se este ano.