Os maiores bancos portugueses preparam-se para entregar aos seus acionistas – em suma, espanhóis e o Estado português – um montante total de 1,15 mil milhões de euros em dividendos, o que corresponde a mais de 40% dos lucros históricos obtidos no ano passado à boleia da subida das taxas de juro.
Em relação a 2022, a remuneração aos acionistas dá um salto de 33%, ainda que, entre as cinco principais instituições financeiras em Portugal, duas não façam qualquer pagamento: o Novobanco, que continua proibido de o fazer, devido ao acordo de capital contingente, válido até 2025, isto apesar dos lucros recorde de 560,8 milhões no ano passado; e o BCP que, embora tenha registado um resultado positivo de 207,5 milhões, preferiu congelar o dividendo tendo em conta a situação de incerteza que enfrenta no mercado polaco devido aos empréstimos em francos suíços.
Em todo o caso, contas feitas, os lucros dos cinco principais bancos atingiram os 2.582,3 milhões de euros no ano passado, o melhor ano em muito tempo. Com as propostas de dividendos em cima da mesa, isto significa que, por cada 100 euros de lucro, com 44 euros vão para os bolsos dos acionistas. Que são apenas três.
Dividendos e Payout
800 milhões a caminho de Espanha
O maior dividendo será atribuído pelo Santander Totta à casa-mãe espanhola, o grupo Santander, num montante – sabe-se agora – de 508 milhões de euros, depois de mais do que duplicar os lucros para mais de 600 milhões em 2022.
O dividendo – que corresponde a 80% do resultado – é praticamente o dobro do que o banco liderado por Pedro Castro e Almeida tinha distribuído no ano passado, de 273 milhões.
Espanha será o destino de 70% dos dividendos da banca em Portugal, correspondendo a quase 800 milhões, já que, além do Totta, também o BPI vai entregar outros 285 milhões ao seu acionista espanhol, o CaixaBank.
O banco liderado por João Pedro Oliveira e Costa registou lucros de 365 milhões em 2022. A atividade em Portugal deu um resultado de 235 milhões, sendo que 65% do lucro irá para o acionista espanhol (cerca de 153 milhões). Já as operações em Angola e Moçambique deram, respetivamente, 96 milhões e 34 milhões ao BPI, que encaminhará a totalidade desses resultados para Madrid.
Estado recebe 350 milhões e a sede da Caixa
Quanto à Caixa Geral de Depósitos (CGD), o Estado contará com um “dividendo fantástico”, de acordo com o CEO do banco público, Paulo Macedo. A CGD teve lucros de 843 milhões no ano passado, muito perto do resultado histórico de 856 milhões obtido em 2007.
Além do dividendo de 352 milhões em numerário, a Caixa prepara-se também para entregar o edifício-sede em Lisboa sob a forma de dividendo em espécie ao acionista público – com o objetivo de o Governo instalar ali o seu quartel-general. O valor do imóvel ainda se encontra em avaliação, mas valerá mais do que 300 milhões. “Só por sorte é que será 300 milhões”, disse Paulo Macedo, apontando a avaliação para cima. O dividendo em espécie não foi considerado nestas contas.