BCE aumenta juros mas mercados reagem de forma positiva. "Fim do ciclo de subidas dos juros pode estar a aproximar-se” - TVI

BCE aumenta juros mas mercados reagem de forma positiva. "Fim do ciclo de subidas dos juros pode estar a aproximar-se”

  • Filipe Maria
  • 2 fev 2023, 21:06
Banco Central Europeu (GettyImages)

BCE aumentou as taxas de juro em 50 pontos base, tendo já na mira um novo aumento em março. As famílias e as empresas devem preparar-se para um financiamento cada vez mais caro, mas nem tudo são más notícias

Relacionados

O Banco Central Europeu (BCE) optou por não aliviar a subida das taxas de juro de referência e a taxa de depósito passou dos anteriores 2% para os 2,5%. No entanto, a entidade liderada por Christine Lagarde foi mais longe e anunciou mesmo um novo aumento, igualmente de 50 pontos base, já em março, o que deixa a taxa de depósito do BCE nos 3%.

Segundo a entidade europeia, as pressões sobre a inflação levam o Conselho do BCE a esta decisão, que avaliará depois de março a “trajetória subsequente da política monetária”. Para Pedro Lino, CEO da Optimize Investment Partners, isto pode ser interpretado como boas notícias, pois o que as palavras da presidente do BCE indicam é que “o ritmo de subidas das taxas de juros ou vai abrandar ou pode até parar”.

No entanto, o CEO ressalva que um cenário em que as taxas de juro param de aumentar é provável que não aconteça, sendo que, no seu lugar, podem antes “abrandar substancialmente”. Para o líder da Optimize, o que está em causa é um cenário, após março, em que as taxas de juro podem ter mais uma subida de 0,25%, passando assim para o patamar dos 3,25%, mas que, em seguida, estabilizam nesse nível dependendo dos dados macroeconómicos.

A alimentar este otimismo está a reação “em alta” dos mercados às palavras de Lagarde, sendo este o cenário - de uma desaceleração das taxas de juro - para o qual os investidores agora apostam. Pedro Lino esclarece que isto são boas notícias pois este estava a ser o maior ritmo de subida das taxas de juro dos últimos 40 anos, algo que “começava a assustar” investidores, famílias e empresas.

Filipe Garcia, presidente da IMF - Informação de Mercados Financeiros também segue esta linha de raciocínio ao considerar que o discurso de Lagarde foi “ligeiramente mais dovish, ou menos agressivo do que o esperado”. Neste sentido, os mercados leram o anúncio do BCE e da FED, nos Estados Unidos, da mesma forma: “Considerando que o fim do ciclo de subidas dos juros pode estar a aproximar-se”.

Por outro lado, o presidente da IMF aponta que o consenso é de que haverá pelo menos mais uma ou duas subidas de 25 pontos base cada.

Famílias e empresas têm de ser cautelosos

Embora o discurso de Lagarde tenha sido recebido de forma positiva pelos mercados, para as famílias as implicações já são outras. Pedro Lino explica que a expectativa do mercado é que no final de 2024 as taxas de juro já estejam mais baixas em até -0,75%, ou seja, no patamar dos 2,5%, o que seria um valor mais baixo que o esperado no final do ano atual.

Por outras palavras, as famílias têm de se preparar para taxas superiores a 3%, pois o alívio "só vai ser sentido entre o segundo e o último trimestre de 2024", esclarece o economista da Optimize. Filipa Garcia acrescenta ainda que as projeções de mercado apontam para que o “topo” da Euribor no prazo de seis meses fique perto dos 3,5%, ou seja, “as euribors continuarão a subir, sobretudo as de maturidades mais curtas”, embora a maior parte desta subida já esteja feita.

Por outro lado, para as empresas esta subida das taxas de juro implica um aumento do custo de financiamento, pelo que estas devem agora ser “muito mais seletivas nos seus investimentos”.

"Acabou a facilidade do Banco Central de poder estar sempre a imprimir dinheiro e a facilitar a liquidez e isso implica algo que devia estar sempre nas mãos das empresas, que é investir com critério”, aponta Pedro Lino, CEO da Optimize Investment Partners.

 As novas condições de financiamento implicam que as empresas mais endividadas passem por algumas dificuldades, pelo que “vão ter que se estruturar”, refere Pedro Lino. Por outro lado, as empresas a planear novos investimentos “muito provavelmente vão pensar duas vezes” ou diminuir a sua rentabilidade ou até mesmo adiar alguns projetos de investimento, acrescenta o CEO. Também é em parte por este motivo que Lino garante haver grandes empresas americanas em despedimentos.

Despedimentos vão aumentar

O aumento da taxa de juros vai, no fundo, refletir-se na diminuição do investimento e, provavelmente, no aumento do desemprego, diz Pedro Lino. Também  Filipe Garcia vai ao encontro desta leitura, ao considerar que “provavelmente este ano veremos uma subida da taxa de desemprego”.

Isto acontece porque o mercado de trabalho representa uma variável com desfasamento do ciclo económico, ou seja, “só depois de alguns meses de desaceleração económica é que se vai notando uma quebra no emprego”.

Ainda assim, o presidente da IMF sublinha que as palavras de Lagarde notam que o trabalho de conter a inflação não está concluído, mesmo que a economia esteja hoje mais resiliente.

Neste sentido, Garcia sustém que Lagarde “deu a entender que a atividade continuará fraca e que muito da evolução da inflação dependerá dos salários e de os governos retirarem apoios quando os preços da energia estabilizarem”.

Continue a ler esta notícia

Relacionados