Desde o início do ano que o volume de depósitos de clientes da banca nacional minguou 4,6%. De acordo com cálculos do ECO, nos primeiros três meses do ano saíram dos balanços dos bancos cerca de 14,4 mil milhões de euros, o equivalente a quase 5% do stock atual alocado em depósitos.
Só os cinco maiores bancos contabilizaram a saída de 7,4 mil milhões de euros de depósitos domésticos entre janeiro e março deste ano, de acordo com os relatórios e contas referentes ao primeiro trimestre. No entanto, são os bancos mais pequenos que estão a sofrer mais com a fuga de depósitos.
De acordo com os cálculos do ECO, os bancos de menor dimensão a operar no mercado nacional terão registado uma quebra de 7 mil milhões de euros de depósitos no primeiro trimestre. Trata-se de uma contração de 7,5%, mais do dobro da verificada pelos cinco maiores bancos.
Isto acontece mesmo num ambiente marcado por uma maior proatividade por parte dos bancos de menor dimensão, face aos grandes, para aumentarem as taxas de remuneração dos depósitos.
António Nogueira Leite, economista e vice-presidente executivo da Caixa Geral de Depósitos entre julho de 2011 e janeiro de 2013, justifica este comportamento por inércia e gestão de risco dos aforradores.
Se, por um lado, “os investidores associam mais risco aos bancos mais pequenos”, o ex-banqueiro revela que também há uma grande inércia por parte dos aforradores, particularmente dos mais velhos, em retirarem as suas poupanças de um banco para outro que esteja a pagar mais pelos depósitos.
Impacto dos depósitos nos grandes bancos
Considerando apenas os depósitos de particulares e de empresas registados pelo Banco de Portugal, há três meses consecutivos que a banca regista uma fuga de depósitos. Nunca os bancos assistiram a uma saída tão grande de recursos em tão pouco tempo.
Só nos dois primeiros meses do ano, empresas e famílias resgataram mais de 3,8 mil milhões de euros por mês que estavam aplicados em depósitos. Segundo dados do Banco de Portugal, janeiro e fevereiro foram mesmo os dois meses em que se registaram os maiores volumes de saída de dinheiro de depósitos desde 1979.
Entre os cinco maiores bancos, o Banco BPI foi o que mais sentiu, em termos relativos, a saída das poupanças dos aforradores no primeiro trimestre, registando uma queda de 6,3% dos depósitos, ou cerca de 1,9 mil milhões de euros. “Esta redução foi de 50% nas empresas e de 50% dos particulares”, adiantou João Pedro Oliveira e Costa, CEO do Banco BPI, na apresentação das contas do banco referentes ao primeiro trimestre.
Segundo o banqueiro, nas empresas, a redução dos depósitos “explica-se com aplicações de curto prazo que se venceram no primeiro trimestre”. Já no caso dos particulares, “um terço explica-se com aplicações noutros produtos do banco e outra parte saiu para os Certificados de Aforro”, referiu João Pedro Oliveira e Costa. O facto de o banco continuar a remunerar grande parte dos seus depósitos em euros com taxas nulas não ajudará a convencer os aforradores a aplicarem o seu dinheiro em depósitos do banco.
Só no primeiro trimestre deste ano, as famílias aplicaram mais de 9 mil milhões de euros das suas poupanças em Certificados de Aforro. Cerca de 60 vezes mais do que os 150 milhões de euros que tinham sido registados no primeiro trimestre de 2022. Além disso, também as aplicações de particulares em fundos de investimento disparou quase mil milhões de euros nos primeiros três meses deste ano, segundo os dados do Banco de Portugal.
No entanto, para o BPI, tal como para todos os outros grandes bancos, a fuga de depósitos nos primeiros três meses do ano não é, para já, um motivo de grande preocupação. Apesar de terem visto sair 7,4 mil milhões de euros e o rácio de transformação de depósitos em crédito até ter subido face ao registado no primeiro trimestre de 2022, este rácio permanece em níveis historicamente baixo.
De acordo com cálculos do ECO, o rácio de transformação dos cinco maiores bancos no final do primeiro trimestres era de 88%: um rácio semelhante ao contabilizado em 2020 e quase metade dos valores recordes registados entre 2007 e 2009, quando a banca nacional operava com taxas de transformação médias acima dos 160%.