Encolher a barriga durante um longo período pode levar ao desenvolvimento da ‘síndrome de ampulheta’, uma alteração na parede abdominal que passa a ter uma dobra que “ao longo do tempo pode ser visível”, alerta a fisioterapeuta Carolina Silva.
O desenvolvimento desta síndrome no organismo “pode ter consequências prejudiciais para a saúde”. Pode até afetar a respiração reduzindo a quantidade de oxigénio que chega às células, aumentando o risco de fadiga, explica Carolina Silva.
Quando escolhemos a barriga, aumentamos a pressão intra-abdominal superior, enquanto reduzimos o espaço da cavidade do abdómen. O que faz com que o diafragma (o músculo que ajuda o pulmão a encher-se e esvaziar-se de ar) não tenha espaço suficiente para fazer a sua excursão e expandir-se quando inspiramos. Isto resulta numa menor quantidade de ar inspirado e, por conseguinte, menos oxigénio a chegar ao sangue a fim de oxigenar os tecidos”, explica a fisioterapeuta Carolina Silva.
As investigações feitas ainda não são conclusivas quanto ao efeito da síndrome na capacidade respiratória, mas verificou-se que o uso de uma cinta no abdómen (para recuperação muscular ou após cirurgia) reduz em 34% a quantidade de ar expirado e uma redução de 27% a 40% na capacidade pulmonar total. A curto prazo pode provocar cansaço com maior rapidez devido à redução de oxigénio na corrente sanguínea. A longo prazo é ainda incerto os efeitos que pode trazer, segundo o site académico australiano The Conversation.
Além de afetar a respiração, uma contração abdominal inadequada pode afetar os órgãos do pavimento pélvico, como a bexiga e o útero, por exemplo. A fisioterapeuta Nádia Lima explica porquê. Quando se encolhe a barriga dá-se um desequilíbrio muscular pressionando o pavimento pélvico, que “pode despoletar algumas disfunções e prolapso dos órgãos pélvicos”, explica a especialista. Podem ainda ocorrer perdas da urina e para quem já tem problemas de disfunção do pavimento pélvico, como incontinência urinária, por exemplo, a pressão no estômago pode agravar o distúrbio, sublinha Carolina Silva.
Ainda que encolher a barriga para “uma foto na praia não faça mal”, se o fizer regularmente “por uma questão de imagem corporal” pode desenvolver esta síndrome. Esta também se pode desenvolver caso contraía a barriga voluntária ou involuntariamente para aliviar a dor proveniente de “disfunções associadas ao estômago, fígado e vesícula biliar", indica a fisioterapeuta Carolina Silva.
De acordo com a fisioterapeuta Nádia Lima, convém tornar-se “mais consciente dos hábitos de contração do abdômen” e se sentir apertos no estômago, sensação de náusea, dor na região lombar e cervical procure ajuda médica junto de um fisioterapeuta e médico gastroenterologista, pois estes são sintomas do 'síndrome de ampulheta', adverte a especialista Nádia Lima.
A boa notícia é que esta síndrome é reversível e caso sinta alguns dos sintomas, para além de procurar um especialista, pode praticar respiração diafragmática autonomamente. A especialista Carolina silva explica como se faz: “deitado no chão, de barriga para cima e joelhos dobrados com os pés apoiados na superfície. Colocar as mãos na barriga, inspirar pelo nariz, enchendo a barriga como se fosse um balão, fazendo assim as mãos subirem com o movimento, e depois expirar suavemente, soltando o ar pela boca e sentido a mão e barriga descer e voltar ao normal”