É pouco provável que, num futuro próximo, o banco central possa afirmar com plena confiança que as taxas máximas foram atingidas. É por isso que a nossa política tem de ser decidida reunião a reunião, e tem de continuar a depender dos dados”, Christine Lagarde, presidente do Banco Central Europeu.
A líder do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, deixou esta semana a certeza de que as taxas diretoras do BCE vão subir novamente em julho quando o conselho de governadores se reunir no dia 27. Uma subida que já estava antecipada e que a generalidade dos analistas acredita que irá atingir 0,25 pontos percentuais. O objetivo é o mesmo de sempre, tentar recolocar a taxa de inflação da zona euro, atualmente acima dos 6%, próxima de 2%.
As declarações de Lagarde, feitas em Sintra, durante a reunião anual do BCE que junta os líderes dos principais bancos centrais do mundo, serviram também para deixar a certeza de que o banco central não se compromete com uma data para dizer que a subida de juros acabou. E que as taxas de juro terão de ser mantidas altas por um longo período.
Um discurso ortodoxo que tem tido efeito nas convicções dos mercados. Se no início deste mês um inquérito realizado pela agência Reuters a 59 economistas antevia que a subida de juros a realizar em julho era certa, a maioria dos mesmos economistas acreditava que seria a última de 2023. Hoje, a crença dos mercados é outra. E aponta para uma nova subida das taxas em setembro ou outubro. Tudo vai depender, mais uma vez, dos dados da inflação.
NOTA | O BCE tem três taxas de juro de referência:
- A taxa das principais operações de refinanciamento, sob a qual os bancos podem contrair empréstimos junto do BCE pelo prazo de uma semana: está atualmente nos 4%, mas esteve fixada em zero entre março de 2016 e julho do ano passado;
- A taxa de depósito, que determina os juros que os bancos recebem pelos depósitos realizados junto do BCE: está atualmente em 3,5%. Mas entre julho de 2012 e junho de 2013 era de zero. E entre junho de 2013 e julho do ano passado era negativa, obrigando os bancos a pagar pelos depósitos que faziam no BCE;
- E a taxa de cedência de liquidez, que determina o juro a que os bancos pagam quando contraem empréstimos junto do BCE pelo prazo de um dia (overnight). Está atualmente em 4,25%.
Depois das más, as (quase) boas notícias
Sem garantias em relação ao futuro, a certeza que existe é que em junho, ainda faltando os dados desta quinta-feira e os dados de amanhã, a média mensal das taxas Euribor voltou a subir. A média da Euribor a 12 meses, por exemplo, a mais utilizada nos contratos de crédito à habitação em Portugal, está mesmo prestes a romper a barreira dos 4%.
E com o BCE a subir taxas de juro, inevitavelmente, as taxas Euribor também deverão continuar a subir. Essa é, pelo menos, a tendência que os mercados continuam a antecipar. A Euribor a três meses, que em junho chegou a um valor ligeiramente acima dos 3,5%, deverá continuar a subir até ao final do ano, mas não deverá atingir a barreira dos 4%. E no início de 2024 poderá mesmo registar uma ligeira descida. A Euribor a seis meses, que atingiu em junho um valor acima dos 3,8%, deverá ultrapassar a barreira dos 4% em novembro, começando a registar ligeiras descidas depois disso. Já a Euribor a 12 meses também continuará a subir para valores ligeiramente acima dos 4%, mas os mercados antecipam que dentro de um ano já possa estar em patamares próximos dos 3,6%.
Estas previsões variam quase diariamente, mas parecem, para já, mostrar que a subida das taxas está prestes a acabar, pondo também fim às más notícias sobre subidas de taxas de juro.
E olhando para os dados já conhecidos, essa possibilidade sai ainda mais reforçada. As taxas de juro ainda não pararam de aumentar, mas as subidas têm sido menores de mês para mês.
Quem tenha o seu contrato revisto em julho terá na base dessa revisão os dados da Euribor de junho, quem reviu o seu contrato este mês teve como base a taxa de maio e assim sucessivamente. E o que os dados mostram é que nos contratos indexados à Euribor a 12 meses, os acréscimos de taxa de juro têm vindo a ser cada vez menores desde março. Já nos contratos indexados à Euribor a seis e a três meses, os acréscimos de taxas de juro têm vindo a ser cada vez menores desde novembro do ano passado.
Prestação volta a aumentar
Enquanto as taxas de juro não pararem de subir, o aumento da prestação a pagar ao banco torna-se inevitável. E julho não será exceção.
Para um contrato de 150 mil euros a 30 anos, indexado à Euribor a 12 meses e com um spread (margem do banco) de 1%, a subida da prestação vai ultrapassar os 260 euros.
O retrato do crédito à habitação em Portugal mostra, no entanto, que, em média, e tendo em conta o total do stock do crédito à habitação existente, o valor médio do capital em dívida de cada contrato é ligeiramente superior a 63 mil euros, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE). Assim, para um contrato deste valor, também indexado à Euribor a 12 meses e com um spread de 1%, a prestação passaria de um valor de cerca de 228 euros para 338 euros, um acréscimo de 110 euros.
Os dados do Banco de Portugal mostram, por outro lado, que a prestação média em Portugal, tendo em conta a totalidade do stock de crédito, é de 372 euros, que 75% dos contratos existentes têm uma prestação mensal inferior a 455 euros e que apenas 10% dos contratos têm uma prestação superior a 641 euros.
Quanto já aumentou e quanto vai subir em junho a prestação da casa
Empréstimo a 30 anos com spread de 1%
EURIBOR A 3 MESES
Empréstimo de 25 mil euros
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Empréstimo de 50 mil euros
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Empréstimo de 75 mil euros
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Empréstimo de 100 mil euros
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Empréstimo de 125 mil euros
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Empréstimo de 150 mil euros
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EURIBOR A 6 MESES
Empréstimo de 25 mil euros
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Empréstimo de 50 mil euros
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Empréstimo de 75 mil euros
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Empréstimo de 100 mil euros
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Empréstimo de 125 mil euros
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Empréstimo de 150 mil euros
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EURIBOR A 12 MESES
Empréstimo de 25 mil euros
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Empréstimo de 50 mil euros
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Empréstimo de 75 mil euros
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Empréstimo de 100 mil euros
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Empréstimo de 125 mil euros
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Empréstimo de 150 mil euros
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