Aung San Suu Kyi foi condenada a quatro anos de prisão por um tribunal de Myanmar por incitamento à violência e violação das restrições por causa da covid-19.
De acordo com a CNN, a ativista, de 76 anos, foi condenada, em primeira instância, "a dois anos de prisão ao abrigo da secção 505(b) e a dois anos de prisão ao abrigo da Lei sobre Desastres Naturais", de acordo com um porta-voz da junta militar, Zaw Min Tun.
O antigo presidente Win Myint foi condenado à mesma pena. Para já, os dois ex-governantes não darão entrada na prisão.
"Eles ainda têm de responder a outras acusações, a partir dos locais onde se encontram atualmente", acrescentou o porta-voz da junta militar, Zaw Min Tun.
Suu Kyi, que ganhou o prémio Nobel da Paz, enfrenta dezenas de acusações em tribunal, incluindo várias acusações por violação dos protocolos da covid-19 e violação da Lei de Segredos Oficiais. Todas as sentenças máximas combinadas resultam em mais de 100 anos.
Em tribunal, a ativista rejeitou todas as acusações.
Amnistia Internacional denuncia "acusações falsas"
A Amnistia Internacional criticou a condenação de Aung San Suu Kyi, denunciando "acusações falsas" e acusando a junta militar de "sufocar as liberdades".
"As pesadas penas infligidas a Aung San Suu Kyi com base em acusações falsas são o mais recente exemplo da determinação dos militares em eliminar toda a oposição e sufocar as liberdades", disse a organização de defesa dos direitos humanos, em comunicado.
"A decisão absurda e corrupta do tribunal faz parte de um padrão devastador de sanções arbitrárias", acusou ainda o diretor-adjunto regional da AI, Ming Yu Hah, recordando que a repressão dos militares já fez mais de 1.300 mortos e levou à detenção de milhares de pessoas.
Para Richard Horsey, do Grupo Internacional de Crise, um 'think tank' fundado em 1995 para prevenir conflitos, sediado em Bruxelas, as condenações "equivalem a vingança e a uma demonstração de poder pelos militares".
"Seria, no entanto, surpreendente se [Aung San Suu Kyi] fosse enviada para a prisão. É mais provável que cumpra esta pena e as seguintes na sua casa ou num alojamento fornecido pelo regime", comentou à AFP o especialista em Myanmar.
Sufocar a oposição
O Governo britânico considerou que a condenação da líder birmanesa é uma "tentativa terrível (...) de sufocar a oposição".
"A condenação de Aung San Suu Kyi é mais uma tentativa terrível do regime militar de Myanmar (antiga Birmânia) de sufocar a oposição e suprimir a liberdade e a democracia. O Reino Unido apela ao regime para libertar os presos políticos e comprometer-se com o diálogo no sentido de permitir o regresso da democracia", refere um comunicado da chefe da diplomacia britânica, Liz Truss.
Aung San Suu Kyi, 76 anos, encontra-se sob regime de prisão domiciliária desde o golpe de Estado militar.
Julgada desde o passado mês de junho, Aung San Suu Kyi é acusada de vários crimes: importação ilegal de aparelhos de telecomunicações (walkie-talkies), sedição, corrupção e fraude eleitoral, entre outros.
O próximo veredicto deve ser conhecido no próximo dia 14 de dezembro, por mais uma "infração à lei de catástrofes naturais".
Os jornalistas foram impedidos de acompanhar as sessões em tribunal e os advogados de defesa foram proibidos de qualquer contacto com a imprensa.
De acordo com uma organização de defesa de direitos humanos local, em contacto com a Amnistia Internacional, pelo menos 1.300 pessoas foram mortas e 10.000 foram presas pelo regime militar no poder na sequência do golpe de Estado.