Juiz confirma que foi abordado por aliado de Bolsonaro para denunciar tentativa de golpe de Estado - TVI

Juiz confirma que foi abordado por aliado de Bolsonaro para denunciar tentativa de golpe de Estado

  • CNN Portugal
  • AM com Lusa - notícia atualizada às 13:39
  • 3 fev 2023, 12:31
Juiz Alexandre de Moraes (Associated Press)

Marcos do Val conversou com Alexandre de Moraes por três vezes, mas recusou entregar informação por escrito para que fossem tomadas deligências

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O presidente do Tribunal Superior Eleitoral brasileiro, Alexandre de Moraes, confirmou que teve uma conversa com um senador brasileiro que lhe comunicou uma tentativa de o afastar através de escutas.

"O senador [Marcos do Val] solicitou uma reunião comigo" e o "que ele me disse foi que o deputado Daniel Silveira", aliado do ex-presidente Bolsonaro, tinha tido a "ideia genial" de colocar escutas para "poder gravar conversas" alegadamente comprometedoras, disse Alexandre de Moraes, numa intervenção, por videoconferência, num colóquio em Lisboa, organizado pelo Lide Brasil.

"Eu conversei três vezes com esse senador" e os seus adversários queriam, "a partir dessa gravação, solicitar a minha retirada da presidência dos inquéritos", disse.

Em resposta a essa denúncia, Alexandre de Moraes disse esta sexta-feira que respondeu então ao senador se ele poderia entregar a informação por escrito para que fossem tomadas diligências, ao que Marcos do Val recusou. 

"O que não é oficial para mim não existe", disse Moraes, acrescentando que terminou então a reunião.

Juiz critica desespero da oposição: "Olhem o ridículo da tentativa de um golpe"

Perante os presentes, o juiz criticou o desespero dos opositores, que contestam os resultados eleitorais de outubro, que afastaram Bolsonaro do poder.

“Olhem o ridículo a que nós chegámos na tentativa de um golpe no Brasil", ironizou o magistrado, que preferiu destacar o papel das autoridades judiciais na identificação de quem promoveu o ataque aos edifícios-sede dos poderes executivo, legislativo e judiciário na capital, em 8 de janeiro.

Além dos milhares de inquéritos, há já “apuramentos adiantadíssimos em relação aos grandes financiadores" daquilo que classificou de tentativa de golpe, procurando retirar Lula da Silva da presidência brasileira. 

"Lamentavelmente temos uma parte da elite que 'namoriscou' com o golpe durante quatro anos e no ano passado financiou esse golpe", afirmou, salientando que a isso se somaram "autoridades públicas que, cobardemente, foram coniventes com a tentativa de golpe". 

A "justiça brasileira aprendeu também a atuar de forma rápida e eficaz" contra "os populistas que querem destruir a democracia", disse, fazendo uma comparação com a situação nos EUA em que o processo está mais atrasado, dois anos depois do ataque ao Capitólio.

"As pessoas têm todo o direito de criticar as decisões do Supremo Tribunal Federal, mas não têm o direito de agredir" ou "ameaçar", avisou. "Esses vândalos, esses golpistas, passaram a confundir a liberdade de expressão com a liberdade de agressão." 

​​Senador diz que Bolsonaro o tentou coagir a participar num golpe

Na quinta-feira, o senador brasileiro Marcos do Val disse que o ex-presidente Jair Bolsonaro tentou coagi-lo a participar num golpe para permanecer no poder.

“Eu ficava p*** quando me chamavam de bolsonarista e vocês esperem, eu vou soltar uma bomba aqui para vocês: sexta-feira, vai sair na Veja a tentativa do Bolsonaro de me coagir para que eu pudesse dar um golpe de Estado junto com ele. É lógico que eu denunciei. Lógico que eu denunciei”, afirmou o senador numa transmissão ao vivo em que discutia com membros do Movimento Brasil Livre (MBL), citada pela CNN Brasil.

O MBL é um grupo que defende temas da extrema-direita e que atuou fortemente para a destituição da ex-presidente Dilma Rousseff. O grupo é composto por parlamentares e influenciadores que tentam posicionar-se como expoentes da direita contra o Partido dos Trabalhadores (PT) e o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva.

Segundo a revista brasileira Veja, um conjunto de mensagens a que teve acesso mostrou que 21 dias antes de terminar o seu governo o ex-presidente Jair Bolsonaro terá elaborado um plano com o apoio de um grupo restrito de aliados para tentar reverter a sua derrota eleitoral.

A revista informou que o plano se baseava no aliciamento de alguém de confiança para se aproximar do juiz do Supremo Tribunal Federal (STF) e Presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) Alexandre de Moraes e gravar as conversas do magistrado com o intuito de captar algo comprometedor que pudesse ser usado como argumento para prendê-lo e invalidar a eleição.

A publicação acrescentou que a gravação, caso fosse obtida, seria usada para desencadear uma série de medidas que atirariam o país numa confusão institucional sem precedentes e possibilitaria uma intervenção de Bolsonaro para se manter no poder.

Além do senador Marcos do Val, o ex-deputado bolsonarista Daniel Silveira, preso na manhã de quinta-feira por desobedecer a ordens judiciais, também terá tido conhecimento do plano.

A revista informou que Silveira foi quem procurou o senador e lhe contou o plano para tentar anular as eleições e também marcou um encontro secreto dos dois com Bolsonaro no Palácio da Alvorada.

Segundo a reportagem, Marcos do Val quis saber como o plano seria colocado em prática e Bolsonaro ter-lhe-ia dito que já tinha acertado com o Gabinete de Segurança Institucional (GSI), órgão responsável pela segurança do presidente, que daria o suporte técnico à operação de gravação fornecendo os equipamentos de espionagem necessários. 

O senador foi escolhido porque era forte aliado de Bolsonaro e conhecia o juiz do STF há mais de uma década, mas afirmou que se assustou com o plano e contou tudo o que lhe fora proposto a Moraes depois do alegado encontro com Bolsonaro.

Em depoimento à polícia, senador diz que Bolsonaro não o tentou coagir

 

Num depoimento na noite de quinta-feira na Polícia Federal, o senador disse que o ex-presidente "em nenhum momento se opôs ao plano golpista" que o ex-deputado Daniel Silveira lhe propôs numa reunião em dezembro, na véspera da posse do atual presidente, Luiz Inácio Lula da Silva.

O senador reafirmou aos polícias que naquela reunião no Palácio da Alvorada se falava em gravar sem autorização uma conversa comprometedora do juiz Alexandre de Moraes, mas desta vez, diferente do que disse inicialmente nas redes sociais e à revista Veja, declarou que Bolsonaro não tentou coagi-lo, embora estivesse com ele a ouvir um aliado propor um ato ilegal.

“Durante toda a conversa, o ex-presidente permaneceu calado, a sensação era de que o ex-presidente não sabia de nada e que o Daniel Silveira procurou obter o consentimento tanto do declarante quanto do presidente; que em nenhum momento negou o plano ou foi contrário a ele, calando-se", disse o senador no depoimento à polícia.

Marcos do Val também contou que em determinado momento da reunião secreta o ex-parlamentar Daniel Silveira perguntou-lhe se poderia cumprir "uma missão muito importante", que consistia em gravar ilegalmente o juiz Alexandre de Moraes em algum tipo de conversa que, de certa forma orientada, pudesse dar a entender que o magistrado estava a violar a Constituição.

O senador acrescentou que houve um momento, o único da conversa em que Bolsonaro falou, “quando a testemunha disse que precisaria de alguns dias para dar uma resposta” e o ex-presidente brasileiro disse que iria esperar.

Dias depois dessa reunião, o senador disse ter enviado mensagem a Silveira confirmando que não participaria no referido plano e logo em seguida conversou pessoalmente com Moraes para o informar sobre o conteúdo da reunião, da qual já sabia antecipadamente graças ao aviso prévio do senador.

O objetivo do plano, segundo o relato de Marcos do Val, era contestar os resultados eleitorais e impedir a posse do Presidente Lula da Silva.

 As declarações perante a Polícia confirmam o que já tinha dito anteriormente à imprensa e nas redes sociais e entregou o seu telemóvel para colocar à disposição das autoridades mais conversas sobre este assunto.

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