Objeto de madeira com dois mil anos e 16 centímetros sugere que romanos usavam brinquedos sexuais - TVI

Objeto de madeira com dois mil anos e 16 centímetros sugere que romanos usavam brinquedos sexuais

  • CNN
  • Amarachi Orie
  • 25 fev 2023, 12:00
O artefacto foi descoberto no forte romano de Vindolanda, em Inglaterra. Vindolanda Trust

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Um objeto de madeira com quase dois mil anos, com a forma de um pénis, poderá ter sido utilizado como instrumento sexual pelos romanos na Grã-Bretanha, de acordo com um novo estudo.

O artefacto foi encontrado em 1992, numa vala no forte romano de Vindolanda, perto da Muralha de Adriano, que em tempos marcou a fronteira noroeste do Império Romano, no norte de Inglaterra. Segundo o estudo publicado na revista Antiquity, inicialmente pensou-se que era um objeto de costura, usado para remendar buracos. 

De acordo com um comunicado de imprensa, a confusão deveu-se ao facto de o objeto ter sido encontrado juntamente com dezenas de sapatos e acessórios de vestuário, e outras pequenas ferramentas e produtos de artesania.

Contudo, investigadores voltaram a estudar o artefacto e, percebendo que era um falo de madeira, delinearam algumas das suas funções mais prováveis. 

Pistas fálicas na arte e literatura romanas 

Os investigadores escreveram que o objeto esculpido, com 16 centímetros de comprimento, poderá ter sido utilizado como instrumento sexual, não necessariamente para penetração, mas, mais provavelmente, para estimulação do clítoris. Se o achado arqueológico é, de facto, um brinquedo sexual, é o único exemplo conhecido de um falo de madeira "não miniaturizado" da época romana. 

"Pode muito bem ser um objeto sexual e, se for o caso, é o primeiro exemplo que temos do mundo romano", disse à CNN um dos autores do estudo, Rob Collins, professor de arqueologia na Universidade de Newcastle, no Reino Unido. 

"Não deveria ser uma surpresa. Através da arte e da literatura daquele tempo sabemos que os romanos usavam dildos, que os dildos existiam. Só que ainda não tínhamos encontrado nenhum exemplo arqueológico." 

O artefacto tem 16 centímetros de comprimento. Vindolanda Trust

Uma das razões pelas quais tais objetos não são comuns em achados arqueológicos, explica o estudo, é porque os dildos seriam sobretudo feitos com materiais orgânicos e, portanto, não sobreviveriam. 

O facto de o objeto ser um instrumento sexual não quer dizer que fosse utilizado exclusivamente como brinquedo sexual de prazer. 

É possível que tenha antes sido usado como um instrumento de tortura, por exemplo numa mulher ou num homem escravizados, pelo seu proprietário, para exercer o seu domínio e reforçar dinâmicas de poder. 

"Temos de estar conscientes de que seria mais fácil relacionar um objeto tão frívolo com a  gratificação sexual, mas é preciso pensar que poderá ter sido um instrumento que servia para subjugar e perpetuar o poder de uma pessoa sobre outra”, afirmou Collins. 

Outras utilizações possíveis 

O estudo refere que é comum encontrar pequenos objetos fálicos que se sabe serem usados como pendentes para fios, porque se achava que afastavam o mal e davam sorte. 

Notava-se que este objeto, esculpido em freixo, com uma base larga e uma ponta mais estreita, tinha um maior desgaste nas extremidades do que no meio, sugerindo que essas áreas - mais lisas, provavelmente devido aos óleos da pele e maior manuseamento - tinham tido maior contacto. 

O que quer dizer que o objeto também podia ter estado encaixado numa estátua ou noutra estrutura, para que, quando as pessoas passassem por lá, pudessem tocar no objeto fálico para lhes dar sorte e protegê-las de infortúnios. De acordo com o comunicado de imprensa, este era um ritual comum por todo o Império Romano. 

No entanto, comparando com outros objetos fálicos de madeira que tinham a mesma função no Antigo Egipto, verificou-se que faltavam algumas características que seriam de esperar de um objeto que é montado numa estrutura.

Outra utilização que os investigadores contemplaram foi a de que o objeto servisse de pilão, para moer ou misturar ingredientes para cozinhar, ou para fazer cosméticos, pomadas ou medicamentos. 

Um pilão em forma de falo podia acrescentar, simbolicamente, proteção ou, até, potência ao que quer que estivesse a ser preparado, visto que os romanos acreditavam que era precisamente o ato de moer que ativava a magia dos produtos. 

É ainda possível que o objeto tenha tido múltiplos propósitos, ou que a sua função tenha mudado ao longo do tempo. Ou seja, explicou Collins, o objeto pode ter começado por ser um pilão, por exemplo, e só mais tarde ter sido usado como objeto sexual. 

Collins espera que este estudo incentive os arqueólogos a reavaliarem objetos que já estão em coleções de museus e que ainda não tenham sido identificados como falos. Encontrar outros objetos similares ajudaria os investigadores a compreender melhor a sua função. 

"É possível que este objeto seja único, no sentido em que, para já, não se conhece outro que tenha sobrevivido daquele tempo”, acrescentou Barbara Birley, curadora do Vindolanda Trust, no comunicado. “Mas é pouco provável que não se utilizassem outros falos de madeira ao longo daquela fronteira e mesmo em toda a Grã-Bretanha romana.”

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