A ONU apelou no domingo para que sejam garantidas "rotas seguras e legais" no Mar Mediterrâneo, na sequência de um naufrágio que matou pelo menos 59 migrantes ao largo da costa da Calábria, em Itália.
"Outro horrível naufrágio ceifou a vida de dezenas de pessoas, incluindo crianças, desta vez na costa de Itália. Repito: todos aqueles que procuram uma vida melhor merecem segurança e dignidade", disse o secretário-geral das Nações Unidas, sobre o naufrágio ocorrido na madrugada de domingo.
"Precisamos de rotas seguras e legais para migrantes e refugiados", acrescentou António Guterres.
Yet another horrific shipwreck has claimed the lives of dozens of people, including children - this time off the coast of Italy.
— António Guterres (@antonioguterres) February 26, 2023
I say once again: Every person searching for a better life deserves safety & dignity. We need safe, legal routes for migrants & refugees.
O Alto Comissário da ONU para os Refugiados, Filippo Grandi, mostrou-se chocado com o sucedido e indicou que "é hora de os Estados pararem de discutir e chegarem a um acordo sobre medidas justas, efetivas e partilhadas para evitar mais tragédias".
Another terrible shipwreck in the Mediterranean off the Italian coast. Dozens of people have died, many children.
We mourn them and stand in solidarity with the survivors.
Time for States to stop arguing and to agree on just, effective, shared measures to avoid more tragedies.
— Filippo Grandi (@FilippoGrandi) February 26, 2023
Já a Agência das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) e a Organização Internacional para as Migrações (OIM), liderada pelo português António Vitorino, reiteraram que os mecanismos de resgate da União Europeia são necessários. Os estados-membros devem "aumentar os recursos e as capacidades para cumprirem eficazmente as suas responsabilidades", referiram.
Uma ideia sublinhada em comunicado pela representante da ACNUR para Itália, Santa Sé e São Marino, que notou que, "num contexto histórico caracterizado por pessoas que fogem de conflitos e perseguições, é mais necessário do que nunca fortalecer a capacidade de resgate, que ainda é insuficiente, para evitar tragédias como esta".
"É inaceitável testemunhar tais horrores, com famílias e crianças confinadas a navios arruinados e não navegáveis. Esta tragédia deve-nos levar a agir e a agir de imediato", afirmou Chiara Cardoletti.
Pelo menos 59 pessoas morreram quando um barco com migrantes se afundou perto da cidade italiana de Crotone, de acordo com o último balanço feito por um autarca daquela localidade na Calábria, no sul de Itália.
Entre as vítimas encontram-se muitas crianças, incluindo um recém-nascido, e mulheres, segundo relatos dos socorristas.
A primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, expressou, em comunicado, “profundo pesar” pela tragédia e disse que era “criminoso colocar um barco de 20 metros com 200 pessoas a bordo e uma previsão de mau tempo” no mar.
A incerteza quanto ao número de vítimas deve-se a diferentes relatos dos sobreviventes quanto às pessoas que viajavam no barco que naufragou.
O número de passageiros adiantado por sobreviventes varia entre 150 e 250, disseram elementos das equipas de socorro, admitindo haver dificuldades de comunicação com os migrantes por causa das diferenças linguísticas.
A imprensa italiana noticiou que os migrantes são do Iraque, Irão, Síria e Afeganistão, depois de inicialmente também ter sido referida a presença de paquistaneses.
Segundo a guarda costeira, o barco partiu-se nas rochas a poucos metros da costa, numa altura em que o mar estava muito agitado.
As imagens da polícia italiana mostravam destroços de madeira espalhados ao longo de uma centena de metros de praia, onde muitos socorristas e sobreviventes estavam à espera de serem transferidos para um centro de receção.
O naufrágio ocorreu poucos dias depois de o parlamento italiano ter aprovado novas regras controversas sobre o resgate de migrantes, formuladas pelo executivo dominado pela extrema-direita.
Meloni, líder do partido de extrema-direita Fratelli d'Italia, assumiu a chefia de um governo de coligação em outubro de 2022, após prometer reduzir o número de migrantes que chegavam a Itália.
A nova lei obriga os navios humanitários a efetuar apenas um salvamento de cada vez, o que, segundo os críticos, aumenta o risco de morte no Mediterrâneo central, que é considerado a travessia mais perigosa do mundo para os migrantes.
A localização geográfica da Itália torna-a um destino privilegiado para os requerentes de asilo que se deslocam do Norte de África para a Europa e Roma há muito que se queixa do número de chegadas no seu território.
Em reação à tragédia, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e a presidente do Parlamento Europeu, Roberta Metsola, pediram aos Estados-membros que acelerem um acordo sobre política migratória.
Segundo o Ministério do Interior, quase 14 mil migrantes desembarcaram em Itália desde o início do ano, contra cerca de 5.200 durante o mesmo período do ano passado e 4.200 em 2021.